Subsídios Teológicos e Bibliológicos
para Estudo sobre:
Glorificados em Cristo - 24.12.17
Texto Bíblico: 1 Co 15.13-23
Por: Pr. João
Barbosa
A glorificação dos
salvos é o clímax e o ato final do processo de salvação. Além de ser o evento
mais sublime para os salvos, é também o lugar em que a doutrina da salvação e a
escatologia encontrar-se-ão.
Trata-se de um evento tão glorioso que afetará a própria criação, que
será renovada e redimensionada (Apo 21.5) para receber a Jerusalém celestial, a
futura habitação dos salvos remidos.
Isso acontecerá na segunda vinda de
Cristo, e os salvos experimentarão a transformação completa da corruptibilidade
humana e serão revestidos da glória de Deus.
Glorificação – Esta palavra refere-se
especialmente ao tempo em que, na ocasião da “parusia”, aqueles que morreram em
Cristo, bem como os crentes ainda vivos, receberão A ressurreição do corpo – uma
“redenção do nosso corpo” (Rm 8.23) final e total, preparatória e adequada para
o estado último cristão.
Como termo teológico, é sinônimo de imortalidade – quando se fala em
imortalidade como a glorificação que os crentes receberão, e não segundo um conceito
errôneo, como simplesmente a existência dos crentes e daqueles que permanecem
impenitentes até ao fim.
A glorificação, portanto, é somente para os crentes e consiste na
redenção do corpo. Naquela ocasião, “este corpo corruptível” revestir-se-á da
“incorruptibilidade”, e o “corpo mortal”, da “imortabilidade” (1Co 15.53).
Então a morte, o último inimigo do cristão (1Co 15.26) será tragada na vitória
(1Co 15.54).
Os que se mantiverem impenitentes até o fim serão ressuscitados, mas
esta é uma segunda ressurreição – “a segunda morte” (Ap 2.11). A Escritura não
se refere a esta segunda ressurreição nem como imortalidade nem como
glorificação.
Nossa glória especial parece consistir parcialmente da esperança à qual
nos apegamos: de que seremos glorificados. Paulo também parece ensinar que,
depois de os crentes terem sido glorificados, todo o mundo criado passará por
uma renovação fundamental:
“A ardente expectativa da criação
aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita a
vaidade... na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da
corrupção, para a liberdade da glória [ou glorificação] dos filhos de Deus” (Rm
8.19-21).
A abrangência da
salvação – Pode ser
demonstrada:
1. Por aquilo que
somos salvos – Isto inclui o pecado e a morte; a culpa e a alienação; a ignorância
da verdade; a escravidão aos hábitos e vícios; o medo dos demônios, da morte,
da vida, de Deus, do inferno: o desespero consigo mesmo; a alienação dos
outros; as pressões do mundo; uma vida sem sentido.
O próprio testemunho de Paulo é quase totalmente positivo: a salvação
lhe trouxe paz com Deus, acesso ao favor e à presença de Deus, a esperança de
reconquistar a glória que tinha sido reservada aos homens, a perseverança no
sofrimento, o caráter inabalável, uma mentalidade otimista, motivações
interiores provenientes do amor divino e do poder do Espírito, a experiência
contínua do Cristo ressurreto dentro da sua alma, e a sustentação pela alegria
em Deus (Rm 5.1-11).
A salvação também se estende à sociedade e visa concretizar o
reino de Deus; à natureza, encerrando a sua escravidão à futilidade (Rm
8.19,20); e ao universo, conseguindo a reconciliação final de um cosmos
fragmentado (Ef 1.10; Cl 1.20).
2. Pela observação
de que a salvação é – passada (Rm 8.24; Ef 2.5; 8; Tt 3.5-8), presente (1Co
1.18; 15.2; 2Co 2.15; 6.2; 1Pe 1.9; 3.21) e futura (Rm 5.9,10; 13.11;
1Co 5.5; Fp 1.5,6; 2.12; 1Ts 5.8; Hb 1.14; 9.28; 1Pe 2.2), ou seja: a salvação
inclui aquilo que é dado livre e definitivamente, pela graça de Deus (o perdão
– que numa epístola é chamado justificação, amizade; ou reconciliação,
expiação, filiação e novo nascimento);
aquilo que está sendo dado continuamente:
(a santificação – a crescente emancipação de todo o mal, o
crescente enriquecimento em todo o bem – o desfrutar da vida eterna, a
experiência do poder do Espírito – a liberdade e a maturidade cada vez
mais perfeita na conformidade com Cristo); e aquilo que ainda está para ser
alcançado (a redenção do corpo, a perfeita semelhança de Cristo e a glória final).
