Subsídios
Teológicos e Bibliológicos para Estudo sobre:
Lição
01 - A Carta aos Hebreus e a Excelência de Cristo - 07.01.18
Texto Bíblico: Hebreus 1.1-14
Por: Pr. João Barbosa
Introdução – Acerca
da carta aos Hebreus, assim se expressou Champlin: Apesar de que poucos escritos
do NT sejam mais impressivos em sua eloquência, beleza e força de expressão,
nenhum livro dessa coleção apresenta maior número de problemas sem solução do
que esta Epístola aos Hebreus.
Até o seu próprio
título tem sido criticado, porquanto não se tratou de uma Epístola e sim de um
excelente tratado, dirigido aos crentes de todas as regiões e não apenas a alguns
isolados grupos de hebreus convertidos ao cristianismo.
“É chamada de
Epístola, e geralmente o é, mas de tipo todo peculiar. De fato, conforme alguém
já disse, começa como um tratado, prosegue como um sermão, e termina como uma
epístola”.
Os destinatários – Nos tempos
bíblicos usava-se o termo judeu quase como se usa hoje o termo cristão.
Situação paralela existia nos tempo em que foi escrita a Epístola aos Hebreus.
Os termos judeus e hebreus podiam descrever a raça de uma pessoa ou ambas.
Muitos judeus que o
eram por nascimento, eram de certa forma, estranhos ao que ensinava sua
religião. Isto é, desconheciam o A.T. Todavia, o escritor desta carta supunha
que seus leitores tinham razoável compreensão da Torá, ou seja, os cinco livros
de Moisés.
Isto indica que os
destinatários eram, em sua maioria, judeus que conheciam as Escrituras. Também
eram cristãos.
Sabemos também, que
eram cristãos de terceira geração. O autor adverte: “Como escaparemos nós, se
negligenciarmos tão grande salvação? A qual tem sido anunciada inicialmente
pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram” (Hb 2.3).
A fonte da mensagem
era o próprio Jesus; depois havia “os que a ouviram”, a saber, os apóstolos. A
terceira geração constitui-se do escritor e dos destinatários que nesta
passagem são referidos pelos pronomes “nós” e “nos.
Data em que foi escrita –
O autor dá-nos duas evidências quanto à data em que escreveu a carta. A
primeira conta das muitas referências que ele faz à perseguição que a igreja
sofria.
Por exemplo: “Porque
não somente vos compadecestes dos encarcerados, como aceitastes com alegria o
espólio dos vossos bens, tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio
superior e durável” (Hb 10.34).
Por volta de 64
A.D., quando Nero era imperador, a igreja cristã sofreu tal perseguição. A
cidade de Roma, capital do império, ardera em chamas, como resultado de ação
criminosa, conforme se conjeturava; muitos suspeitavam que Nero ateara fogo à
cidade, para satisfazer a objetivos pessoais.
Para que as atenções
não se voltassem sobre ele, o imperador lançou a culpa aos cristãos.
Considerava-os como membros de uma sociedade secreta subversiva, perigosa para
o império romano; devia, portanto, ser perseguida e exterminada.
Os muitos
aprisionados foram submetidos a atrocidades brutais e humilhantes antes de
serem mortos por processos cruéis e obscenos.
A segunda evidência
encontra-se na referência que o escritor faz ao sistema sacrificial judaico.
Ele admoestava os cristãos hebreus a não continuarem com o ritual de sacrificar
animais como meio de obter o perdão dos pecados (Hb cap. 10).
Esses sacrifícios
eram realizados somente no templo de Jerusalém. Em 70 A.D., Tito, general
romano, destruiu Jerusalém e o templo; os sacrifícios de animais como parte
integrante do templo judaico, chegaram ao fim. Até hoje os judeus não os
restabeleceram.
Visto como o autor
se dirigia a judeus que ainda ofereciam sacrifícios, a carta aos Hebreus deve
ter sido antes de 70 A.D. Portanto, estas duas evidências internas levam-nos a
uma data que se situa entre 64 A.D. (a perseguição de Nero) e 70 A.D. (o saque
de Jerusalém).
O Autor – O problema mais
difícil é o que se relaciona com o autor. Dos muitos possíveis candidatos, três
se destacam como os mais prováveis. Um é o apóstolo Paulo, com sua especialização
em Judaísmo.
A versão inglesa,
conhecida como “King James”, atribui-lhe a autoria da carta, porém a nova
tradução King James comemorativa aos 400 anos corrigiu essa falha e já não
atribui mas a Paulo a autoria dessa carta como o fazem muitos evangélicos.
Depois vem Barnabé,
o levita. Diversas de suas cartas foram encontradas entre os escritos dos pais
da igreja primitiva. O terceiro forte concorrente é Apolo, de quem se disse que
era “homem eloquente e poderoso nas Escrituras” (At 18.24). Embora muitos
tenham concluído que Paulo é o autor, os pais da igreja e muitos eruditos através
dos séculos têm-se dividido com relação ao problema.
