Subsídios
Teológicos e Bibliológicos para Estudo sobre:
Lição
05 - Jesus é Superior a Arão e à Ordem Levítica - 04.02.2018
Texto Bíblico: Hebreus 4.14-16; 5.1-14
Por: Pr. João Barbosa
Em Hebreus
2.17 e 3.1, o apóstolo já falou de Jesus como “o sumo sacerdote” sem descrever
mais detalhadamente o que pretendia expressar com esse título.
Agora ele
desenvolve essa afirmação com frases breves e poderosas. Tendo, pois, a Jesus,
o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conservemos
firmes a nossa confissão.
Na palavra
“tendo” exterioriza-se toda certeza do entendimento do autor. Essa é uma
característica genuína da fé viva: Filhos de Deus não somente estão no processo
de
“tornar-se”, eles também vivem no “ter”.
Temos a
redenção por intermédio do sangue de Cristo (Ef 1.7), temos paz com Deus (Rm
5.1), temos um advogado junto do Pai (1Jo 2.1).
Essa
certeza do “ter” espera-se também do firme “saber” do qual fala o apóstolo
João, quando descreve a experiência de fé dos filhos de Deus (1Jo 3.2,14;
5.15,18-20).
O escritor
compara Jesus Cristo e o sumo sacerdote Arão. Ele diz: Jesus é o grande sumo
sacerdote, porque realiza o que Arão não foi capaz de fazer. Arão foi sumo
sacerdote na terra, Jesus Cristo porém, não apenas ofereceu na terra o
sacrifício de sumo sacerdote por meio da entrega de sua vida; também depois de sua ressurreição ele serve a
Deus na eternidade como sumo sacerdote celestial.
Assim como
o sumo sacerdote tinha que atravessar o santuário terrestre, a fim de prestar
serviço no santíssimo, assim Jesus penetrou os céus, para chegar à presença de
Deus.
Com essa
expressão o escritor indica a ascensão de Jesus, como já fizera em Hb 1.3.
Jesus Cristo vive agora como sumo sacerdote na glória eterna de Deus. Para a
igreja, resulta disso um compromisso de confessá-lo diante do mundo.
Na
trajetória da história da igreja até os dias atuais nos ensina que cada época
de peregrinação para os fiéis é tempo de preparação, porque traz em seu bojo a
possibilidade de apostasia.
É próprio
de nossa fraqueza humana esquivar-se dos múltiplos sofrimentos pela negação da
fé. No entanto, importa que a qualquer custo, mesmo no sofrimento, perseveremos
de forma plenamente firme no Senhor Jesus.
“Jesus é
Filho de Deus” (At 8.37). Se o escritor menciona aqui, como já fez em Hb 3.1,
apenas o nome “Jesus”, sua preocupação é destacar a circunstância extremamente
importante para a história da salvação: Jesus de Nazaré, o filho de Maria, ele
que era de carne e sangue como nós, o Senhor crucificado e ressuscitado, é
realmente o Filho de Deus (Mt 14.33; 16.16).
Para o
escritor desta carta as palavras “filho” e “sumo sacerdote” designam a essência
e a dignidade, à pessoa e a obra de Jesus, estando indissoluvelmente
interligada (Hb 7.28).
Porque não temos sumo sacerdote que não possa
compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas,
à nossa semelhança, mas sem pecado.
A
“fraqueza” do ser humano designa sua caducidade tanto no aspecto do corpo como
da fé. Sua “enfermidade” consiste em que ele repetidamente segue à tentação,
torna-se “fraco” (Mt 26.41).
Justamente
esse é o mistério incompreensível da vida de Jesus: que ele participou da nossa
“fraqueza”, mas que jamais sucumbiu a ela. Jesus venceu a tentação. Ele
comprovou “sua condição de filho de Deus confiando, obedecendo e amando
plenamente”.
Para poder
oferecer de forma apropriada sacrifício por outras pessoas, o sumo sacerdote
não apenas precisava das dádivas certas, mas também do coração certo. Ele tinha
de ser misericordioso.
Tinha que
saber condoer-se dos ignorantes e dos que erram. Durante sua vida na terra
Jesus conheceu toda a dimensão de nossa suscetibilidade à tentação e de nossa
culpa, embora ele tenha permanecido sem pecado.
Por isso,
sua intervenção intercessora em nosso favor perante Deus não resulta de sua
condescendência débil, com a qual ele ignoraria generosamente todas as nossas
falhas. Ao contrário, ele vê com maior
clareza que jamais uma pessoa na terra seria capaz de reconhecer a ameaça à
nossa vida que o pecado representa.
Isso
torna-se o fundamento de sua profunda e cordial misericórdia por nós seres
humanos, que, mesmo como crentes, continuamos suscetíveis à tentação e
vulneráveis para o pecado.
