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sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Vivendo com a Mente de Cristo - 31.12.17

Subsídios Teológicos e Bibliológicos para Estudo sobre:
     Vivendo com a Mente de Cristo - 31.12.17
Texto Bíblico: 1 Co 2.12-16
Por: Pr. João Barbosa
                                         
Ter A mente de Cristo significa estar menos focado em coisas e projetos naturais e mais naquilo que é do Reino de Deus. 

Significa compreender que não nascemos para ser o melhor profissional da área, ou para ganhar muito dinheiro, ou para galgar posições sociais e políticas.

Tudo isso, no entanto, pode até acontecer como consequência do que realmente significa a vontade do Pai.

As principais características da mente de Cristo estão evidenciadas em Fp 2.5-8, bem como em 1Co 2.16. No primeiro texto, refere-se ao seu esvaziamento da condição divina assumindo todas as dimensões e características humanas, num gesto de extrema humildade, submissão, obediência e sacrifício com o objetivo de concretizar a salvação humana.

No segundo texto, Paulo tem em vista as atitudes, as palavras e as ações tomadas por aqueles que vivem a lei do amor, porque não agem nem reagem de maneira natural às circunstâncias da vida.

Mas em tudo realizam movimentos que impressionam pela singularidade da manifestação de Deus através desses gestos, pois não levam em conta o egoísmo e a individualismo, tão comuns na sociedade, mas, sim, o altruísmo e a benevolência.

Humildade: o sentimento de Cristo – Há um grande desafio quando se explica o que é humildade, pois parte-se do princípio de quem fala sobre esse assunto é humilde, mas nem sempre isso acontece.

Geralmente, fala-se do que se quer ser ou alcançar, como é o caso aqui. A origem da palavra vem de humus, que significa solo, terra; aquele que está equiparado a terra, pois provém dela.

Humano deriva-se da palavra humus, significando que a principal característica humana é ser humilde, em contrapartida ao querer ser Deus.

Quando os seres humanos pretensamente invadem essa dimensão, que não lhes pertence, incorrem no mesmo erro de Adão e Eva influenciados por Lúcifer.

Isso é teologicamente chamado de hybris, quando o ser humano, ao invés de ter sua centralidade em Deus e depender dEle, desloca-se para si mesmo, auto investindo-se da prerrogativa divina.

Somente Cristo pode ser as duas coisas ao mesmo tempo sem que isso aniquilasse a estrutura do seu ser.

Quando as pessoas assumem esse lugar, elas automaticamente caminham para a autodestruição de seu ser, porque, sendo humanos, é-lhes impossível serem Deus. Somente Ele, pode ser o todo centrado em si mesmo.

A diferença é que não significa ser orgulhoso ou vaidoso para Ele como seria para os seres humanos, pois Ele é o único ser completo e perfeito. Portanto, deve centrar-se em si mesmo, pois não há outro ser no qual Ele possa afirmar-se para ser. Ele é o todo e o tudo; Ele pode tudo.

Amar a Deus sobre todas as coisas é deixar que toda glória seja dEle. Quando Lúcifer quis ser alguém, ele não levou em conta que havia outro alguém maior.

Portanto, a individuação do seu eu levou-o à sua ruína. Por isso, o orgulho é considerado, em algumas teologias o pecado dos pecados, pois dá origem a todos os demais pecados.

O problema do orgulho é que este supervaloriza o eu em detrimento do outro, e ninguém consegue ser alguém, a não ser que se deixe interagir com outros.

O orgulho é um pecado solitário porque o orgulhoso sempre quererá ficar acima dos outros e sempre quererá olhar para os outros de cima para baixo.

Ele não consegue olhar para cima, não precisa de Deus, mesmo achando que está com Ele.

Nos relacionamentos, o orgulho aniquila o outro e sempre exige do outro além do que ele pode dar. Por isso o orgulho sempre é competidor e dificilmente consegue pedir perdão, pois ele pensa que nunca erra.

Geralmente, por trás de uma virtude há um orgulho velado por ser quem é.

Assim, a virtude pode tornar-se um vício por alimentar o orgulho. Sendo assim, o orgulho pode atingir a qualquer um e normalmente está mais presente do que se possa imaginar.

A Bíblia afirma que é a humildade que precede a honra (Pv 15.33; 18.12); que é com os humildes que está a sabedoria (Pv 11.2); Deus exalta o humilde e humilha o soberbo (Ez 21.26).

