Subsídios Teológicos e Bibliológicos
para Estudo sobre:
Lição
07 - Jesus - Sumo Sacerdote de uma Ordem Superior - 18.02.2018
Texto Bíblico: Hebreus 7.1-19
Por: Pr. João
Barbosa
Nesta lição queremos destacar no sacerdócio
levítico sua origem, formação e substituição pelo sacerdócio eterno de nosso
Senhor Jesus Cristo, o qual não procede da ordem Arônica, mas, da ordem de
Melquisedeque (Sl 110.4).
Em Números 8.14, o texto bíblico destaca a
ordem do Senhor para que os levitas fossem separados para o serviço sagrado.
Levi foi o terceiro filho de Jacó com Léia. Seu nome significa “ungido”,
significado que está associado à declaração que sua mãe fez quando ele nasceu:
“Agora, esta vez se ajuntará meu marido
comigo... por isso chamou o seu nome Levi” (Gn 29.34). Apesar de Levi ter
participado com o seu irmão Simeão da vingança traiçoeira contra os homens de
Siquém, Levi se redimiu ao longo de sua trajetória, ao mostrar zelo espiritual
pelas coisas de Deus.
Este cuidado lhe rendeu a escolha divina como
a tribo sacerdotal. Tanto a vida de Levi como a de seus descendentes traz
profundas lições espirituais para os nossos dias.
Levi e Simeão se uniram numa vingança brutal
contra homens indefesos e vulneráveis, o que rendeu aqueles dois irmãos duras
críticas e reprovação por parte do patriarca Jacó, seu pai, na hora de
impetrar-lhes a bênção patriarcal (Gn 49.5-7).
Levi porém, durante a sua vida teve um melhor
comportamento do que seu irmão Simeão em todo decorrer da sua história. Em
Exodo 32.25,26 lemos que quando Moisés desceu do monte, “vendo que o povo
estava despido, porque Arão os havia despidos para vergonha entre os seus
inimigos, pôs-se em pé na porta do arraial e disse: Quem é do Senhor venha até
mim. Então, se ajuntaram a eles todos os filhos de Levi”.
Após ter pecado contra o Senhor, na idolatria
do bezerro de ouro, o povo de Israel perdeu de vez a compostura e a vergonha,
levando Moisés a colocá-los no devido lugar.
Para isso, Moisés precisa que os israelitas
saíssem de cima do muro e demonstrassem fidelidade e lealdade para com o
Senhor. Nesta ocasião, só os levitas se poscionaram ao lado do Senhor, não
culpando nem seus parentes envolvidos na idolatria.
Este ato zeloso dos levitas lhes rendeu o
privilégio e a honra de serem escolhidos por Deus como a tribo sacerdotal de
Israel. Os levitas se tornaram “a elite espiritual” com respeito ao ministério
da casa do Senhor (Nm 1.50,51; 1Cr 15.2).
Em Nm 8.14, foi o Senhor Deus quem confirmou a
escolha de Levi para o ministério da casa do Senhor, dizendo: “Separarás os
levitas do meio dos filhos de Israel, para que os levitas sejam meus”.
Em Nm 17.1-10, vemos os filhos de Levi mais
uma vez mostrando sua liderança espiritual quando foi contestado pelo povo, o
próprio Deus confirmou a escolha dos levitas, fazendo a vara de Arão florescer
entre as doze varas colocadas diante do Senhor, cada uma com o nome de uma das
doze tribos de Israel.
Ainda em Nm 25.1-13, há um novo exemplo do
ocorrido com o bezerro de ouro, Israel voltou a pecar contra o senhor,
envolvendo-se com mulheres idólatras que adoravam Baal-Peor; então, mais uma
vez, um descendente de Levi, chamado Finéias, firmou-se ao lado do Senhor,
fazendo expiação pelos filhos de Israel, ao eliminar um homem israelita que
praticava orgias sexuais com uma daquelas mulheres pagãs que adorava a
Baal-Peor.
Esse zelo de Finéias demonstrado pelas coisas
espirituais rendeu a ele e a seus descendentes a promessa de um sacerdócio
perpétuo (Nm 25.10-13).
Enquanto Simeão foi esquecido na bènção
profética que Moisés proferiu sobre as tribos de Israel, Levi foi destacado por
sua atuação sacerdotal.
“E de Levi disse: Teu Tumin e teu Urin são
para teu amado que tu provastes emassar, com que contendestes nas águas de
Meribá... pois guardaram a tua palavra e observaram o teu concerto. Ensinaram
os teus juízos a Jacó e a tua lei a Israel; Levaram incenso ao teu nariz e o
holocausto sobre o teu altar” (Dt 33.8-10).
