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sábado, 22 de outubro de 2016

O Milagre da Fé

Poema de Mario Barreto França
Por: Laudicéa Barboza

Extraído do livro “SOB OS CÉUS DA PALESTINA”
Casa Publicadora Batista - 4ª edição Rio, 1933



Tarde sentimental. O mundo se adornava
Dos fulgores do sol, que aos poucos reclinava.
O campo, o gado e, ao longe, o recorte do monte,
Esbelto, limitava as curvas do horizonte...

As casas, os currais, as plantações e o rio,
Tudo aquilo compunha um quadro luzidio.

Abraão inclinou-se à oração costumada,
Para elevar a Deus sua alma iluminada
Pela luz da mais pura e doce gratidão...

E, estando ele inda a orar, Deus lhe falou: -“Abraão,
Toma, agora, o teu filho, o teu único filho,
-Isaque- que amas tanto e cujo nome é o brilho
Que te enfeita de luz o coração de pai;

Toma-o, contigo, e toma a lenha e o fogo, e vai
À terra de Moriá e, ritualmente, enfim,
No altar de uma colina, oferece-o a mim!”

Ah! Que prova de amor difícil e pungente
O Senhor exigia!...
E, quem é pai somente

De um único filhinho, inocente e querido,
Poderá calcular esse instante dorido,
Que, calado, sofreu o velho pai Abraão.

Por que Deus não pediu seu próprio coração?!
Seria mal menor, que a morte findaria...

Mas a dor de perder seu filho ficaria
Magoando-o, eternamente...
E, nesse pensamento,

Ajoelhou-se e elevou o olhar ao firmamento...
Mas no dia seguinte, à luz da madrugada,
Abraão com o filho amado iam seguindo a estrada.

Pairavam, lá no céu e em toda a natureza,
O silencio, o deserto, a saudade e a tristeza...
Apenas, de momento a momento, o pipilo
De um pássaro acordava o matagal tranqüilo.

-“Meu pai” –(falou Isaque). _”O que queres meu filho?”
-“Levamos fogo e lenha; e a vítima onde está?!”
-“O Senhor proverá, meu filho, proverá!...”

E a voz do patriarca, enternecida e rouca,
Tristemente morreu, sufocada na boca,
Porque ali, talvez, o derradeiro instante
Que ele olhava do filho o plácido semblante...

Mas Jeová prometera e o faria, decerto;
Como ele iria, então povoar o deserto?...
Sim, Jeová era grande, era forte e podia
Seu filho reviver para a sua alegria.

Pronta a lenha e o altar, sobre o monte indicado,
Abraão depôs sobre ele o seu filho estimado...
E, no momento extremo em que ia executá-lo,

Sentiu a mão de Deus, possante, segurá-lo:
-“Abraão, não faças tal!” E olhou, e viu ao lado,
Pra aquele sacrifício, o cordeiro almejado.

-“Bendito serás tu na tua descendência!”
O Senhor lhe falou, na sua onipotência.
Era a benção de Deus e a graça refletida


No milagre da fé para o exemplo da vida.
Que ventura maior Jeová lhe ofertaria
Que o seu filho poupar para a sua alegria?!

E ali, no templo ideal da natureza em flor,
Sobre o fogo da crença e ao incenso do amor,
O velho patriarca, a Deus, em oração,
Sua alma ofereceu no altar da gratidão.

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