Subsídios
Teológicos e Bibliológicos para Estudo sobre:
Perseverando na Fé - 17.12.17
Texto Bíblico: 2 Tm 4.6-8
Por: Pr. João Barbosa
O Novo Testamento, ao contrário do Antigo Testamento, está repleto de
linguagem de fé no sentido de “crer” em vez de perseverança ou fidelidade. De
acordo com os evangelhos, essa linguagem se originou no próprio ministério e
ensino de Jesus.
Às vezes, Jesus dizia
àqueles que o clamavam a ele: “A sua fé o curou” literalmente. “O salvou” (Mt
9.22.29; Mc 10.52; Lc 8.48; 18.42). Na maioria dessas situações a fidelidade do
suplicante não estava em jogo. Essa ênfase foi mantida conforme Atos dos Apóstolos,
na pregação inicial da igreja (At 9.42; 10.43; 16.31; 20.21).
O apóstolo Paulo, acima de
tudo, procurou estabelecer uma igreja composta de judeus e gentios baseado num
evangelho de simples confiança e dependência da fiel e misericordiosa obra de
Deus em Cristo (Rm 4.5; 10.10; Gl 2.16; Ef 2.8,9).
A “fé” como única resposta
salvadora, ou justificadora, à boa nova sobre Cristo é o testemunho geral
incontestável do NT. No entanto, uma doutrina sobre “fé somente” deve ser
explicada e praticada à luz do relato mais geral da fidelidade, um relato que
alcança seu climax em Jesus, o Messias fiel.
Na verdade, a ideia de “fé
somente”, e mesmo o uso que Paulo faz do AT a serviço dessa ideia, só faz
sentido se a fé é o produto desse climax. É por isso que no NT há um
relacionamento muito próximo e complicado entre “fé (pistis)” e Jesus Cristo.
Seja como for que se
compreenda a expressão paulina “fé em Cristo” (e equivalente: (Rm 3.22,26; Gl
2.16.20; Fp 3.9; Ef 3.12), é claro que o NT apresenta Jesus mais de que o
objeto da fé. Ele é a própria encarnação ou personificação da fé e fidelidade e
seguranca do crente (Gl 3.23-25; 1Tm 1.14; 2Tm 1.13; Ap 1.5; 14.12; 19.11).
Como tal, Cristo é a condição
necessária e suficiente da fé cristã (At 3.16; Hb 12.2; 2Pe 1.1). Deus nos
chama para além de uma dedicação à nossa própria fé ou à nossa própria redenção
individual.
A fé envolve ter “os olhos
fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé” (Hb 12.2). Dentro da estrutura do relacionamento, com
todas as dimensões pessoais e coletivas, o Espírito do Messias nutre a resposta
inicial de fé à mensagem do evangelho para uma vida contínua de louvor e alegre
obediência a Deus (Rm 1.5; 16.26) e serviço ao próximo em amor (Gl 5.6,13,14;
6.1,2).
Quando a fé cristã amadurece
dessa maneira, a história de fé finalmente se completa, tendo procedido da
fidelidade de Deus para a fidelidade do povo de Deus.
O conceito de “apostasia”
representa no discurso teológico o repúdio aberto e final da obediência a Deus
e em seu filho Jesus Cristo. O estudo do tema se justifica pela linguagem e
lógica dos autores bíblicos e também pela vida da igreja e o interesse
pastorial.
John Owen, escrevendo de uma
perspectiva atemporária do pensamento puritano, define a escência da apostasia
como “rejeição total de todos os princípios e doutrinas constituintes do
cristianismo”. Isso envolve um “abandono
voluntário e deliberado do evangelho, da fé, das normas e da obediência”.
Geralmente, se faz uma
distinção entre apostasia e desvio; uma recaída menos radical da integridade
cristã da pessoa, pois o desvio não envolve um “abandono deliberado”. A
linguagem bíblica evocada pela expressão “apostasia” é variada e sugestiva.
Os verbos “deixar” (Dt 31.16),
“apartar-se de seguir a Deus” (1Re 9.6),
“vaguear” (Jr 14.10), “revoltar-se contra Deus” (Ez 2.3), “dar as costas a Deus” (Ez 23.35), “cometer
transgressão” (Dn 9.7), “prostituir-se”
(Os 1.2), “escandalizar-se” (Mt 24.10),
“negligenciar” (Hb 2.3),
“retroceder” (Hb 10.39) e “sair” (1Jo 2.19), todas estas ocorrências
acontecem em um contexto relacionado com o declínio espiritual tão notório a
ponto de ser considerado apostasia.
Apostasia
no NT – Embora a
igreja cristã tenha recebido o derramamento do Espírito Santo (At 2.14-21) e
herdado melhores condições de vida e adoração do que Israel desfrutava no AT, a
apostasia compõe boa parte da preocupação dos apóstolos no NT.
Na verdade, Jesus previu que a
presente e perene demora para a chegada do fim, seria caracterizada por tamanha
tribulação a ponto de alguns “se escandalizarem” (Mt 24.10).
Qualquer consideração sobre
apostasia no ensino do NT deve iniciar com a convicção de que Jesus Cristo
ocupa a posição final nos propósitos de Deus para a redenção (Hb 4.1-4).
Como consumação da revelação
do AT Jesus é a maior e última revelação de Deus. Com todas as veias da
história da redenção convergindo nele, é preciso ver com a maior seriedade o
repúdio calculado ao Jesus todo suficiente.
A carta aos Hebreus insiste
formalmente na impossibilidade da reversão da apostasia depois da exposição ao
poder do evangelho cristão (Hb 6.4-6; 12.16,17).
A persistência proporcional no
pecado depois de possuir o conhecimento da verdade, a ponto de alguém
retroceder na fé do filho de Deus, o expõe à “terrível expectativa de fogo” (Hb
10.26-31).
