Subsídios Teológicos e Bibliológicos
para Estudo sobre:
Lição 10 - Dádiva, Privilégios e
Responsabilidades na Nova Aliança - 11.03.2018
Texto Bíblico: Hebreus 10.1-7,
22-25
Por: Pr. João
Barbosa
O limite e a importância do serviço
sacrificial do AT são visíveis no fato de que ele próprio não pode contribuir
realmente para a salvação das pessoas. A verdadeira salvação é apresentada
unicamente por Jesus Cristo (Hb 10.1-7).
O serviço sacrificial no grande dia da expiação
dia 10 do sétimo mês era uma referência direta ao “cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo” (Jo 1.29). Desse modo, o culto sacrificial israelita tornou-se
em seu sentido mais profundo a expressão da esperança pela redenção definitiva por
intermédio de Jesus Cristo (Hb 7.19).
Porque os sacrifícios não redimem? O escritor
responde com uma frase lapidar: È impossível que o sangue de touros ou de bodes
remova pecados. Esse é o argumento final para as reiteradas restrições à lei
sacrificial e sacerdotal do AT, e, em decorrência, para toda ordem de salvação
da antiga aliança.
O núcleo da atuação salvadora de Deus é a
remoção da culpa. Afinal, o perdão dos pecados e a consequente restauração do
relacionamento original entre Deus e o ser humano não é possível através do sangue
de animais, mas exclusivamente por intermédio da morte do Filho de Deus, pelo
sangue de Jesus.
A provisoriedade da ordem sacrificial do AT,
bem como a limitação de sua vigência para o tempo da antiga aliança não são
vistas pelo escritor desta carta como revelada apenas depois da vinda de Jesus
a este mundo.
Ele constata que o próprio AT já alude à
limitação da sua própria ordem de salvação. Na palavra do Salmista ele vê uma
indicação que proclama a entrada de Crisato no presente mundo e em nossa existência
humana.
É o próprio Senhor Jesus Cristo que está
falando pela própria boca do seu servo Davi. Por isso, ao entrar no mundo, diz:
Sacrifício e oferta não quiseste; antes, um corpo me formaste.
A ordem de salvação do AT não trouxe a perfeição,
mas somente profetizou a redenção. Por isso, Cristo teve de vir, a fim de
cumprir as promessas do AT. O “corpo” de Cristo, sua existência terrena, que
Deus lhe conferiu, torna-se a oferta sacrificial do NT, por meio da qual Deus
ou a ira de Deus é apaziguada.
Por meio da palavra profética do AT Deus mesmo
substituiu a ordem sacrificial da antiga aliança. Por não trazerem consigo uma
renovação do coração, e também por não serem oferecidos por Israel com a
atitude correta do coração os sacrifícios não recebiam o agrado divino.
Somente o surgimento do Messias foi capaz de
trazer o verdadeiro cumprimento da vontade de Deus. É por isso que Cristo se
tornou homem, porque seu corpo, sua vida, haveria de tornar-se o verdadeiro sacrifício
a Deus.
Cristo efetuou em sua vida aquilo que já era a
vontade de Deus em relação às pessoas no AT, uma vida em plena consonância com
Deus, e em obediência integral à sua palavra.
A existência de Jesus na terra é o cumprimento
literal dessa palavra do Salmista (Hb 10.1-7). O “livro” literalmente o rolo do
livro, que fala da vinda de Cristo, não é apenas, conforme a compreensão do NT,
a lei de Moisés (Ex 24.4) ou os Salmos, mas todo o AT (Lc 24-27,44).
No Sl 40.9 Cristo é o único que faz a vontade
de Deus. Esta vontade de Deus, porém, é a redenção eterna do mundo perdido (Lc
19.10), o sacrifício do sumo sacerdote eterno para a remissão de todos os
pecados (1Tm 2.4).
O escritor da carta aos Hebreus recorre a
palavras no AT no Sl 40.7-9, interpretando-a novamente a partir do evento do
NT. Ele lê e interpreta o AT sob o ângulo da revelação de Cristo que ele experimentara
pessoalmente.
A multidão dos sacrifícios do AT que eram trazidos
“segundo a lei” é substituída por este um só sacrifício do Filho de Deus na
cruz, que Jesus ofereceu através “do Espírito eterno” (Hb 9.14), mediante seu
ato perfeito de obediência. Cristo afirmou: “Eis aqui estou para fazer, ó Deus,
a tua vontade”.
Jesus resumiu pessoalmente o conteúdo de sua
vida e de seu serviço nas seguintes palavras: “Porque eu desci do céu, não para
fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou” (Jo
6.38).