Os apóstolos aconselharam a serem todos humildes uns para com os outros, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes (1Pe 5.5); e com humildade, cada um considere os outros superiores a si mesmo (Fp 2.3).

Jesus tornou bem-aventurado o humilde de espírito, porque dele é o Reino dos céus (Mt 5.3). A humildade é condição primeira para que Deus possa realizar sua obra na vida do crente, conforme Isaias afirmou:

“Em um alto e santo lugar habito e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e para vivificar o coração dos contritos” (Is 57.15).

Paulo afirmou que pode haver apenas um motivo de orgulho: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz do nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual o mundo está crucificado para mim e eu, para o mundo” (Gl 6.14).

Entretanto, esse aparente orgulho de Paulo nada mais é do que estar crucificado com Cristo, que é a única maneira de vencer o orgulho, pois a cruz aponta para o que é humilhante e vil, para os nossos pecados levados sobre Cristo, para o estado em que não pertencemos mais a nós mesmos, mas unicamente a Cristo, onde o orgulho de fato é vencido.

“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2.20).

Viver em humildade é saber valorizar o outro sem perder a própria identidade. Assim, tem-se a possibilidade de permanecer com o coração puro e altruísta.

A humildade revela bom senso, sempre será bem vista, tem capacidade de gerar coisas novas e boas nos outros, consegue persuadir mais facilmente e tem o poder de inspirar outros a seguir a Cristo.

Serviços e cuidados: a mente de Cristo – As atitudes de qualquer pessoa revelam seu estado mental; por mais que alguém tente disfarçar o mal, em algum momento ele aparecerá.

Ter a mente de Cristo é desenvolver os mesmos pensamentos e atitudes que Ele teve.

Não se trata apenas de uma aquiescência mental ou desejo esporádico, mas de um estilo de vida, de uma reordenação dos pensamentos, das vontades, dos desejos e das atitudes, no sentido de refletirem a pessoa de Cristo (Jo 13.15).

Organizar a vida em torno desse modelo de Cristo é desenvolver empatia e compaixão para com todos os que sofrem e necessitam da misericórdia divina, mesmo para com os inimigos e opositores.

Essa atitude não é fácil, mas Jesus agiu assim com aqueles que se levantaram contra Ele quando bradou na cruz: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23.24). Jesus usou sua autoridade para abençoar as pessoas, não para ser servido (Mt 20.28).

Sua autoridade era exsousia, no sentido de alargar e ampliar as possibilidades humanas, e era exercida para beneficiar as pessoas, e não para prevalecer, disputar ou subjuga-las.

Seu poder era exercido a favor das pessoas, alargando suas possibilidades de ser e de atuar. Essa forma de poder e autoridade é uma das mais usadas no NT e aparece 108 vezes.

Já o sentido do verbo kratós, como poder e dominação exercidos pela força, no sentido físico ou por imposição moral, nunca é atribuído a Jesus, e Ele argumenta contra o seu uso (Mc 10.41-43).

A chave hermenêutica para compreender a mente de Cristo nos evangelhos é aprender a observar delicadamente as atitudes, as palavras e milagres de Jesus como gestos de cura, perdão e acolhimento e não somente sob a ótica de moralismos ou religiosidades; não que isso não esteja presente porque também são necessárias.

No contexto em que Paulo defende que devemos ter a mente de Cristo, ele afirma que “o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entende-las porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo e de ninguém é discernido” (1Co 2.14,15).

Significa que, para ter a mente de Cristo, é necessária essa hermenêutica do Espírito Santo, que abre os olhos às realidades antes não percebidas.

Assim, Ele deseja ver as pessoas livres de regras religiosas que tiram a vida (Mc 2.27). O coração deve estar livre de ídolos, pois acabamos nos tornando exatamente como os ídolos que veneramos (Lc 12.34).

Obediência: a vontade do Pai – O ministério de Jesus foi pautado pela obediência ao Pai. 
Todas as suas ações eram uma realidade daquilo que Ele ouvia o Pai falar (Jo 5.19); não que Jesus fosse um robô autômato, mas, sim, que havia uma concordância com o Pai em tudo, pois Ele estava na terra em obediência ao Pai.

Portanto para cumprir plenamente o eterno propósito divino, Cristo sujeitou-se completamente em obediência.