Não se exige fé perfeita. Os
filhos de Deus “não têm conhecimento e se desviam” (Hb 5.2), mas Jesus pode
ajudar seu povo quando passa por provação (Hb 2.18). Ele identifica-se com suas
fraquezas, tendo ele mesmo sido provado e, portanto, se tornando acessível (Hb
4.15,16).
Recusar suas fontes de
misericórdia e graça em tempo de necessidade poderia provocar uma condição de
apostasia, na qual se menospreza o filho de Deus (Hb 6.6).
Apostasia
e perseverança – Jesus
insistiu em que alguns que experimentaram o verdadeiro poder espiritual e os
chamavam de “Senhor” serão rejeitados como “malfeitores” (Mt 7.21-23; Hb
6.4-6), ele percebeu em alguns uma fé não convincente (Jo 2.23-25).
Ele pressupôs várias respostas
ao evangelho, algumas das quais, no princípio, promissoras, mas, no fim,
superficiais (Lc 8.11-15). É a perseverança do cristão até o final que confirma
uma busca à fé cristã e autêntica à experiência espirituasl (Cl 1.21-23; Hb
3.14; 6.11,12; 2Jo v.9).
O apóstolo João responde por
aqueles que se distanciam da identificação anterior com Cristo da seguinte
maneira: “eles sairam do nosso meio, mas na realidade não eram dos nossos,
pois, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; o fato de terem saído
mostra que nenhum deles era dos nossos” (1Jo 2.19).
Seguros
em Cristo – A segurança
da salvação é gerada na mente do crente na experiência de salvação, que é tão
marcante e revolucionária que gera essa certeza incontestável.
Além dessa experiência
espiritual e emocional que gera certeza, o crente também crê por fé que, uma
vez confessado a Cristo como seu Salvador, seu intelecto compreende, e o
Espírito Santo testemunha em sua consciência.
Pois, “o mesmo Espírito
testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus”, gerando nele a
certeza da salvação, que é como um testemunho interior a qual manifesta a
segurança da salvação, que é garantida por fé na graça de Jesus Cristo.
A segurança da salvação não é
oriunda de um pensamento positivo e nem por uma mera exressão de otimismo; é,
antes, uma persuassão divina causada pela atuação do Espírito Santo e que está
em sinergia com a fé do crente.
Todavia, pode haver uma auto-ilusão
quanto à certeza da salvação, originada pelo convencimento hipócrita de se
estar andando com Deus, ou mesmo alguém pode ser enganado por demônios por
estar constantemente na prática de pecados grosseiros e deliberados.
Nesse caso, a suposta certeza
da salvação deve ser comprovada por evidências externas de virtude moral e
espiritual (1Jo 2.3,6). Dessa forma, havendo testemunho interior do Espírito e
evidências externas pode-se acalmar o coração quanto à salvação. Alguns crentes
vivem com certo pavor de terem perdido ou de, no futuro, perderem a salvação.
Isso, entretanto, demonstra
que eles não entenderam corretamente o que é a segurança da salvação. Esses
crentes olham para dentro de si mesmos e tentam descobrir se estão salvos pelas
evidências emocionais, quando, na verdade, deve-se olhar para o que a palavra
de Deus diz (Rm 10.9,10).
Embora o crente corra o risco
de perder sua salvação por causa de suas atitudes (2Tm 4.7,8) a fidelidade de Cristo
e a certeza do cumprimento de suas promessas garante que esse mesmo crente será
guardado e conservado (Jd 1) irrepreensível até a sua vinda (1Ts 5.23,24).
Para ter a segurança da
salvação, o crente precisa confiar no poder de Deus que o livra de tropeçar e o
mantém irrepreensível (Jd v.24,25). Na oração sacerdotal, Jesus orou pelos
discípulos e por aqueles que se haviam de salvar, afirmando que ele mesmo cuidaria
deles:
“E dou-lhes a vida eterna, e nunca
hão de perecer, e ninguém as arrebatará de minhas mãos. Meu Pai, que mas deu, é
maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las das mãos de meu Pai (Jo
10.28,29).
A segurança em Cristo é
afirmada na mente do crente através da atuação do Espírito Santo em seu
interior e na sua consciência, como consequência da fé e do testemunho do
Espírito Santo em sua consciência.
Isso garante que se viva na
esperança e na certeza da confiança. Na graça e na misericórdia de Deus e que o
crente poderá partir desta vida sem qualquer medo ansioso, ou pavor terrível ou
temor da morte, pois encontrará o Cristo ressuscitado esperando-os nas mansões
celestiais.
Uma das melhores consequências
que alcançamos ao aceitarmos a Cristo é que podemos ter certeza da salvação (Sl
51.12; Is 12.3; 1Jo 5.13), pois agora não temos mais o peso da culpa e da
condenação e somos aceitos e amados por Deus e, assim, o efeito prático é que
se pode viver uma vida muito feliz e radiante
“Mas não vos alegreis porque
se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos, antes, por estar o vosso nome
escrito nos céus”. (Lc 10.20).
Consultas:
POMMERENING,
Claiton Ivan. A Obra da Salvação – Jesus Cristo é o Caminho a Verdade e a Vida.
CPAD RJaneiro 2017
ELWELL
Walter A. Enciclopédia Histórico-teológica da Igreja Cristã. Ed. Vida Nova.
SPaulo, 2009
GEISLER,
Norman. Eleitos mas livres. Editora Vida. São Paulo, 2016
FRANGIOTTI,
Roque. História das Heresias. Ed. Paulus. São Paulo, 1995.
ALEXANDER T. Dismond. Novo Dicionário de
Teologia Bíblica. Edit Vida SPaulo 2009
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