3 – Pelos seus
vários aspectos: religioso (a aceitação de Deus, o perdão, a reconciliação, a
filiação, o recebimento do Espírito, a imortalidade); emocional
(segurança total, a paz, a coragem, a esperança, a alegria); prático (a
oração, a direção, a disciplina, a dedicação, o serviço);
ético (nova dinâmica moral para novos alvos morais, a liberdade, a vitória); pessoal
(novos pensamentos, convicções, horizontes, motivos satisfações, auto
realização); social (um novo senso de comunhão com os cristãos, de
compaixão, para com todos, o impulso supremo de amar como Jesus ama).
A salvação no NT – Abordagens diferentes ressaltam quão rico é esse
conceito. Jesus pressupunha a universalidade do pecado e da necessidade humana
que tinha a sua origem na rebeldia (Mt 7.23; 13.41; 24.12 “iniquidade”;
21.28-29), provocando “doença” na alma (Mc 2.17), que jaz nas profundezas da
personalidade e que faz definhar de
dentro para fora (Mt 7.15,16; 12.35; 5.21,22,27,28; 15.19,20; 23.25), e que
deixa os homens em dívida com Deus pelos seus deveres não cumpridos (Mt 6.12;
18.23,24).
Ele, portanto, chamava todos ao arrependimento (Mc 1.15; Lc 5.32;
13.3,5; 15.10) – a uma mudança de atitude e estilo de vida que entronizasse a
Deus (Lc 8.2; 19.9; Mt 9.9) – conclamava as pessoas a orarem diariamente
pedindo o perdão, Ele mesmo o oferecia (Mc 2.5), e recomendava o arrependimento
humilde como a única base aceitável para a pessoa se aproximar de Deus ( Lc
18.9,10).
Na abertura e na amizade que Jesus demonstrava com os pecadores expressou-se
de maneira perfeita e acolhida amorosa de Deus. Nada era necessário para
conquistar de volta o favor de Deus.
A graça divina aguardava ansiosamente a volta do homem (Lc 15.11-24). A
única condição indispensável era a transformação do homem: que deixasse de ser
rebelde e tivesse confiança singela como de um menino, e disposição para
obedecer.
Uma vez demonstrado isso, seguia-se uma vida sob o governo de Deus,
descrita como festa, casamento, vinho, achar tesouros, alegria, paz, toda a
liberdade e o privilégio da filiação dentro da família divina no reino do Pai.
Pedro também conclamava ao arrependimento (At 2.38), e prometia o perdão
e o Espírito santo a quem invocasse o nome do Senhor. A pessoa era salva
especialmente dos pecados passados e isso era necessário por causa da
conformidade com uma geração perversa (At 2.23-40); sendo que o propósito da
salvação, sua herança e sua glória ainda estavam para ser reveladas (1Pe
1.3-5).
No pensamento de João, a pessoa é salva da morte e do julgamento. Ele
reformula o seu significado em termos de vida rica e eterna (36 vezes no
Evangelho, 13 vezes em 1João), de dom de Deus em e com Cristo,
começando com uma renovação total (“novo nascimento”); iluminada pela verdade
(“conhecimento”, “luz”); e experimentada como o amor (Jo 3.5-16); 5.24; 12.25;
1Jo 4.7-11; 5.11).
Paulo viu que seu próprio fracasso na tentativa de atingir a retidão
diante da lei refletia-se em todos os homens, devido ao poder (“domínio”)
esmagador do pecado, que levava consigo a morte.
A salvação, portanto, é em primeiro lugar a absolvição, a despeito da
justa condenação, com base na expiação do pecado realizada por Cristo (Rm
3.21,22); e em segundo lugar, a libertação mediante o poder invasivo do
Espírito da santidade, do Espírito do Cristo ressurreto.
A fé que aceita a morte de Cristo em nosso lugar e que concorda com ela,
também nos une a Ele de modo tão estreito que com Ele morremos para o pecado e
ressuscitamos para a nova vida (Rm 6.1,2).
Os resultados são a libertação do
poder do pecado (Rm 7.18; 8.2); a
exultação no poder do Espírito que habita na pessoa e a certeza da filiação Rm
8); a semelhança cada vez maior com Cristo. Pelo mesmo processo, a morte é
vencida e os crentes são preparados para a vida eterna (Rm 6.13, 22,23; 8.11).