Ele sabia que a vontade do Pai era boa, agradável e perfeita (Rm 12.2), e isso lhe dava segurança e tranquilidade para sujeitar-se inteiramente. Esse mesmo sentimento deve ocupar também a mente e o coração dos discípulos de Cristo hoje.

A obediência de Jesus não se sujeitou a estruturas humanas, políticas ou religiosas, mas estritamente ao Pai. Sempre que havia conflitos entre a vontade do Pai e das estruturas, sua opção era ouvir a vontade de Deus.

Por esse motivo, Ele desafiou as autoridades políticas e religiosas com suas hipocrisias e preceitos mortos para estabelecer um novo jeito de adorar ao Pai em espírito e em verdade (Jo 4.23,24), confrontando as estruturas pesadas e impossíveis de serem obedecidas.

Nossa obediência deve seguir essa mesma lógica de Jesus quanto á obediência primeiramente a Deus Pai.

Entretanto, é preciso tomar cuidado e deixar-se discernir pelo Espírito Santo para não confundir a vontade do Pai com rebeldias e teimosias próprias de nossos corações, contra as estruturas com as quais compartilhamos a vida.

A obediência ao Pai poderá até confrontar as estruturas; porém, jamais o fará com rebeldias, amarguras, rancores ou qualquer maldade humana. Ainda que sob ameaças de morte e riscos, a obediência ao Pai sempre trará vida, como a de Cristo.

Nascemos para representar Cristo nessa terra, para transmitir, através da mensagem do evangelho, que existe um Deus além dessa vida que vale a pena aceitar e seguir, e que não há como representa-lo se o que prevalece ainda é a carnalidade, os maus desejos e os sonhos e projetos egoístas.

Ter a mente de Cristo significa deixar que todas essas coisas, se for necessário, morram, para que os projetos e sonhos dEle sejam instaurados como prioridade.

Fonte:
Extraído da Obra de:

POMMERENING, Claiton Ivan. A Obra da Salvação – Jesus Cristo é o Caminho a Verdade e a Vida. CPAD RJaneiro 2017

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Glorificados em Cristo - 24.12.17

Subsídios Teológicos e Bibliológicos para Estudo sobre:
     Glorificados em Cristo - 24.12.17
Texto Bíblico: 1 Co 15.13-23
Por: Pr. João Barbosa
                                         
A glorificação dos salvos é o clímax e o ato final do processo de salvação. Além de ser o evento mais sublime para os salvos, é também o lugar em que a doutrina da salvação e a escatologia encontrar-se-ão.

Trata-se de um evento tão glorioso que afetará a própria criação, que será renovada e redimensionada (Apo 21.5) para receber a Jerusalém celestial, a futura habitação dos salvos remidos.

Isso acontecerá na segunda vinda de Cristo, e os salvos experimentarão a transformação completa da corruptibilidade humana e serão revestidos da glória de Deus.

Glorificação – Esta palavra refere-se especialmente ao tempo em que, na ocasião da “parusia”, aqueles que morreram em Cristo, bem como os crentes ainda vivos, receberão A ressurreição do corpo – uma “redenção do nosso corpo” (Rm 8.23) final e total, preparatória e adequada para o estado último cristão.

Como termo teológico, é sinônimo de imortalidade – quando se fala em imortalidade como a glorificação que os crentes receberão, e não segundo um conceito errôneo, como simplesmente a existência dos crentes e daqueles que permanecem impenitentes até ao fim.

A glorificação, portanto, é somente para os crentes e consiste na redenção do corpo. Naquela ocasião, “este corpo corruptível” revestir-se-á da “incorruptibilidade”, e o “corpo mortal”, da “imortabilidade” (1Co 15.53). Então a morte, o último inimigo do cristão (1Co 15.26) será tragada na vitória (1Co 15.54).

Os que se mantiverem impenitentes até o fim serão ressuscitados, mas esta é uma segunda ressurreição – “a segunda morte” (Ap 2.11). A Escritura não se refere a esta segunda ressurreição nem como imortalidade nem como glorificação.

Nossa glória especial parece consistir parcialmente da esperança à qual nos apegamos: de que seremos glorificados. Paulo também parece ensinar que, depois de os crentes terem sido glorificados, todo o mundo criado passará por uma renovação fundamental:

“A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita a vaidade... na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória [ou glorificação] dos filhos de Deus” (Rm 8.19-21).