Em 1Cr 15.2 quando em uma tentativa frustrada
de Davi de conduzir a arca da aliança para Jerusalém sem a participação dos
levitas, o rei Davi teve que se render às ordens de Deus: “Então disse Davi:
ninguém pode levar a arca de Deus senão os levitas; porque o Senhor os elegeu,
para levarem a arca do Senhor e o servirem eternamente”.
Em Hb 5.4, é dito “Ninguém toma para si esta
honra, senão aquele que é chamado por Deus como Arão”. Se a exclusividade do
sacerdócio da casa do Senhor foi dado a Arão, o que seria dos ministros de hoje
que não são levitas e muito menos descendentes de Arão?
É quando Jesus Cristo entra na história para
quebrar este monopólio sacerdotal. O escritor da carta aos Hebreus explica esta
questão: “Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei. Porque aquele de quem essas
coisas se dizem pertence a outra tribo, da qual ninguém serviu ao altar; visto
ser manifesto que nosso Senhor procedeu de Judá, e concernente a essa tribo
nunca Moisés falou de sacerdócio” (Hb 7.12-14).
Em Hb 8.6, a respeito de Jesus diz assim o
escritor desta carta: “Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente,
quanto é mediador de um melhor concerto, que está confirmado em melhores
promessas”.
Com base nisso, Jesus Cristo é aquele que nos
ama, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados, e nos fez reis e sacerdotes
para Deus seu Pai, a Ele, glória e poder para todo sempre. Amém” (Ap 1.5,6).
Vemos nessa exposição sobre a vida de Levi,
que Deus muda a nossa sorte para melhor e escreve uma história de sucesso para
todos aqueles que se mostram zelosos para com Ele. E, agora, sobre a nova
aliança, somos “os levitas”, separados pelo Senhor para uma grande obra.
Se no passado Israel tinha Arão como sumo
sacerdote; agora, nos dias presentes temos Jesus Cristo como nosso sumo
sacerdote celestial e eterno.
Duas linhas histórico salvífica do sacerdócio
dominam o pensamento do AT: A primeira linha é terrena, e vai de Abraão até
Arão e seus descendentes, passando por Levi, e outra celestial, que começa com
Melquisedeque. Ela leva a Davi, que nesse contexto torna-se mediador da
promessa porque lhe foi confiada a palavra do rei sacerdote messiânico
vindouro.
“Quando teus dias se cumprirem e descansarem
com teus pais, então, farei levantar depois de ti o teu descendente, que
procederá de ti, e estabelecerei o seu reino. A tua casa e o teu reino serão
firmados para sempre diante de ti; teu trono será estabelecido para sempre”
(2Sm 7.12,16).
A linha sacerdotal celestial desemboca no
messias vindouro, ela aponta para Cristo. Apesar de que os sacerdotes, filhos
de Levi e Arão, recebem o dízimo da mesma forma como Melquisedeque o recebeu de
Abraão, eles nem por isso são equiparados a Melquisedeque enquanto sacerdotes.
Prossegue o escritor da carta aos hebreus:
Considerai, pois, como era grande esse a quem Abraão, o patriarca, pagou o
dízimo tirado dos despojos. Abraão é o iniciador do povo de Deus no AT e ao
mesmo tempo o pai na fé dos crentes do NT, no que possui significado duradouro.
Enquanto no AT Abrão é designado como príncipe
de Deus (Gn 23.6) e amigo de Deus (Is 41.8), o escritor está falando de Abraão
como patriarca. O que se relata ao seu respeito possui conotação simbólica.
Abraão entregou o dízimo a Melquisedeque. Este
dízimo ele retirou dos despojos. No decurso dos acontecimentos do AT nos é
relatado pela primeira vez que o dízimo é oferecido. A entrega do dízimo por
Abraão a Melquisedeque (Gn 14.20), não aparece de modo isolado nas sagradas
escrituras.
Com a maior naturalidade o escritor da carta
aos Hebreus relaciona diretamente no presente texto de Hb 7.4-10. Diz o texto:
“Considerai, pois, como era grande esse a quem Abraão, pagou o dízimo tirado
dos melhores despojos.
Ora, os que dentre os filhos de Levi recebem o
sacerdócio tem mandamento de recolher de acordo com a lei, os dízimos do povo,
ou seja, dos seus irmãos, embora tenham esses descendidos de Abraão;
entretanto, aquele cuja genealogia não se inclui entre eles recebeu dízimo de
Abrão e abençoou o que tinha as promessas.
Evidentemente, é fora de qualquer dúvida que o
inferior é abençoado pelo superior. Aliás, aqui são homens mortais que recebem
dízimos, porém ali, aqueles de quem se testifica que vive.