Como disse Orígenes,
pai da igreja primitiva: “É provável que só Deus sabe quem escreveu a Epístola.”
O melhor é deixar o problema da autoria como o faz F.F.Bruce, a despeito das
atribuições tradicionais e das brilhantes conjeturas, sua autoria é
desconhecida”.
A maior, a mais sublime revelação de Deus aos
homens foi a encarnação do verbo da vida: Jesus Cristo (Hb 1.1-4) – Deus falou de modo ímpar.
A carta aos Hebreus menciona logo na primeira fase, o fato fundamental de
qualquer conhecimento do Deus autêntico.
Deus falou: Toda
busca e indagação do coração humano por Deus, nas múltiplas formas de vida e
reflexão religiosa, jamais poderia ter sido forçada – isso Deus realizou por
iniciativa própria; ele revelou-se!
Toda a revelação do
passado, e no presente tem origem no próprio Deus, sua palavra está no início
de toda história. Por meio de sua palavra de onipotência Deus chamou o cosmo à
existência (Gn 1.1,2; Hb 11.3).
No meio da história
da humanidade, a palavra de Deus em Jesus Cristo tornou-se pessoa (Jo 1.1-3,
14; Ap 19.13); no final da história, a palavra criadora de Deus fará surgir um
novo céu e uma nova terra (Ap 21.1); aquele que está assentado no trono disse: Eis
que faço novas todas as coisas (Ap 21.5); a revelação de Deus determina o curso
da história de eternidade a eternidade.
Deus igualmente fala
na história. Ele executa seu plano no decurso dos acontecimentos, no âmbito dos
povos. O N.T. porém, não apenas conhece uma revelação genérica de Deus ao mundo
gentílico (Mt 17.26,27; Rm 2.14,15), mas ele está consciente de que Deus agiu
de modo especial na história de Israel:
Havendo Deus,
outrora falado muitas vezes e de muitas maneiras, falado aos pais, pelos
profetas. Com essa frase o apóstolo localiza-se conscientemente na tradição do
A.T.
A história dos pais é
para ele a história do falar divino. Nesta retrospectiva, não pensamos apenas nos
profetas literários, cuja mensagem nos ficou preservada até o presente, pelos
livros proféticos do A.T.
Mas toda história de
Israel é acompanhada pela palavra dos profetas (Jr 7.25). Abraão e Moisés já são
designados profetas (Gn 20.7; Dt 18.15,18; 34.10; Os 12.14). O tempo dos
profetas começa propriamente com a decadência do sacerdócio sob Eli e seus
filhos e com o início do reinado terreno em Israel.
Geração após geração
até a destruição de Jerusalém, Deus envia ao seu povo profetas que foram
incumbidos por ele de transmitir a Israel e a seus reis a mensagem de Deus. Os
profetas traziam a Israel uma palavra de juízo e de clemência (2Re 17.13; Is
61.1,2; Jr 23.25-32).
Eram pessoas que se
encontravam sob uma iluminação especial do Espírito Santo (1Pe 1.11) e sob
proteção singular de Deus (Sl 105.15). Deus dava aos profetas conhecimento dos
seus propósitos (Am 3.7). Os profetas eram os portadores dos mistérios das
revelações de Deus.
O A.T. conhece uma
ampla diversidade de formas de revelação: Muitas vezes e de muitas maneiras
Deus falou outrora. Existe uma diversidade nas modalidades de revelação. Deus
fala ao ser humano por meio de sonhos (Gn 20.3; 28.10; Dn 7.1);
Por aparição de
anjos (Gn 19.1); por visões (Sl 89.20; Is 6.1; Jr 1.11; 24.1; Ez 1.1; Am 7.1,
4, 7; Os 12.11); por audições (Gn 22.11; 1Sm 3.4,10), até por meio de um animal
Deus fala (Nm 22.28; 2Pe 2.16); por escritos em paredes (Dn 5.5).
Em Jó 33.14-22 Deus
fala por sonhos e enfermidade. Para o escritor da carta aos Hebreus toda esta
grandiosidade de adoração e de revelação da parte de Deus no A.T. para o
escritor desta epístola tudo era revelação limitada, preliminar, parcial e
inconclusa. É por isso que o escritor afirma: Nestes últimos dias nos falou
pelo filho.
O inimaginável que ultrapassa
todas as possibilidades e as limitações do nosso pensamento veio a ser
realidade. Aquilo que os anjos anunciaram aos pastores de Belém “Hoje vos
nasceu na cidade de Davi, o Salvador” (Lc 2.11); aquilo que o apóstolo João
testemunhou “O verbo se fez carne” (Jo 1.14);
“O que vimos com os nossos
olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da palavra da vida
(1Jo 1.1); o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29); “Eu e o Pai
somos um” (Jo 10.30).
“Quem vê a mim vê o
Pai” (Jo 14.7-9); Ao falar pelo seu Filho,
é impossível que chegue mais perto dos seres humano do que na pessoa do Filho
Jesus Cristo. “Essa é a forma mais sublime e perfeita de nosso Deus falar
conosco”. A vinda do Filho de Deus ao nosso mundo.