Quando o
autor queria fundamentar a exaltação de Jesus ele recorria repetidamente ao
Salmo 110.1 e também ao Salmo 110.4; e Salmo 2 para fundamentar a condição de
Filho e a dignidade real de Jesus, mas produzem também a prova do AT para o
sumo sacerdócio eterno de Jesus.
“Da posição
de Jesus como Filho de Deus origina-se tudo quanto ele pode realizar e realiza
em nosso favor como sacerdote”. A condição de filho, o sumo sacerdote e a
dignidade de rei estão unificadas de modo inseparável da pessoa de Jesus.
Nesse ponto
surge a pergunta sobre a que momento histórica se refere as palavras do AT.
Acaso trata-se, na tentação de Jesus no sumo sacerdócio, de um evento prévio à
sua vida terrena?
Ela
aconteceu no momento da encarnação, no batismo, na ressurreição ou somente na
ascensão? Quando começa o sumo sacerdócio eterno de Jesus? Deparamo-nos com um
limite da possibilidade de afirmação cristológica: Jesus é o Filho de Deus
desde a eternidade (Jo 1.1; Hb 1.1,2; 5.8), vocacionado pelo Pai para ser sumo
sacerdote.
A vocação
acontece antes da encarnação, contudo, entra em vigor na paixão e morte,
obtendo sua confirmação na ressurreição e ascensão. Está sendo ressaltada a
dependência voluntária do Filho em relação ao Pai.
Por ocasião
de sua encarnação Jesus submete-se inteiramente às ordens de Deus (J0 5.19; Gl
4.4). Assim como o sumo sacerdote do AT, assim também Cristo, enquanto sumo
sacerdote do novo povo de Deus, ofereceu sacrifícios.
Todo o
tempo de vida, toda a trajetória terrena de Jesus foi um sofrimento, uma
caminhada ao sacrifício (Fp 2.5,6). No presente texto, porém, tem-se em mente
especialmente o acontecimento do Getsêmani, a luta de oração de Jesus e a sua
morte na cruz do Gólgota.
Jesus
ofereceu “orações e súplicas”. Na oração Jesus sacrificou sua própria vontade.
Ele sabia: Deus era o único em cuja mão estava sua vida e que teria podido
mudar a sua via de paixão.
Porém ele
ora: “faça-se não a minha, mas a tua vontade” (Mt 26.42). Não obstante, o
caminho de sacrifício de Jesus não acaba no Getsemani, ele o conduz até a cruz.
Ali ele morre sob “forte clamor” (Mt 27.46, 50; Lc 23.46).
O escritor
continua descrevendo a trajetória de sofrimento do Senhor com palavras que
destaca a verdadeira natureza humana de Jesus. Ele realmente foi “tentado em
todas as maneiras como nós” (Hb 4.15).
Contudo,
acima do caminho mais difícil que Jesus teve de andar, o caminho pelo Getsêmani
até a cruz, paira o brilho da glória divina. Ele foi ouvido por causa da sua
piedade (“foi ouvido por causa do temor a Deus” – grifo do autor).
Os termos
gregos apótes eulabeias podem
significar “ouvir por temor” ou “por causa do temor de Deus”. Ambas as versões
são viáveis por causa da pluralidade de significados da expressão.
Considerando, porém, que em Hb 2.15 constam as palavras phóbos thanátou para “temor da morte”, torna-se plausível que aqui
se queria dizer “temor a Deus”.
Jesus foi
atendido por Deus. Essa certeza paira sobre todas as orações de Jesus. Ele era
capaz de orar assim: “Pai, graças te dou porque me ouviste. Aliás, eu sabia que
sempre me ouves” (Jo 11.41,42). Contudo, em suas orações Jesus nunca se esquiva
do sofrimento (Jo 12.27.28).
Por isso é
que Deus pode atender sua oração. Entretanto, por detrás dessas palavras também
sentimos o mistério da diferenciação entre atendimento e cumprimento das nossas
orações.
O
atendimento da oração de Jesus tornou-se visível no fortalecimento através do
anjo no Getsêmani (Lc 22.43). Consistiu de força para sofrer, de superação do
temor da morte, e não na reversão do caminho para a morte (2Co 12.8,9).
Depois que
o escritor expôs a incomparável magnitude do Senhor Jesus Cristo pela
contraposição com os homens de Deus no AT, Moisés e Josué, ele compara por fim,
em Hb 4.14 – 5.10, Jesus e Arão.
Também aqui
ele evidencia a sobrepujante grandeza e glória daquilo que, em contraposição a
Israel, foi concedida à igreja na pessoa do Senhor exaltada. Jesus e Arão: são
sumo sacerdotes – Arão foi o primeiro sumo sacerdote, Jesus é o último.
