Subsídios
Teológicos e Bibliológicos para Estudo sobre:
Vivendo com a Mente de Cristo - 31.12.17
Texto Bíblico: 1 Co 2.12-16
Por: Pr. João Barbosa
Ter A mente de Cristo significa estar
menos focado em coisas e projetos naturais e mais naquilo que é do Reino de
Deus.
Significa compreender que não nascemos para ser o melhor profissional da área,
ou para ganhar muito dinheiro, ou para galgar posições sociais e políticas.
Tudo isso, no entanto, pode até acontecer
como consequência do que realmente significa a vontade do Pai.
As principais características da
mente de Cristo estão evidenciadas em Fp 2.5-8, bem como em 1Co 2.16. No
primeiro texto, refere-se ao seu esvaziamento da condição divina assumindo
todas as dimensões e características humanas, num gesto de extrema humildade,
submissão, obediência e sacrifício com o objetivo de concretizar a salvação
humana.
No segundo texto, Paulo tem em vista
as atitudes, as palavras e as ações tomadas por aqueles que vivem a lei do
amor, porque não agem nem reagem de maneira natural às circunstâncias da vida.
Mas em tudo realizam movimentos que
impressionam pela singularidade da manifestação de Deus através desses gestos,
pois não levam em conta o egoísmo e a individualismo, tão comuns na sociedade,
mas, sim, o altruísmo e a benevolência.
Humildade: o sentimento de Cristo – Há um grande desafio quando se
explica o que é humildade, pois parte-se do princípio de quem fala sobre esse assunto
é humilde, mas nem sempre isso acontece.
Geralmente, fala-se do que se quer
ser ou alcançar, como é o caso aqui. A origem da palavra vem de humus, que significa solo, terra; aquele
que está equiparado a terra, pois provém dela.
Humano deriva-se da palavra humus, significando que a principal
característica humana é ser humilde, em contrapartida ao querer ser Deus.
Quando os seres humanos pretensamente
invadem essa dimensão, que não lhes pertence, incorrem no mesmo erro de Adão e
Eva influenciados por Lúcifer.
Isso é teologicamente chamado de hybris, quando o ser humano, ao invés de
ter sua centralidade em Deus e depender dEle, desloca-se para si mesmo, auto investindo-se
da prerrogativa divina.
Somente Cristo pode ser as duas
coisas ao mesmo tempo sem que isso aniquilasse a estrutura do seu ser.
Quando as pessoas assumem esse lugar,
elas automaticamente caminham para a autodestruição de seu ser, porque, sendo
humanos, é-lhes impossível serem Deus. Somente Ele, pode ser o todo centrado em
si mesmo.
A diferença é que não significa ser
orgulhoso ou vaidoso para Ele como seria para os seres humanos, pois Ele é o único
ser completo e perfeito. Portanto, deve centrar-se em si mesmo, pois não há
outro ser no qual Ele possa afirmar-se para ser. Ele é o todo e o tudo; Ele
pode tudo.
Amar a Deus sobre todas as coisas é
deixar que toda glória seja dEle. Quando Lúcifer quis ser alguém, ele não levou
em conta que havia outro alguém maior.
Portanto, a individuação do seu eu
levou-o à sua ruína. Por isso, o orgulho é considerado, em algumas teologias o
pecado dos pecados, pois dá origem a todos os demais pecados.
O problema do orgulho é que este
supervaloriza o eu em detrimento do outro, e ninguém consegue ser alguém, a não
ser que se deixe interagir com outros.
O orgulho é um pecado solitário
porque o orgulhoso sempre quererá ficar acima dos outros e sempre quererá olhar
para os outros de cima para baixo.
Ele não consegue olhar para cima, não
precisa de Deus, mesmo achando que está com Ele.
Nos relacionamentos, o orgulho
aniquila o outro e sempre exige do outro além do que ele pode dar. Por isso o
orgulho sempre é competidor e dificilmente consegue pedir perdão, pois ele
pensa que nunca erra.
Geralmente, por trás de uma virtude há
um orgulho velado por ser quem é.
Assim, a virtude pode tornar-se um vício por
alimentar o orgulho. Sendo assim, o orgulho pode atingir a qualquer um e
normalmente está mais presente do que se possa imaginar.
A Bíblia afirma que é a humildade que
precede a honra (Pv 15.33; 18.12); que é com os humildes que está a sabedoria
(Pv 11.2); Deus exalta o humilde e humilha o soberbo (Ez 21.26).
Os apóstolos aconselharam a serem
todos humildes uns para com os outros, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá
graça aos humildes (1Pe 5.5); e com humildade, cada um considere os outros superiores
a si mesmo (Fp 2.3).
Jesus tornou bem-aventurado o humilde
de espírito, porque dele é o Reino dos céus (Mt 5.3). A humildade é condição
primeira para que Deus possa realizar sua obra na vida do crente, conforme
Isaias afirmou:
“Em um alto e santo lugar habito e
também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos
abatidos e para vivificar o coração dos contritos” (Is 57.15).
Paulo afirmou que pode haver apenas
um motivo de orgulho: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz do
nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual o mundo está crucificado para mim e eu,
para o mundo” (Gl 6.14).
Entretanto, esse aparente orgulho de Paulo
nada mais é do que estar crucificado com Cristo, que é a única maneira de
vencer o orgulho, pois a cruz aponta para o que é humilhante e vil, para os
nossos pecados levados sobre Cristo, para o estado em que não pertencemos mais
a nós mesmos, mas unicamente a Cristo, onde o orgulho de fato é vencido.