E, por assim dizer, também Levi, que recebe
dízimos, pagou-os na pessoa de Abraão. Porque aquele ainda não tinha sido
gerado por seu pai quando Melquisedeque lhe saiu ao encontro.
Muito antes da legislação do Sinai os
patriarcas tinham conhecimento da prática do dízimo (Gn 14.20; 28.22)
constituindo, expressão visível de sua gratidão e confissão de sua dependência
a Deus.
A importância espiritual também ficou
preservada em época posterior. Ao mesmo tempo, a entrega pontual e conscenciosa
do dízimo deveria tornar-se um exercício espiritual permanente no temor a Deus
(Dt 14.22,23) e um meio para que possamos receber as bênçãos de Deus (Dt
14.28,29).
Para cada israelita deveria ser possível
experimentar a confiabilidade das promessas divinas quando se rendesse
plenamente na fé em Deus (Ml 3.10; Pv 3.9,10). Toda vez que um israelita
entregava o dízimo ele se via colocado por Deus diante de perguntas
fundamentais.
De quem obténs as tuas dádivas? Que estás
recebendo? A quem deves prestar uma oferta? Que é que deves ofertar? Que
significa para ti essa dádiva? Como estás ofertando? São perguntas sobre as
quais também o fiel crente do NT deve refletir constantemente. O israelita
tinha que dá resposta pessoal a estas perguntas na sua vida prática.
Quando Deus concedia a seu povo tempo de
bênçãos especiais e de recomeço espiritual como, por exemplo, sob o rei
Ezequias e sob Neemias, a Bíblia informa sobre o cumprimento alegre do dever do
dízimo (2Cr 31.5,6,12; Ne 10.38,39; 12.44; 13.5,12).
Deus aceitava a confissão humilde de
dependência por parte das pessoas ao entregarem ao dízimo, abençoando-a. Em oposição
a isso acontecia a entrega não espiritual do dízimo, na qual o ser humano não
vive com a posição apropriada do coração perante Deus. Contra essa atitude
profere-se a palavra da condenação (Am 4.4; Mt 23.23; Lc 11.42; 18.12). Todo
dízimo que é trazido a casa de Deus, em último análise é entregue a Deus.
No cap. 7 de Hebreus constatamos que o
interesse do escritor não se concentra nos pormenores da ordem do dízimo, mas
no relacionamento que se encontram Abraão, os levitas e Melquisedeque por
ocasião da entrega do dízimo.
Toda ordem do dízimo do AT, está alicerçada,
em última análise, sobre Abraão. Ele mesmo pagou o dízimo a Melquisedeque.
Agora o escritor da carta ressalta que uma seleção dos descendentes de Abraão,
os sacerdotes da tribo de Levi, recolhe o dízimo, de seus irmãos.
Os israelitas entregavam seu dízimo a
sacerdotes que eram de origem humana, cuja genealogia pode ser traçada
até Abraão. Abraão, porém, pagou o dízimo a um sacerdote que era de procedência
celestial.
A existência de Melquisedeque perante Deus, é única
e incomparável. Em Melquisedeque, Deus estabeleceu um sacerdócio fora da
lei, um ministério sem base e sem
descendência legais.
É por essa razão que a palavra de bênção de
Melquisedeque também foi particularmente eficaz na vida de Abraão,
proporcionando-lhe participação nas dádivas e na riqueza de Deus.
Isto é entendido na seguinte frase:
Evidentemente, é fora de qualquer dúvida que o inferior é abençoado pelo
superior. O que o escritor de Hebreus visa é destacar a superioridade de Melquisedeque
sobre Abraão e o sacerdócio levítico.
Observamos que agora ele não aborda o dízimo e
sim a bênção. A diferença entre os “inferiores” e o “melhor” não reside nos padrões
humanos de dignidade e posição social, mas na confirmação de Deus e no
preenchimento com autoridade espiritual.
Na bênção sempre se trata da autoridade que é
proporcionada ao ser humano sacerdotal pelo convívio pessoal com o Senhor, pela
vida em sua proximidade.
Melquisedeque recebeu o dízimo de Abraão. Levi
e seus descendentes também recebem o dízimo de seus irmãos. Ambos estão no
mesmo nível? É precisamente isso que o escritor aos Hebreus nega. Ele ressalta
que também os levitas entregaram o dízimo a Melquisedeque através de Abraão.
Logo, encontram-se numa relação de dependência
dele. Somos remetidos a um acontecimento de cunho providencial que excede os
limites da existência pessoal de cada um. Como podemos entender isso? No
pensamento bíblico, o ancestral e patriarca é a corporificação de toda a sua
descendência. Levi foi um bisneto de Abraão e ainda não era nascido quando Abraão
encontrou Melquisedeque.