Ambos foram
convocados por Deus, ambos foram “tomados dentre os homens”. Mas também Jesus
foi, como Arão, verdadeiro homem (Hb 2.14). Ambos, Arão e Jesus, foram
constituídos “a favor dos homens”.
Também
Jesus veio por amor das pessoas (Hb 12.16). Ambos foram tentados, motivo pelo
qual ambos podem “compadecer-se das nossas fraquezas”. A tarefa de ambos no
Antigo e NT é representar as pessoas diante de Deus a fim de alcançar a
expiação (Hb 2.17; 5.1-3), e ambos oferecem sacrifícios.
Não
obstante, Jesus é maior que Arão. Arão foi sumo sacerdote, Jesus é o grande
sumo sacerdote. Arão foi somente um ser humano. Jesus foi também verdadeiro ser
humano, mas ele é o Filho de Deus. Ele é da eternidade. Arão foi constituído
sumo sacerdote por Moisés, Jesus foi chamado por Deus, seu Pai, para esse
serviço.
Arão teve
de oferecer primeiramente sacrifícios por si próprio, porque estava maculado de
pecado. Jesus era limpo de todo pecado. Arão oferecia dádivas e sacrifícios que
ele recebia anteriormente dos israelitas (Hb 8.3).
Ele entrava
no santuário com sangue “alheio” (Hb 9.25). Mas Jesus ofertou orações, súplicas
e lágrimas, ele sacrificou sua vontade a Deus, sacrificou sua própria vida.
Apesar de todos os sacrifícios Arão continuou sendo um ser humano imperfeito.
Jesus tornou-se pelo sacrifício de sua vida o sumo sacerdote perfeito (Hb
7.28).
O
sacrifício de Arão precisava ser repetido: uma vez por ano ele entrava no
santíssimo dessa terra (Hb 9.7,25). O sacrifício único de Jesus vale para todos
os tempos, ele atravessou os céus de uma vez por todas, para comparecer agora
eternamente perante a face de Deus em nosso favor (Hb 4.14; 8.1,2; 9.24).
Arão
descarregou os pecados de Israel sobre um animal (Lv 16.21,22), seu sacrifício
tinha somente significado simbólico, não era eficaz por si mesmo (Hb 10.4,11).
Jesus assumiu sobre si os pecados de todo o mundo (Jo 1.29; 1Pe 2.24), seu
sacrifício é eficaz para todos os tempos.
Arão tinha
de administrar somente um sumo sacerdócio transitório, cuja ordem havia sido
dada ao povo de Israel no Sinai. Mas Jesus recebeu um sumo sacerdócio perpétuo,
cuja validade está fundada na ordem eterna de Melquisedeque.
No caminho
da obediência, que conduziu por sofrimentos, Jesus tornou-se o sumo sacerdote perfeito
e ao mesmo tempo causa da salvação eterna. Assim como Jesus foi obediente ao Pai
e entrou na glória, assim também o caminho dos fiéis leva à glória unicamente
pela obediência e pelo sofrimento (At 14.22. Tm 3.12).
As linhas
divinas de salvação da antiga aliança valem igualmente para a igreja da nova
aliança. Ao mesmo tempo, porém, o serviço e a glória dos mensageiros de Deus do
AT foram cumpridos e superados por intermédio de Jesus Cristo. A imensurável
magnitude da dádiva de Deus em Jesus Cristo reluz do fundo histórico do povo de
Israel do AT e de seu sumo sacerdócio.
Jesus
Cristo é a grande dádiva de Deus. É dela que jorra para nós a força de que
precisamos para perseverar na trajetória do discipulado, ainda que sob graves
dificuldades internas e externas.
Consultas:
GONÇALVES
José. Comentarista da Lição Bíblica para Adultos EBD CPAD no 1º Trimestre
2018. A Supremacia de Cristo: Fé,
esperança e ânimo na Carta aos Hebreus
GONÇALVES
José. . A Supremacia de Cristo: Fé,
esperança e ânimo na Carta aos Hebreus. Editora CPAD. Rio de Janeiro. Outubro,
2017
HENRICHSEN
Walter A. Depois do Sacrifício – Estudo da carta aos Hebreus. Editora Vida. São
Paulo 1996
LAUBACH
Fritz. Carta aos Hebreus – Comentário Esperança. Editora Esperança. Curitiba,
2013
BOCH Darrell L. e GLASER Mitch. O Servo
Sofredor – Editora Cultura Cristã. São Paulo, 2015
CHAFFER.
Teologia Sistemática. Vl 7 & 8. Editora Hagnus. São Paulo, 2008
Bíblia
do Pregador Pentecostal
CHAMPLIN.
Novo Testamento Interpretado Versículo por versículo. Vl 5. Editora Hagnus. São Paulo, 2012
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