Subsídios
Teológicos e Bibliológicos para Estudo sobre:
Lição
02 - Uma Salvação Grandiosa - 14.01.18
Texto Bíblico: Hebreus 2.1-18
Por: Pr. João Barbosa
Introdução: Vimos que os cristãos hebreus enfrentavam tempos de perseguição.
Considerando que não havia grandes diferenças entre judaísmo e cristianismo na
mente desses cristãos, eles eram tentados a passar da religião cristã proscrita
à religião judaica que gozava de existência legal, a fim de escapar das
perseguições e confisco pelo império romano.
Voltar-se
de Cristo para Moisés nesta época de perseguição seria um erro tão grave como
aquele que Israel cometeu em Cades-Barneia, quando o povo se rebelou contra
Moisés (Nm caps 13 e 14).
O apóstolo
se dirige aos judeus dispersos que conheciam bem a Torá, falando-lhes da
salvação de Cristo (Hb 2.3). Considerando-se a grandiosa origem de nossa
salvação e que até mesmo os anjos dos céus estão envolvidos, procurando trazer
essas coisas a nossa atenção, cabe-nos atentarmos para essa tão grande
salvação.
Porque
agora, Deus falou não através de profetas ou de anjos. Deus falou através do
Filho, por Cristo, mediador do novo pacto; está acima dos anjos que foram
mediadores do antigo pacto.
Origem: Nossa palavra “salvação” vem do latim “salvare” que significa “salvar”,
e de “salus” que significa “saúde” ou “ajuda”. A palavra hebraica traduzida em
português para “salvação” indica “segurança”.
O termo
grego “seteria” e suas formas cognatas tem a ideia de “cura”, “saúde”
recuperação”, “redenção”, “remédio”, “bem estar” e “resgate”. A ideia de “salvar” quando usada
para indicar a salvação espiritual, fala sobre o “livramento” do pecado e da degradação
moral e das penas que devem seguir-se
como o julgamento divino.
Mas o
“livramento” também nos confere algo a saber: O perdão, a justificação, a
transformação moral e a vida eterna, que consiste na participação, na própria
vida de Jesus, no seu “tipo” de vida.
Desenvolvimento: Contudo, o autor diz muito mais: o alvo do cristão não consiste apenas
em ser convertido e salvo. Jesus afirmou: “Eu vos escolhi a vós outros e vos
designei para que vades e deis frutos e o vosso fruto permaneça” (Jo 15.16).
O propósito
de Deus é transformar essencialmente os que creem, e torná-los semelhantes a
Jesus (Rm 8.29). Seu alvo é que Cristo ganhe forma em nós (Gl 4.19).
Visto que o
apóstolo descreve na história de Israel o esboço das linhas básicas da história
da salvação do NT, ele recorre às ordens de Deus do AT para fundamentar a
responsabilidade espiritual dos fiéis.
Israel
obteve a lei pela mediação dos anjos, a igreja recebeu a palavra da graça
através do Filho (Dt 33.2; At 7.38,53; Gl 3.19; Jo 1.17). Deus mesmo havia
avalizado o cumprimento de sua ordem legal em Israel: “Maldito aquele que não
confirmar as palavras desta lei, não as cumprindo” (Dt 27.26; Gl 3.10).
Quem se
subtrai à palavra de Deus, quem se rebela contra a vontade de Deus, quem
transgride propositadamente a ordem de Deus é atingido pelo castigo justo de
Deus, num tempo e numa proporção que estão reservadas ao arbítrio de Deus.
O
julgamento de Deus não precisa suceder imediatamente à transgressão do ser
humano, mas com certeza o atingirá (Gn 15.13-16; 44.16; Js cap.7; Ec 8.11).
Quanto maior, porém, a dádiva, tanto maior também a responsabilidade: Como
escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?
Deus vem a
nós pessoalmente em Jesus Cristo (2Co 5.19). Ele se oferece a si próprio. Ele nos
concede perdão, nova vida e salvação do juízo. Aquilo que já é concedido ao
fiel aqui na terra como grandeza espiritual invisível – que “habite Cristo no
vosso coração” (Ef 3.17).
Isso será
exposto à plena luz na consumação da salvação (Rm 8.24). A expressão “desprezar
a salvação” é explicada mais de perto em Mt 22.5.
A magnitude da nossa reponsabilidade – Na parábola das núpcias reais Jesus descreve a mesma situação que
também move o apóstolo na relação de sua carta: (Hb 10.28,29; 12.25; Mt 3.7,8;
Hb 4.2; Mc 12.14; At 10.37,38; 1.21,22; 1Co 15.5-8; Lc 1.2; 1Co 11.23; 15.1-3;
Rm 6).
Deus
confirma sua palavra. Ele repetidamente intervém no curso da história, ele
autentica a pregação do Evangelho com atos poderosos, garantindo assim a
certeza da salvação.
Atos dos
Apóstolos informa como Jesus Cristo acompanha o caminho de suas testemunhas e
torna realidade as suas promessas (Mc 16.17,18,20). A ação de Deus através de
seu Espírito Santo sempre volta a tomar forma visível de uma ou de outra
maneira.