A abrangência da salvação – Pode ser demonstrada:

1. Por aquilo que somos salvos – Isto inclui o pecado e a morte; a culpa e a alienação; a ignorância da verdade; a escravidão aos hábitos e vícios; o medo dos demônios, da morte, da vida, de Deus, do inferno: o desespero consigo mesmo; a alienação dos outros; as pressões do mundo; uma vida sem sentido.

O próprio testemunho de Paulo é quase totalmente positivo: a salvação lhe trouxe paz com Deus, acesso ao favor e à presença de Deus, a esperança de reconquistar a glória que tinha sido reservada aos homens, a perseverança no sofrimento, o caráter inabalável, uma mentalidade otimista, motivações interiores provenientes do amor divino e do poder do Espírito, a experiência contínua do Cristo ressurreto dentro da sua alma, e a sustentação pela alegria em Deus (Rm 5.1-11).

A salvação também se estende à sociedade e visa concretizar o reino de Deus; à natureza, encerrando a sua escravidão à futilidade (Rm 8.19,20); e ao universo, conseguindo a reconciliação final de um cosmos fragmentado (Ef 1.10; Cl 1.20).

2. Pela observação de que a salvação épassada (Rm 8.24; Ef 2.5; 8; Tt 3.5-8), presente (1Co 1.18; 15.2; 2Co 2.15; 6.2; 1Pe 1.9; 3.21) e futura (Rm 5.9,10; 13.11; 1Co 5.5; Fp 1.5,6; 2.12; 1Ts 5.8; Hb 1.14; 9.28; 1Pe 2.2), ou seja: a salvação inclui aquilo que é dado livre e definitivamente, pela graça de Deus (o perdão – que numa epístola é chamado justificação, amizade; ou reconciliação, expiação, filiação e novo nascimento);  aquilo que está sendo dado continuamente:

(a santificação – a crescente emancipação de todo o mal, o crescente enriquecimento em todo o bem – o desfrutar da vida eterna, a experiência do poder do Espírito – a liberdade e a maturidade cada vez mais perfeita na conformidade com Cristo); e aquilo que ainda está para ser alcançado (a redenção do corpo, a perfeita semelhança de Cristo e a glória final).

3 – Pelos seus vários aspectos: religioso (a aceitação de Deus, o perdão, a reconciliação, a filiação, o recebimento do Espírito, a imortalidade); emocional (segurança total, a paz, a coragem, a esperança, a alegria); prático (a oração, a direção, a disciplina, a dedicação, o serviço);

ético (nova dinâmica moral para novos alvos morais, a liberdade, a vitória); pessoal (novos pensamentos, convicções, horizontes, motivos satisfações, auto realização); social (um novo senso de comunhão com os cristãos, de compaixão, para com todos, o impulso supremo de amar como Jesus ama).

A salvação no NT – Abordagens diferentes ressaltam quão rico é esse conceito. Jesus pressupunha a universalidade do pecado e da necessidade humana que tinha a sua origem na rebeldia (Mt 7.23; 13.41; 24.12 “iniquidade”; 21.28-29), provocando “doença” na alma (Mc 2.17), que jaz nas profundezas da personalidade e  que faz definhar de dentro para fora (Mt 7.15,16; 12.35; 5.21,22,27,28; 15.19,20; 23.25), e que deixa os homens em dívida com Deus pelos seus deveres não cumpridos (Mt 6.12; 18.23,24).

Ele, portanto, chamava todos ao arrependimento (Mc 1.15; Lc 5.32; 13.3,5; 15.10) – a uma mudança de atitude e estilo de vida que entronizasse a Deus (Lc 8.2; 19.9; Mt 9.9) – conclamava as pessoas a orarem diariamente pedindo o perdão, Ele mesmo o oferecia (Mc 2.5), e recomendava o arrependimento humilde como a única base aceitável para a pessoa se aproximar de Deus ( Lc 18.9,10).

Na abertura e na amizade que Jesus demonstrava com os pecadores expressou-se de maneira perfeita e acolhida amorosa de Deus. Nada era necessário para conquistar de volta o favor de Deus.

A graça divina aguardava ansiosamente a volta do homem (Lc 15.11-24). A única condição indispensável era a transformação do homem: que deixasse de ser rebelde e tivesse confiança singela como de um menino, e disposição para obedecer.