Para ele, era esta a maior necessidade da vida
e a mais profunda satisfação da vida. “A minha comida consiste em fazer a
vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4.34).
A trajetória do Messias a que se alude
profeticamente na palavra do Sl 40.7-9, a saber, que o Cristo haveria de entregar
a Deus o seu próprio corpo como oferenda para sacrifício, levou Jesus Cristo,
de acordo com a vontade de Deus à cruz.
Desta maneira, a revelação da vontade de Deus
no AT, “O obedecer é melhor do que o sacrificar” (1Sm 15.22), obteve sua
potenciação e último aprofundamente. Cristo foi “obediente até à morte” (Fp
2.8) e entregou-se a si próprio como sacrifício.
Nessa obediência extrema de Jesus a vontade de
seu Pai explica-se também o mistério de sua autoridade na oração. Somente porque
Jesus cumpriu integralmente a vontade de Deus, ele também possui agora poderes
ilimitados, a fim de como nosso eterno sumo sacerdote, intervir perante Deus em
nosso favor, pela intercessão sem cessar.
O escritor da carta aos Hebreus já encontra o
anúncio na palavra profética do AT de que toda plenitude da salvação nos foi
presenteada em Cristo Jesus e de que o sacrifício universalmente satisfatório
de Jesus Cristo basta para atingir a totalidade dos pecados no mundo inteiro.
E de que em Cristo Deus “nos deu todas as
coisas” (Rm 8.32), justificação, santificação e perfeição, perdão dos pecados e
força para uma nova vida. E disso nos dá testemunho também o Espírito Santo.
Portanto, o que o escritor está apresentando não
é uma interpretação arbitrária, ou autoritária do NT. O que ele esta á dizer aos
crentes acontece sob a direção e o pleno poder do Espírito Santo. É o Espírito
Santo que já no AT aponta para a glória vindoura da nova aliança.
O Espírito Santo não apenas confirma o
entendimento e a interpretação bíblica corretos, mas “dá testemunho a nós”. Como
em Hb 8.8-12, o escritor recorre à promessa da nova aliança em Jr 31.31-34.
Contudo, nessa ocasião não faz para contrapor a
nova aliança à antiga, dissolvendo dessa maneira, mas para evidenciar a eficácia
penetrante do sacrifício de Jesus na vida do homem redimido.
É esse o alvo de Deus: pessoas cujas vidas estão
integralmente devotadas a Deus, que cumpre sua vontade de coração. Esse alvo,
no entanto, também é alcançado somente por um perdão radical por parte de Deus,
que começa no cerne da existência humana.
Redenção e renovação somente são viáveis como
base no perdão de Deus: Também de nenhum modo me lembrarei dos seus pecados
e das suas iniquidades. Perdão total – é este o efeito do sacrifício de
Jesus.
O que Deus perdoa, ele também esquece (Is
43.25). Considerando que Deus esqueceu o nosso pecado por causa do sacrifício
de Jesus, tão pouco há necessidade de recordar o pecado. Uma vez que o perdão
através do sangue de Jesus é definitivo, todos os demais sacrifícios tornam-se
inválidos.
Em Hb 10.1-18 o escritor nos leva ao ápice de
sua mensagem do sumo sacerdócio de Cristo. Tudo que ele expôs detalhadamente nos
capítulos antecedentes, ou também o que ele apenas rapidamente ilumina, agora é
resumido nas breves frases do presente trecho:
Cisto prestou o sacrifício perfeito e
plenamente satisfatório. Era característica da ordem sacerdotal do AT a repetição
dos sacrifícios como expressão de seus sucessos. Não conseguiam concretizar
perdão dos pecados, purificação, paz da consciência e perfeição.
A lei e seus sacrifícios eram apenas a sombra
de uma realidade vindoura de salvação. Jesus Cristo, porém, nos trouxe, as
promessas da nova aliança, os “bens verdadeiros, futuros”, participação na
realidade celestial. É característica da ordem de salvação do NT que o sacrifício
de Jesus foi único, para que tivesse uma eficácia universalmente abrangente.
Neste trecho são respondidas duas perguntas
essenciais que queremos trazer à nossa memória com breves palavras:
1. Em que consistiu o sacrifício de Jesus?
a) Jesus Cristo renunciou expontaneamente á sua glória divina (Fp 2.6). Veio
a este mundo e foi formado um corpo (Hb 10.5). Andou o caminho da mais profunda
humilhação.
b) Ele cumpriu com obediência perfeita a vontade de Deus (Hb 10.7,9), a
qual incluía tantro a nossa redenção (Mc 10.45) como a superação de Satanás
(1Jo 3.8) e a consumação do plano de salvação de Deus. O Filho de Deus ofereceu
como sacrifício a sua própria vontade (Hb 5.8,9).
c) Jesus sacrificou a sua própria vida sem pecado como expiação perfeita
(Hb 10.12; 2Co 5.21; 1Pe 2.24), consumando assim todos os sacrifícios do AT (Hb
10.11.18).