Sinais,
prodígios e vários milagres (At 14.3) devem evidenciar que a redenção através
de Cristo não abrange somente a alma e o espírito, mas toda existência terrena
do homem e finalmente também toda criação (Rm 8.19; Ap 21.1).
A superioridade do Filho do Homem
sobre os anjos – Mais uma vez o apóstolo retorna a
comparação da magnitude de Jesus com o poder dos anjos. Podemos levantar a
seguinte pergunta: será que os cristãos, aos quais se dirige o presente
escrito, já estavam sendo influenciados pelo gnosticismo? Sob a ação de
filosofia grega, de cultos orientais de mistérios e de doutrinas judaicas
tardias sobre anjos?
Formaram-se
já no primeiro século sistemas doutrinários que consideravam os astros como
anjos ou moradias de anjos, atribuindo a esses anjos uma influência especial
sobre o domínio das pessoas e dedicando-lhe sua veneração.
O apóstolo
Paulo adverte os cristãos de Colossos diante de uma “adoração de anjos” falsa e
catastrófica (Cl 2.18 BLH). Em todo caso, a carta aos Hebreus destaca intensamente:
Jesus é o eterno Filho de Deus, os anjos em contrapartida são seres criados do
mundo celestial.
Os anjos
são mediadores da lei, Jesus é o portador da salvação. Agora os anjos detêm um
domínio restrito e exercem sua influência sob a configuração presente do mundo.
No fim dos tempos, porém, impor-se-á a vitória de Jesus e sua restrita
soberania mundial.
A igreja
aguarda o novo mundo, cuja característica será a justiça perfeita de Deus. É a
Nova Era mundial que irromperá com a volta de Jesus (1Ts 4.13) e que chegará à
consumação pela nova criação do céu e da terra (Ap 21.1).
Enquanto
até agora Jesus Cristo como Filho de Deus ocupou o centro da mensagem
apostólica desde a eternidade, Jesus surge nesse momento em nosso campo de
visão como o Filho do Homem. Novamente é uma citação do AT que serve como ponto
de partida.
A humilhação e exaltação do Filho do
Homem – O Sl 8.5-7 adquire uma importância vital
para o apóstolo. O ser humano de que se está falando é o “Filho do Homem”. O
apóstolo encontra nessa ideia o enfoque para a interpretação messiânica do Sl
8.
O panorama
da riqueza profética do AT deve ser mais uma vez descortinada aos leitores de
Hebreus. Jesus Cristo é o “Filho do Homem”, sobre o qual já são enunciadas
profecias no Sl 8. Ele, que possui a glória divina, torna-se verdadeiramente “o
Homem”.
Nele, o
segundo Adão (Rm 5.14). Deus coroa o itinerário de seu Filho ao transferir-lhe
a soberania real sobre o universo: Todas as coisas sujeitaste debaixo de seus
pés (Sl 8.7; 110.1). Estão estritamente interligados em 1Co 15.25-27; Ef
1.20-22). Ninguém pode esquivar-se da autoridade e do poder do rei celestial.
Cristo detém “poder sobre toda a carne” (Jo 17.2).
Agora,
porém, sua soberania universal ainda não está visível. Esse “ainda não” que
aponta para o futuro tem paralelos em (Mc 13.7; 1 Jo 3.2; Ap 17.10,12). Em
seguida o escritor da carta aos Hebreus pronuncia mais uma vez com clareza: Por
um pouco, tendo sido feito menor do que os anjos, Jesus “Jesus foi humilhado
por pouco tempo abaixo dos Anjos”.
Durante sua
vida na terra nosso Senhor teve seu lugar no espaço e no tempo. Por sua
constituição corporal ele estava sujeito a todas as leis da constituição
humana, conheceu fome e sede, cansaço e dores, alegria e luto.
Seu
rebaixamento demonstrou-se ainda mais no fato de que pessoas o detiveram,
maltrataram e o mataram, e que, através dos seus adversários terrenos, ele, em
última análise, foi abandonado nas mãos de poderes satânicos.
Jesus podia
dizer: “esta, porém é a vossa hora e o poder das trevas” (Lc 22.53; Jo 14.30;
19.11). Cristo trilhou esse caminho para salvação do mundo inteiro: Ele assumiu
sobre si a morte em favor de todos.
Uma salvação eficaz: Vitória sobre o
Diabo – O NT constata que a vitória de Jesus sobre
todos os poderes antidivinos já começa durante a sua atuação na terra (Lc
10.18; Jo 12.31; 2Tm 1.10). Na cruz é consumada a vitória. Hb 2.14 nos lembra
que a morte de Jesus é o cumprimento da promessa do AT em Gn 3.15: Ele esmagou
a cabeça da serpente.
Com a volta
de Jesus e a ressurreição dos mortos sua vitória sobre o Diabo e a morte será
manifesta de todo o mundo (1Co 15.26, 54-57).