Contudo, assim como Levi representava em sua
pessoa o sacerdócio israelita de todos os séculos subsequentes, assim também
pode ser dito a respeito dele que na pessoa de seu ancestral Abraão ele pagou o
dízimo a Melquisedeque.
Em outras palavras; com a entrega do dízimo a
Melquisedeque, Abraão tomou uma decisão cujas consequências se estendem sobre
todas as gerações futuras. Para essa correlação também existe um paralelo no NT.
Sem que tivéssemos contribuído pessoalmente
para essa situação todos nós nos encontramos
numa ligação providencial com o primeiro homem Adão, com sua culpa original e
com a fatalidade da morte.
Do mesmo modo, porém, estamos também em ligação
providencial com Cristo, uma vez que sua ressurreição tornou-se o fundamento do
fato de que um dia todas as pessoas ressuscitarão (Rm 5.12; 1Co 5.21).
O escritor também comprova uma ligação de
destinos desse tipo de Abraão, Levi e os sacerdotes levitas. Levi, o ancestral
dos sacerdotes israelitas, “ainda estava nos lombos de seu pai, quando
Melquisedeque llhe saiu ao encontro”.
Nos vs. 4-10 do cap. 7 de Hebreus, o escritor
fala do sacerdócio e do recebimento do dízimo. Agora ele enfoca mais de perto a
relação entre sacerdócio e lei (vs. 11 e 17).
Que necessidade haveria ainda que se
levantasse outro sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, e não fosse
contado segundo a ordem de Arão? Afinal, o próprio Deus havia concedido a seu
povo, por ocasião da celebração no pacto do Sinai, uma ordem sacerdotal válida.
Lei e sacerdócio estavam ancorados
conjuntamente na aliança que Deus havia firmado com o seu povo. Israel tinha
consciência do compromisso que significavam os estatutos legais dessa aliança.
“Cumpriremos todos os mandamentos que o Senhor
ordenou” foi esta a confissão de todos os israelitas (Ex 24.3-8). Porque Deus
queria estabelecer a vigência de outra ordem sacerdotal:
“De sorte que, se a perfeição fosse pelo
sacerdócio levítico (porque sobre ele o povo recebeu a lei), que necessidade
havia logo de que outro sacerdote se levantasse, segundo as ordem de Melquisedeque,
e não fosse chamado segundo a ordem de Arão? Porque, mudando-se o sacerdócio,
necessariamente se faz também mudança da lei”.
Pois é evidente que nosso Senhor procedeu de
Judá, tribo a qual Moisés nunca atribuiu sacerdotes. A promessa messiânica que Jacó
emitira sobre a tribo de Judá (Gn 49.8-12), e que Deus renovou no auge do
profetismo (Is 11.11), é confirmada na nova aliança em Jesus Cristo (Mt 6.2; Ap
5.5).
É nele, o “leão da tribo de Judá”, que o
reinado e sacerdócio estarão unificados (Sl 110.1,4; Zc 6.11). Contudo, não é
somente no fato de que o sumo sacerdote do povo de Deus é oriundo da tribo de Judá
que se torna claro que Deus quebrou a ordem sacerdotal da antiga aliança.
Por sua natureza, o novo sumo sacerdote está
numa relação imediata com Melquisedeque. Seu sacerdócio está fundamentado sobre
uma ordem sacerdotal original de Deus.
Consultas:
GONÇALVES
José. Comentarista da Lição Bíblica para Adultos EBD CPAD no 1º Trimestre
2018. A Supremacia de Cristo: Fé,
esperança e ânimo na Carta aos Hebreus
GONÇALVES
José. . A Supremacia de Cristo: Fé,
esperança e ânimo na Carta aos Hebreus. Editora CPAD. Rio de Janeiro. Outubro,
2017
HENRICHSEN
Walter A. Depois do Sacrifício – Estudo da carta aos Hebreus. Editora Vida. São
Paulo 1996
LAUBACH
Fritz. Carta aos Hebreus – Comentário Esperança. Editora Esperança. Curitiba,
2013
BOCH Darrell L. e GLASER Mitch. O Servo
Sofredor – Editora Cultura Cristã. São Paulo, 2015
CHAFFER.
Teologia Sistemática. Vl 7 & 8. Editora Hagnus. São Paulo, 2008
BROWN, Raymond
e outros. Novo Comentário Bíblico São Jerônimo – Antigo Testamento. Editora Academia
Cristã. São Paulo, 2007
Bíblia
do Pregador Pentecostal
CHAMPLIN.
Novo Testamento Interpretado Versículo por versículo. Vl 5. Editora Hagnus. São Paulo, 2012
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