Uma vez demonstrado isso, seguia-se uma vida sob o governo de Deus, descrita como festa, casamento, vinho, achar tesouros, alegria, paz, toda a liberdade e o privilégio da filiação dentro da família divina no reino do Pai.

Pedro também conclamava ao arrependimento (At 2.38), e prometia o perdão e o Espírito santo a quem invocasse o nome do Senhor. A pessoa era salva especialmente dos pecados passados e isso era necessário por causa da conformidade com uma geração perversa (At 2.23-40); sendo que o propósito da salvação, sua herança e sua glória ainda estavam para ser reveladas (1Pe 1.3-5).

No pensamento de João, a pessoa é salva da morte e do julgamento. Ele reformula o seu significado em termos de vida rica e eterna (36 vezes no Evangelho, 13 vezes em 1João), de dom de Deus em e com Cristo, começando com uma renovação total (“novo nascimento”); iluminada pela verdade (“conhecimento”, “luz”); e experimentada como o amor (Jo 3.5-16); 5.24; 12.25; 1Jo 4.7-11; 5.11).

Paulo viu que seu próprio fracasso na tentativa de atingir a retidão diante da lei refletia-se em todos os homens, devido ao poder (“domínio”) esmagador do pecado, que levava consigo a morte.

A salvação, portanto, é em primeiro lugar a absolvição, a despeito da justa condenação, com base na expiação do pecado realizada por Cristo (Rm 3.21,22); e em segundo lugar, a libertação mediante o poder invasivo do Espírito da santidade, do Espírito do Cristo ressurreto.

A fé que aceita a morte de Cristo em nosso lugar e que concorda com ela, também nos une a Ele de modo tão estreito que com Ele morremos para o pecado e ressuscitamos para a nova vida (Rm 6.1,2).

Os resultados são a libertação do poder do pecado  (Rm 7.18; 8.2); a exultação no poder do Espírito que habita na pessoa e a certeza da filiação Rm 8); a semelhança cada vez maior com Cristo. Pelo mesmo processo, a morte é vencida e os crentes são preparados para a vida eterna (Rm 6.13, 22,23; 8.11).


A gloriosa esperança da ressureição dos santos – Os salvos em Cristo tem uma esperança gloriosa de ressurreição para estarem para sempre com Ele (1Ts 4.14; Is 26.19). Essa é uma das promessas futuras do crente possíveis por causa da ressurreição do próprio Jesus.

Do mesmo modo que Ele ressuscitou, nós também ressuscitaremos. Ele “transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas” (Fp 3.21).

Nosso corpo, hoje sujeito a enfermidades e fraquezas, será revestido de incorruptibilidade na ressurreição (1Co 15.54) e nunca mais haverá fatos que levem à morte, pois a ressurreição será a vitória final sobre a morte (1Co 15.55).

Aqueles que foram salvos pelo sacrifício de Cristo serão levados para o reino de Deus, que será um eterno desfrutar de alegrias, delícias e bem estar na presença de todos os salvos de todos os tempos, e o mais importante: estaremos para sempre com o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Cuja presença encherá a terra com sua glória e majestade conforme a visão de João: “E a cidade não necessita de sol nem de lua, para que nela resplandeçam porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua lâmpada” (Ap 21.23).

A ressurreição será um estado de eterna satisfação em Deus, que suplantará incomparavelmente qualquer aflição deste tempo presente (Rm 8.18). O sofrimento será completamente extirpado como afirmou João: “E Deus limpará de seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas”  (Ap 21.4).

O anseio da vida eterna concretizada na ressurreição dos mortos esteve subjetivamente presente nos heróis da fé do AT, quando as Escrituras afirmam que:
Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as promessas, mas, vendo-as de longe, e crendo nelas, e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra.

Porque os que isso dizem claramente mostram que buscam uma pátria. E se, na verdade, se lembrassem daquele de onde haviam saído, teriam oportunidade de voltar.
Mas, agora, desejam uma melhor, isto é, a celestial. Pelo que também Deus não se envergonha deles, de se chamar seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade (Hb 11.13-16).

A ressurreição de Jesus e a futura ressurreição dos salvos fazem com que tiremos os olhos das circunstâncias muitas vezes difíceis e voltemos nossos olhos para o além. Isso não pode significar a fuga de enfrentamentos que aqui temos de passar.

Mas significa uma alegre esperança de que tudo passará, encorajando-nos ainda mais para enfrentarmos as batalhas e tendo certeza da presença de Deus e seu fortalecimento (Rm 8.11). “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1Co 15.19).