O
Apocalipse de João, por fim, nos descreve o aniquilamento do Diabo e de todos
os poderes hostis a Deus como um dos grandes eventos dos fins dos tempos (Ap
12.7-10; 20.10,14,15) que antecedem a nova criação do céu e da terra.
Como essa
vitória de abrangência mundial pode ser conquistada somente pelo fato de o
Filho do Homem ter passado pessoalmente pela tentação e tribulação do medo
diante da morte (Lc 12.50; Mc 14.33,34; Jo 12.27,28; Hb 5.7).
Na
profundeza dos sofrimentos ele superou o temor da morte e, morrendo, venceu o
poder do Diabo. Temer a morte é característico da nossa existência natural
humana. Mas Jesus destituiu o poder da morte (2Tm 1.10). Desta maneira os
membros da igreja também são libertados do medo da morte.
Podem agora
encarar sem temor o fim de seu tempo de vida na terra, porque para eles a morte
se torna passagem para a eterna glória de Deus.
O autor de
Hebreus faz aqui uma declaração fundamental. Ele quer dirigir o olhar dos fiéis
para um fato irremovível, colocado por Deus é que é de imensurável importância
para o caminho de cada cristão para a morte.
Com essa
afirmação o apóstolo não elimina nem a seriedade nem a gravidade da morte. Ele
está bem ciente de que também para quem crê a decadência das forças físicas, a
trajetória para a morte, pode tornar-se uma caminhada pelo “vale escuro” e ser
cheia de aflição e tribulação.
Contudo, ao
mesmo tempo, ele também sabe: O próprio Cristo nos acompanha no limiar de nossa
vida para o outro lado, para a eternidade.
No final do
presente capítulo o apóstolo menciona mais uma vez as consequências da
encarnação de Jesus (Hb 2.14). Da condição humana plena de Jesus faz parte
todas as tentações que ele passou no seu ministério.
Aquilo quem
os evangelistas nos informam sobre a tentação de Jesus no deserto (Mt 4.1-11),
não é uma encenação religiosa, mas um acontecimento em que já está tudo
determinado.
A gravidade da tentação reside principalmente
em que o Diabo espera algo de Jesus que lhe compete como Filho de Deus. Ele
teria tido o direito de transformar pedras em pão, Ele também bem poderia ter
se lançado do pináculo do templo e os anjos teriam vindo em seu auxílio.
Mas
precisamente nisso Ele vence a tentação, renunciando espontaneamente em
obediência a seu Pai Celestial, ao seu poder e à sua glória divinas. Lucas
encerra o relato sobre a tentação de Jesus no deserto com as palavras: “Depois
que o Diabo tinha terminado todas as tentações, apartou-se dele até o momento
oportuno” (Lc 4.13).
O tentador,
portanto, não deixou Jesus em paz (Mt 16.22,23). Na paixão de Jesus a tentação
chegou ao ápice. Quando os escribas e anciãos nas últimas horas de vida de
Jesus lhe disseram: “Desça da cruz, e creremos nele (Mt 27.42).
Mais uma
vez estava tudo em perigo. Jesus teria tido o direito e o poder de descer da
cruz, mas ele sabia que com isso não seria cumprida toda vontade de Deus,
motivo pelo qual permaneceu na cruz e resistiu a essa tentação (Mat 26.53,54).
Conclusão – Na paixão e na morte ele atravessou uma profundidade de tentação como
jamais um ser humano a sofreu nem antes nem depois dele. Entretanto, a consequência dessa realidade na
história da salvação de importância decisiva para a igreja de Jesus é que Jesus
pode socorrer os Filhos de Deus aflitos e tentados em qualquer situação.
O
“sofrimento solidário” com os Filhos de Deus atribulados (Hb 4.15) leva-o a
ajudá-los. A vitória derradeira de Jesus neste mundo (Hb 2.5), também inclui a
vitória de Jesus sobre a tentação na vida dos fiéis.
Consultas:
GONÇALVES
José. Comentarista da Lição Bíblica para Adultos EBD CPAD no 1º Trimestre
2018. A Supremacia de Cristo: Fé,
esperança e ânimo na Carta aos Hebreus
GONÇALVES
José. . A Supremacia de Cristo: Fé,
esperança e ânimo na Carta aos Hebreus. Editora CPAD. Rio de Janeiro. Outubro,
2017
HENRICHSEN
Walter A. Depois do Sacrifício – Estudo da carta aos Hebreus. Editora Vida. São
Paulo 1996
LAUBACH
Fritz. Carta aos Hebreus – Comentário Esperança. Editora Esperança. Curitiba,
2013
BOCH Darrell L. e GLASER Mitch. O Servo
Sofredor – Editora Cultura Cristã. São Paulo, 2015
CHAFFER.
Teologia Sistemática. Vl 7 & 8. Editora Hagnus. São Paulo, 2008
Bíblia
Sagrada King James – Tradução Atualizada
CHAMPLIN.
Novo Testamento Interpretado Versículo por versículo. Vl 5. Editora Hagnus. São Paulo, 2012
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