A gloriosa
esperança da ressureição dos santos – Os salvos em Cristo tem uma esperança gloriosa de ressurreição para
estarem para sempre com Ele (1Ts 4.14; Is 26.19). Essa é uma das promessas
futuras do crente possíveis por causa da ressurreição do próprio Jesus.
Do mesmo modo que Ele ressuscitou, nós também ressuscitaremos. Ele
“transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso,
segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas” (Fp 3.21).
Nosso corpo, hoje sujeito a enfermidades e fraquezas, será revestido de
incorruptibilidade na ressurreição (1Co 15.54) e nunca mais haverá fatos que
levem à morte, pois a ressurreição será a vitória final sobre a morte (1Co
15.55).
Aqueles que foram salvos pelo sacrifício de Cristo serão levados para o
reino de Deus, que será um eterno desfrutar de alegrias, delícias e bem estar
na presença de todos os salvos de todos os tempos, e o mais importante:
estaremos para sempre com o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Cuja presença encherá a terra com sua glória e majestade conforme a
visão de João: “E a cidade não necessita de sol nem de lua, para que nela
resplandeçam porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua
lâmpada” (Ap 21.23).
A ressurreição será um estado de eterna satisfação em Deus, que
suplantará incomparavelmente qualquer aflição deste tempo presente (Rm 8.18). O
sofrimento será completamente extirpado como afirmou João: “E Deus limpará de
seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem
dor, porque já as primeiras coisas são passadas” (Ap 21.4).
O anseio da vida eterna concretizada na ressurreição dos mortos esteve
subjetivamente presente nos heróis da fé do AT, quando as Escrituras afirmam
que:
Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as promessas, mas,
vendo-as de longe, e crendo nelas, e abraçando-as, confessaram que eram
estrangeiros e peregrinos na terra.
Porque os que isso dizem claramente mostram que buscam uma pátria. E se,
na verdade, se lembrassem daquele de onde haviam saído, teriam oportunidade de
voltar.
Mas, agora, desejam uma melhor, isto é, a celestial. Pelo que também
Deus não se envergonha deles, de se chamar seu Deus, porque já lhes preparou
uma cidade (Hb 11.13-16).
A ressurreição de Jesus e a futura ressurreição dos salvos fazem com que
tiremos os olhos das circunstâncias muitas vezes difíceis e voltemos nossos
olhos para o além. Isso não pode significar a fuga de enfrentamentos que aqui
temos de passar.
Mas significa uma alegre esperança de que tudo passará, encorajando-nos
ainda mais para enfrentarmos as batalhas e tendo certeza da presença de Deus e
seu fortalecimento (Rm 8.11). “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os
mais miseráveis de todos os homens” (1Co 15.19).
A plena salvação
nos céus – Para compreender
a glorificação dos salvos ou sua plenitude nos céus, é preciso antes
compreender que a salvação desfrutada aqui na terra, embora potencialmente
completa, é também precária, na tensão entre a salvação já operada, o “aqui
agora”, e a salvação plena no futuro, o “ainda não” escatológico.
Dessa forma, todos os demais aspectos da salvação já experimentados até
agora alcançarão sua plenitude no “ainda não” escatológico.
Então, a justificação poderá ser comprovada, pois hoje é aceita por fé;
o amor de Deus será experimentado com todas as suas satisfações e gozos; a
regeneração, aqui relativa, será completa; a santificação, aqui vivida
limitadamente e sujeita ao pecado, será perfeita; a reconciliação com o Pai,
agora sujeita aos percalços da desconfiança e da incerteza, será uma doce
realidade; a adoção aqui vivida às vezes com afastamento do Pai, lá será desfrutada em sua paternidade infinita.
Paulo e Judas afirmam também a completa inculpabilidade e
irrepreensibilidade (Ef 1.4; Fp 1.9-11; 1Co 1.8; Jd v.24) na glorificação
futura. Isso acontecerá porque não haverá mais tentações pelo fato de o pecado
e o mal terem sido vencidos definitivamente.
Consultas:
POMMERENING,
Claiton Ivan. A Obra da Salvação – Jesus Cristo é o Caminho a Verdade e a Vida.
CPAD RJaneiro 2017
ELWELL
Walter A. Enciclopédia Histórico-teológica da Igreja Cristã. Ed. Vida Nova.
SPaulo, 2009
Dicionário
Global de Teologia. Edit. Hagnus. São Paulo 2017
GEISLER,
Norman. Eleitos mas livres. Editora Vida. São Paulo, 2016
ALEXANDER
T. Dismond. Novo Dicionário de Teologia Bíblica. Edit Vida SPaulo 2009
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