A plena salvação nos céus – Para compreender a glorificação dos salvos ou sua plenitude nos céus, é preciso antes compreender que a salvação desfrutada aqui na terra, embora potencialmente completa, é também precária, na tensão entre a salvação já operada, o “aqui agora”, e a salvação plena no futuro, o “ainda não” escatológico.

Dessa forma, todos os demais aspectos da salvação já experimentados até agora alcançarão sua plenitude no “ainda não” escatológico.

Então, a justificação poderá ser comprovada, pois hoje é aceita por fé; o amor de Deus será experimentado com todas as suas satisfações e gozos; a regeneração, aqui relativa, será completa; a santificação, aqui vivida limitadamente e sujeita ao pecado, será perfeita; a reconciliação com o Pai, agora sujeita aos percalços da desconfiança e da incerteza, será uma doce realidade; a adoção aqui vivida às vezes com afastamento do Pai, lá será desfrutada em sua paternidade infinita.

Paulo e Judas afirmam também a completa inculpabilidade e irrepreensibilidade (Ef 1.4; Fp 1.9-11; 1Co 1.8; Jd v.24) na glorificação futura. Isso acontecerá porque não haverá mais tentações pelo fato de o pecado e o mal terem sido vencidos definitivamente.

Consultas:
POMMERENING, Claiton Ivan. A Obra da Salvação – Jesus Cristo é o Caminho a Verdade e a Vida. CPAD RJaneiro 2017
ELWELL Walter A. Enciclopédia Histórico-teológica da Igreja Cristã. Ed. Vida Nova. SPaulo, 2009
Dicionário Global de Teologia. Edit. Hagnus. São Paulo 2017
GEISLER, Norman. Eleitos mas livres. Editora Vida. São Paulo, 2016

ALEXANDER T. Dismond. Novo Dicionário de Teologia Bíblica. Edit Vida SPaulo 2009

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Perseverando na Fé - 17.12.17

Subsídios Teológicos e Bibliológicos para Estudo sobre:
     Perseverando na Fé - 17.12.17
Texto Bíblico: 2 Tm 4.6-8
Por: Pr. João Barbosa
                                         
O Novo Testamento, ao contrário do Antigo Testamento, está repleto de linguagem de fé no sentido de “crer” em vez de perseverança ou fidelidade. De acordo com os evangelhos, essa linguagem se originou no próprio ministério e ensino de Jesus.

Às vezes, Jesus dizia àqueles que o clamavam a ele: “A sua fé o curou” literalmente. “O salvou” (Mt 9.22.29; Mc 10.52; Lc 8.48; 18.42). Na maioria dessas situações a fidelidade do suplicante não estava em jogo. Essa ênfase foi mantida conforme Atos dos Apóstolos, na pregação inicial da igreja (At 9.42; 10.43; 16.31; 20.21).

O apóstolo Paulo, acima de tudo, procurou estabelecer uma igreja composta de judeus e gentios baseado num evangelho de simples confiança e dependência da fiel e misericordiosa obra de Deus em Cristo (Rm 4.5; 10.10; Gl 2.16; Ef 2.8,9).

A “fé” como única resposta salvadora, ou justificadora, à boa nova sobre Cristo é o testemunho geral incontestável do NT. No entanto, uma doutrina sobre “fé somente” deve ser explicada e praticada à luz do relato mais geral da fidelidade, um relato que alcança seu climax em Jesus, o Messias fiel.

Na verdade, a ideia de “fé somente”, e mesmo o uso que Paulo faz do AT a serviço dessa ideia, só faz sentido se a fé é o produto desse climax. É por isso que no NT há um relacionamento muito próximo e complicado entre “fé (pistis)” e Jesus Cristo.

Seja como for que se compreenda a expressão paulina “fé em Cristo” (e equivalente: (Rm 3.22,26; Gl 2.16.20; Fp 3.9; Ef 3.12), é claro que o NT apresenta Jesus mais de que o objeto da fé. Ele é a própria encarnação ou personificação da fé e fidelidade e seguranca do crente (Gl 3.23-25; 1Tm 1.14; 2Tm 1.13; Ap 1.5; 14.12; 19.11).

Como tal, Cristo é a condição necessária e suficiente da fé cristã (At 3.16; Hb 12.2; 2Pe 1.1). Deus nos chama para além de uma dedicação à nossa própria fé ou à nossa própria redenção individual.