Sua vida, seu falar
e agir, seu sofrimento e morte constituem o presente incomparável de Deus à
humanidade pecadora, que vive na rebelião contra Deus. Jesus Cristo é o dom
inefável de Deus (2Co 9.15). Ele além de revelação perfeita é ao mesmo tempo a última
revelação de Deus aos homens.
Jesus Cristo é Criador
do mundo, Redentor do mundo; e Consumador do mundo (Jo 1.14, 18; 2Co 3.18; 4.6;
Cl 1.17; Sl 104. 29,30; 2Pe 3.5,7; Ef 1.7; Hb 9.14,26; Sl 110.1; Mc 16.19; At
2.33; Ef 1.21; Hb 8.1; 10.12; Mt 28.18).
A superioridade do Filho de Deus sobre os anjos (Hb
1.5-14) – O Filho é o primogênito, os anjos são entes que
o adoram. Em Hb 1.7-12, ele enfatiza as insígnias de serviço: Os anjos são
servos de Deus (Hb 1.14), o Filho é o rei e criador do mundo, ele o criou e
também governa.
As passagens do A.T.
são referidas diretamente a Cristo. Jesus é o Filho (Hb 1.5), ele é Deus (v.8),
ele é o Senhor (v.10); ele serve como profeta (v 2), como sacerdote (v. 3), e
como rei (v.8,9). Nisso é que ele é superior aos anjos.
O apóstolo justifica
de modo indireto sua declaração referente à superioridade do Filho sobre todos emissários
celestiais de Deus. Ele levanta a pergunta: Pois a qual dos anjos disse jamais:
Tu és meu filho hoje te gerei?
No A.T. o primogênito
tinha a primazia entre seus irmãos. Ele era o filho amado, a ele competia a dupla
parte da herança (Dt 21.17). Ele governava na família, os irmãos mais novos
eram sujeitos a ele. Também Jesus Cristo como primogênito (Lc 2.7), é o filho
amado (Mc 1.11).
É assim que o próprio
Senhor afirma na parábola da vinha: Restava-lhe ainda “um, seu filho amado; a
este lhes enviou, por fim” (Mc 12.6). Cristo é aquele que é amado
incomparavelmente por Deus, ao qual foi entregue o governo do mundo.
Por isso, ele não é
apenas o “rei de Israel” (Jo 1.49), mas a ele estarão sujeitos todos os reis e
governantes da terra (Ap 19.16). Ao lado desse primogênito, o Filho de Deus, o
Pai coloca a “igreja dos primogênitos” (Hb 12.23). Pessoas que receberam o “Espírito
de adoração” (Rm 8.15), uma multidão de irmãos que no seu ser foram feitos
iguais, entre os quais Cristo é o primogênito (Rm 8.29).
O primogênito é o
amado e eleito, que foi chamado à soberania. Da mesma forma, a igreja dos
primogênitos, a igreja de Jesus, é uma multidão de amados e eleitos, que será
participante da soberania do Filho (Ap 20.6; 22.5).
O primogênito detém
o ministério celestial de rei e sacerdote. De forma análoga também os membros da
igreja dos primogênitos foram feitos por Deus reis e sacerdotes (Ap 1.5,6;
5.10).
A unidade do primogênito
com a igreja dos primogênitos expressa-se de modo perfeito no fato de que a
unidade de reinado e sacerdócio, profetizada no A.T. (Zc 6.13) é cumprida em
Cristo e alcança o encerramento na comunidade aperfeiçoada e glorificada.
“Disse o Senhor ao
meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por
escabelos dos teus pés. Jurou o Senhor e não se arrependerá: Tu és um sacerdote
eterno segundo a ordem de Melquisedeque” (Sl 110.1,4).
Consultas:
GONÇALVES
José. Comentarista da Lição Bíblica para Adultos EBD CPAD no 1º Trimestre 2018.
A Supremacia de Cristo: Fé, esperança e ânimo
na Carta aos Hebreus
GONÇALVES
José. . A Supremacia de Cristo: Fé,
esperança e ânimo na Carta aos Hebreus. Editora CPAD. Rio de Janeiro. Outubro,
2017
HENRICHSEN
Walter A. Depois do Sacrifício – Estudo da carta aos Hebreus. Editora Vida. São
Paulo 1996
LAUBACH
Fritz. Carta aos Hebreus – Comentário Esperança. Editora Esperança. Curitiba, 2013
BOCH Darrell L. e GLASER Mitch. O Servo
Sofredor – Editora Cultura Cristã. São Paulo, 2015
CHAFFER.
Teologia Sistemática. Vl 7 & 8. Editora Hagnus. São Paulo, 2008
Bíblia Sagrada
King James – Tradução Atualizada
CHAMPLIN.
Novo Testamento Interpretado Versículo por versículo. Vl 5. Editora Hagnus. São Paulo, 2012
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