2. Que o sacrifício de Jesus nos trouxe?
a) Em virtude da morte sacrificial de Jesus, Deus nos presenteia com perdão
integral (Hb 10.11,12). Uma vez que seu sacrifício é suficiente para extinguir
os pecados de todo mundo perdido, não carece de repetição (Hb 9.12,26-28).
b) O sacrifício de Jesus purifica a nossa consciência (Hb 9.14). O sangue
de Jesus age como poder espiritual na esfera mental da nossa consciência
humana, libertando-nos do cerco de
uma consciência de pecado que permanentemente
nos reprime (Hb 10.2,17). Uma “consciência limpa” nos é concedida.
c) Desse modo o sacrifício de Jesus nos capacita para um serviço a Deus (Hb
9.14). A obediência perfeita na vida de Jesus “...para fazer, ó Deus, a tua
vontade” (Hb 10.7). Também se torna a motivação básica dos seguidores de Jesus.
Assim também a nossa vida torna-se “um sacrifício vivo” (Rm 12.1,2).
d) O sacrifício de Jesus efetua a nossa santificação. O poder do Espírito
Santo renova a nossa vida e a transforma (Hb 10.10; 13.12).
e) O sacrifício de Jesus também incluiu o nosso aperfeiçoamento (Hb 10.14),
a asserção divina de que o Senhor ressuscitado fará desaguar nossa jornada de fé
no alvo da glória eterna.
f) O sacrifício de Jesus nos assegura a herança (Hb 9.15), a comunhão não
turbada com o nosso Senhor na glória eterna, e chega à coroação na vitória manifesta
de Deus sobre todos os seus inimigos (Hb 10.13), na instalação definitiva do
reino de Deus.
Propriedade segura da fé no “hoje” e alegre
esperança pelo “amanhã”, salvação presente e futura – tudo nos foi presenteado
pelo sacrifício de Jesus na cruz.
No tempo de salvação do AT a revelação de Deus
havia sido concedida exclusivamente a Israel, em contra posição a todos os
demais povos. Essa honra por parte de Deus significou ao mesmo tempo uma
sagrada responsabilidade para povo de
Deus.
A igreja no NT, o povo de Deus peregrino da
nova aliança, recebeu em Jesus Cristo infinitamente mas que que o povo de
Israel. Tanto maior é, pois, também a responsabilidade que temos perante Deus,
de que lidemos apropriadamente com esse bem de salvação que nos foi confiado.
Visto que o escritor desta cartas está
profundamente tomado por esta verdade, ele agora se volta aos fiéis para
estimulá-los para uma nova fidelidade no testemunho, para que permaneçam firmes
na fé e se apeguem inabaláveis á esperança.
Consultas:
GONÇALVES
José. Comentarista da Lição Bíblica para Adultos EBD CPAD no 1º Trimestre
2018. A Supremacia de Cristo: Fé,
esperança e ânimo na Carta aos Hebreus
GONÇALVES
José. . A Supremacia de Cristo: Fé,
esperança e ânimo na Carta aos Hebreus. Editora CPAD. Rio de Janeiro. Outubro,
2017
HENRICHSEN
Walter A. Depois do Sacrifício – Estudo da carta aos Hebreus. Editora Vida. São
Paulo 1996
LAUBACH
Fritz. Carta aos Hebreus – Comentário Esperança. Editora Esperança. Curitiba,
2013
BOCH Darrell L. e GLASER Mitch. O Servo
Sofredor – Editora Cultura Cristã. São Paulo, 2015
CHAFFER.
Teologia Sistemática. Vl 7 & 8. Editora Hagnus. São Paulo, 2008
BROWN,
Raymond e outros. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo – Antigo Testamento.
Editora Academia Cristã. São Paulo, 2007
Bíblia
do Pregador Pentecostal
ELWELL
Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristá. Editora Vida Nova.
SPaulo 2009
BARNETT.
John D. O Tabernáculo, Cristo e o Cristão. Série Antigo Testamento-2. Editora
Cristã Evangélica. São Paulo, 2009
CHAMPLIN.
Novo Testamento Interpretado Versículo por versículo. Vl 5. Editora Hagnus. São Paulo, 2012
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