A fé envolve ter “os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé” (Hb 12.2).  Dentro da estrutura do relacionamento, com todas as dimensões pessoais e coletivas, o Espírito do Messias nutre a resposta inicial de fé à mensagem do evangelho para uma vida contínua de louvor e alegre obediência a Deus (Rm 1.5; 16.26) e serviço ao próximo em amor (Gl 5.6,13,14; 6.1,2).

Quando a fé cristã amadurece dessa maneira, a história de fé finalmente se completa, tendo procedido da fidelidade de Deus para a fidelidade do povo de Deus.

O conceito de “apostasia” representa no discurso teológico o repúdio aberto e final da obediência a Deus e em seu filho Jesus Cristo. O estudo do tema se justifica pela linguagem e lógica dos autores bíblicos e também pela vida da igreja e o interesse pastorial.

John Owen, escrevendo de uma perspectiva atemporária do pensamento puritano, define a escência da apostasia como “rejeição total de todos os princípios e doutrinas constituintes do cristianismo”.  Isso envolve um “abandono voluntário e deliberado do evangelho, da fé, das normas e da obediência”.

Geralmente, se faz uma distinção entre apostasia e desvio; uma recaída menos radical da integridade cristã da pessoa, pois o desvio não envolve um “abandono deliberado”. A linguagem bíblica evocada pela expressão “apostasia” é variada e sugestiva.

Os verbos “deixar” (Dt 31.16), “apartar-se de seguir a Deus” (1Re 9.6),  “vaguear” (Jr 14.10), “revoltar-se contra Deus” (Ez 2.3),  “dar as costas a Deus” (Ez 23.35), “cometer transgressão”   (Dn 9.7), “prostituir-se” (Os 1.2), “escandalizar-se” (Mt 24.10),  “negligenciar” (Hb 2.3),  “retroceder”  (Hb 10.39) e  “sair” (1Jo 2.19), todas estas ocorrências acontecem em um contexto relacionado com o declínio espiritual tão notório a ponto de ser considerado apostasia.

Apostasia no NT – Embora a igreja cristã tenha recebido o derramamento do Espírito Santo (At 2.14-21) e herdado melhores condições de vida e adoração do que Israel desfrutava no AT, a apostasia compõe boa parte da preocupação dos apóstolos no NT.

Na verdade, Jesus previu que a presente e perene demora para a chegada do fim, seria caracterizada por tamanha tribulação a ponto de alguns “se escandalizarem” (Mt 24.10).

Qualquer consideração sobre apostasia no ensino do NT deve iniciar com a convicção de que Jesus Cristo ocupa a posição final nos propósitos de Deus para a redenção (Hb 4.1-4).

Como consumação da revelação do AT Jesus é a maior e última revelação de Deus. Com todas as veias da história da redenção convergindo nele, é preciso ver com a maior seriedade o repúdio calculado ao Jesus todo suficiente.

A carta aos Hebreus insiste formalmente na impossibilidade da reversão da apostasia depois da exposição ao poder do evangelho cristão (Hb 6.4-6; 12.16,17).

A persistência proporcional no pecado depois de possuir o conhecimento da verdade, a ponto de alguém retroceder na fé do filho de Deus, o expõe à “terrível expectativa de fogo” (Hb 10.26-31).

Não se exige fé perfeita. Os filhos de Deus “não têm conhecimento e se desviam” (Hb 5.2), mas Jesus pode ajudar seu povo quando passa por provação (Hb 2.18). Ele identifica-se com suas fraquezas, tendo ele mesmo sido provado e, portanto, se tornando acessível (Hb 4.15,16).

Recusar suas fontes de misericórdia e graça em tempo de necessidade poderia provocar uma condição de apostasia, na qual se menospreza o filho de Deus (Hb 6.6).

Apostasia e perseverança – Jesus insistiu em que alguns que experimentaram o verdadeiro poder espiritual e os chamavam de “Senhor” serão rejeitados como “malfeitores” (Mt 7.21-23; Hb 6.4-6), ele percebeu em alguns uma fé não convincente (Jo 2.23-25).

Ele pressupôs várias respostas ao evangelho, algumas das quais, no princípio, promissoras, mas, no fim, superficiais (Lc 8.11-15). É a perseverança do cristão até o final que confirma uma busca à fé cristã e autêntica à experiência espirituasl (Cl 1.21-23; Hb 3.14; 6.11,12; 2Jo v.9).