“Já estou crucificado com Cristo; e
vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne
vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim”
(Gl 2.20).
Viver em humildade é saber valorizar
o outro sem perder a própria identidade. Assim, tem-se a possibilidade de
permanecer com o coração puro e altruísta.
A humildade revela bom senso, sempre
será bem vista, tem capacidade de gerar coisas novas e boas nos outros,
consegue persuadir mais facilmente e tem o poder de inspirar outros a seguir a
Cristo.
Serviços e cuidados: a mente de Cristo – As atitudes de
qualquer pessoa revelam seu estado mental; por mais que alguém tente disfarçar o
mal, em algum momento ele aparecerá.
Ter a mente de Cristo é desenvolver os
mesmos pensamentos e atitudes que Ele teve.
Não se trata apenas de uma aquiescência
mental ou desejo esporádico, mas de um estilo de vida, de uma reordenação dos
pensamentos, das vontades, dos desejos e das atitudes, no sentido de refletirem
a pessoa de Cristo (Jo 13.15).
Organizar a vida em torno desse
modelo de Cristo é desenvolver empatia e compaixão para com todos os que sofrem
e necessitam da misericórdia divina, mesmo para com os inimigos e opositores.
Essa atitude não é fácil, mas Jesus
agiu assim com aqueles que se levantaram contra Ele quando bradou na cruz: “Pai,
perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23.24). Jesus usou sua autoridade
para abençoar as pessoas, não para ser servido (Mt 20.28).
Sua autoridade era exsousia, no sentido de alargar e
ampliar as possibilidades humanas, e era exercida para beneficiar as pessoas, e
não para prevalecer, disputar ou subjuga-las.
Seu poder era exercido a favor das
pessoas, alargando suas possibilidades de ser e de atuar. Essa forma de poder e
autoridade é uma das mais usadas no NT e aparece 108 vezes.
Já o sentido do verbo kratós, como
poder e dominação exercidos pela força, no sentido físico ou por imposição
moral, nunca é atribuído a Jesus, e Ele argumenta contra o seu uso (Mc
10.41-43).
A chave hermenêutica para compreender
a mente de Cristo nos evangelhos é aprender a observar delicadamente as
atitudes, as palavras e milagres de Jesus como gestos de cura, perdão e
acolhimento e não somente sob a ótica de moralismos ou religiosidades; não que
isso não esteja presente porque também são necessárias.
No contexto em que Paulo defende que
devemos ter a mente de Cristo, ele afirma que “o homem natural não compreende
as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entende-las
porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem
tudo e de ninguém é discernido” (1Co 2.14,15).
Significa que, para ter a mente de
Cristo, é necessária essa hermenêutica do Espírito Santo, que abre os olhos às
realidades antes não percebidas.
Assim, Ele deseja ver as pessoas livres
de regras religiosas que tiram a vida (Mc 2.27). O coração deve estar livre de ídolos,
pois acabamos nos tornando exatamente como os ídolos que veneramos (Lc 12.34).
Obediência: a vontade do Pai – O ministério de Jesus foi pautado
pela obediência ao Pai.
Todas as suas ações eram uma realidade daquilo que Ele
ouvia o Pai falar (Jo 5.19); não que Jesus fosse um robô autômato, mas, sim, que
havia uma concordância com o Pai em tudo, pois Ele estava na terra em obediência
ao Pai.
Portanto para cumprir plenamente o
eterno propósito divino, Cristo sujeitou-se completamente em obediência.
Ele sabia que a vontade do Pai era
boa, agradável e perfeita (Rm 12.2), e isso lhe dava segurança e tranquilidade
para sujeitar-se inteiramente. Esse mesmo sentimento deve ocupar também a mente
e o coração dos discípulos de Cristo hoje.
A obediência de Jesus não se sujeitou
a estruturas humanas, políticas ou religiosas, mas estritamente ao Pai. Sempre
que havia conflitos entre a vontade do Pai e das estruturas, sua opção era
ouvir a vontade de Deus.
Por esse motivo, Ele desafiou as
autoridades políticas e religiosas com suas hipocrisias e preceitos mortos para
estabelecer um novo jeito de adorar ao Pai em espírito e em verdade (Jo
4.23,24), confrontando as estruturas pesadas e impossíveis de serem obedecidas.
Nossa obediência deve seguir essa
mesma lógica de Jesus quanto á obediência primeiramente a Deus Pai.
Entretanto, é preciso tomar cuidado e
deixar-se discernir pelo Espírito Santo para não confundir a vontade do Pai com
rebeldias e teimosias próprias de nossos corações, contra as estruturas com as
quais compartilhamos a vida.
A obediência ao Pai poderá até confrontar
as estruturas; porém, jamais o fará com rebeldias, amarguras, rancores ou
qualquer maldade humana. Ainda que sob ameaças de morte e riscos, a obediência
ao Pai sempre trará vida, como a de Cristo.
Nascemos para representar Cristo
nessa terra, para transmitir, através da mensagem do evangelho, que existe um
Deus além dessa vida que vale a pena aceitar e seguir, e que não há como representa-lo
se o que prevalece ainda é a carnalidade, os maus desejos e os sonhos e
projetos egoístas.
Ter a mente de Cristo significa deixar
que todas essas coisas, se for necessário, morram, para que os projetos e
sonhos dEle sejam instaurados como prioridade.
Fonte:
Extraído da Obra de:
POMMERENING, Claiton
Ivan. A Obra da Salvação – Jesus Cristo é o Caminho a Verdade e a Vida. CPAD
RJaneiro 2017