O apóstolo João responde por aqueles que se distanciam da identificação anterior com Cristo da seguinte maneira: “eles sairam do nosso meio, mas na realidade não eram dos nossos, pois, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; o fato de terem saído mostra que nenhum deles era dos nossos” (1Jo 2.19).

Seguros em Cristo – A segurança da salvação é gerada na mente do crente na experiência de salvação, que é tão marcante e revolucionária que gera essa certeza incontestável.

Além dessa experiência espiritual e emocional que gera certeza, o crente também crê por fé que, uma vez confessado a Cristo como seu Salvador, seu intelecto compreende, e o Espírito Santo testemunha em sua consciência.

Pois, “o mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus”, gerando nele a certeza da salvação, que é como um testemunho interior a qual manifesta a segurança da salvação, que é garantida por fé na graça de Jesus Cristo.

A segurança da salvação não é oriunda de um pensamento positivo e nem por uma mera exressão de otimismo; é, antes, uma persuassão divina causada pela atuação do Espírito Santo e que está em sinergia com a fé do crente.

Todavia, pode haver uma auto-ilusão quanto à certeza da salvação, originada pelo convencimento hipócrita de se estar andando com Deus, ou mesmo alguém pode ser enganado por demônios por estar constantemente na prática de pecados grosseiros e deliberados.

Nesse caso, a suposta certeza da salvação deve ser comprovada por evidências externas de virtude moral e espiritual (1Jo 2.3,6). Dessa forma, havendo testemunho interior do Espírito e evidências externas pode-se acalmar o coração quanto à salvação. Alguns crentes vivem com certo pavor de terem perdido ou de, no futuro, perderem a salvação.

Isso, entretanto, demonstra que eles não entenderam corretamente o que é a segurança da salvação. Esses crentes olham para dentro de si mesmos e tentam descobrir se estão salvos pelas evidências emocionais, quando, na verdade, deve-se olhar para o que a palavra de Deus diz (Rm 10.9,10).

Embora o crente corra o risco de perder sua salvação por causa de suas atitudes (2Tm 4.7,8) a fidelidade de Cristo e a certeza do cumprimento de suas promessas garante que esse mesmo crente será guardado e conservado (Jd 1) irrepreensível até a sua vinda (1Ts 5.23,24).

Para ter a segurança da salvação, o crente precisa confiar no poder de Deus que o livra de tropeçar e o mantém irrepreensível (Jd v.24,25). Na oração sacerdotal, Jesus orou pelos discípulos e por aqueles que se haviam de salvar, afirmando que ele mesmo cuidaria deles:

“E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará de minhas mãos. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las das mãos de meu Pai (Jo 10.28,29).

A segurança em Cristo é afirmada na mente do crente através da atuação do Espírito Santo em seu interior e na sua consciência, como consequência da fé e do testemunho do Espírito Santo em sua consciência.

Isso garante que se viva na esperança e na certeza da confiança. Na graça e na misericórdia de Deus e que o crente poderá partir desta vida sem qualquer medo ansioso, ou pavor terrível ou temor da morte, pois encontrará o Cristo ressuscitado esperando-os nas mansões celestiais.

Uma das melhores consequências que alcançamos ao aceitarmos a Cristo é que podemos ter certeza da salvação (Sl 51.12; Is 12.3; 1Jo 5.13), pois agora não temos mais o peso da culpa e da condenação e somos aceitos e amados por Deus e, assim, o efeito prático é que se pode viver uma vida muito feliz e radiante

“Mas não vos alegreis porque se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos, antes, por estar o vosso nome escrito nos céus”. (Lc 10.20).

Consultas:
POMMERENING, Claiton Ivan. A Obra da Salvação – Jesus Cristo é o Caminho a Verdade e a Vida. CPAD RJaneiro 2017
ELWELL Walter A. Enciclopédia Histórico-teológica da Igreja Cristã. Ed. Vida Nova. SPaulo, 2009
GEISLER, Norman. Eleitos mas livres. Editora Vida. São Paulo, 2016
FRANGIOTTI, Roque. História das Heresias. Ed. Paulus. São Paulo, 1995.
 ALEXANDER T. Dismond. Novo Dicionário de Teologia Bíblica. Edit Vida SPaulo 2009