Subsídios Teológicos e Bibliológicos
para Estudo sobre:
Lição 04
- Jesus é Superior a Josué – O meio de entrar no repouso de Deus - 28.01.18
Texto Bíblico: Hebreus 4.1-13
Por: Pr. João
Barbosa
O autor da carta aos Hebreus fez uma série de
exortações estabelecendo como fundamento a rota do êxodo sob a liderança de
Moisés. Tendo o grande legislador hebreu morrido, coube a Josué filho de Num,
um dos auxiliares mais próximos do grande líder hebreu, a missão de levar o
povo e com eles entrar na terra prometida (Js 1.1).
Para o antigo povo de Deus, a entrada em Canaã
significava o descanso da jornada e o cumprimento das promessas de Deus, só que
o autor de Hebreus destaca que esse descanso, de fato, nunca aconteceu em sua
plenitude.
E não aconteceu porque não assim teria de ser,
mas, sim, porque a incredulidade e a rebeldia deles não permitiram. Deus não
decretara nada daquilo que negativamente marcara seu antigo povo.
Da mesma forma, os destinatários da carta aos
hebreus não podia responsabilizar a Deus pelo fracasso daqueles que chegariam
para trás.
O autor alerta que a coisa parecia repetir-se,
não mais rumo a conquista da Canaã terrestre, mas, agora, na trajetória da Canaã
celestial. Esse descanso é entendido pelos intérpretes como a entrada na nova
aliança.
Nesse aspecto, o autor mostra que alguns se
excluíram dele porque não receberam com fé a mensagem do evangelho (Hb 4.1,2).
Essa falta de compromisso com a mensagem da
cruz colocava-os numa posição de perigo. Já que a entrada na nova aliança exige
um posicionamento corajoso ao lado de Cristo e de sua igreja.
A promessa do verdadeiro descanso de Deus vale
para toda igreja de Jesus Cristo em todos os tempos até a sua parousia ou sua
segunda vinda. Ela nos é oferecida na Palavra de Deus já nos escritos do AT e
deverá chegar ao cumprimento pleno segundo a vontade de Deus.
Contudo, podemos ficar de fora dessa
consumação por meio de incredulidade e desobediência. “Quem lança fora a
promessa, a si próprio se priva do socorro divino”. Porque também a nós
foram anunciadas as boas novas, como se deu com eles.
Repetidamente o escritor aos Hebreus destaca o
paralelismo entre o acontecido ao povo de Deus do AT e do NT. A ação de Deus em
Israel é uma alerta para a igreja de hoje. Israel recebeu a promessa de “entrar
no descanso” (Dt 12.9,10).
A igreja corresponde no NT a promessa de
“entrar no reino de Deus” (Mt 5.20; 7.21; Jo 3.5). Mas a palavra que ouviram
não lhes aproveitou, visto não ter sido acompanhada na fé daqueles que a
ouviram.
Não se trata de apenas ouvirmos a palavra de
Deus, mas de que também a acolhamos com fé, e que nos apropriemos dela, a fim
de que se torne parte constitutiva de nosso ser mais íntimo.
Nós, porém, que cremos, entramos no descanso,
conforme Deus tem dito. O “descanso”, que para o escritor desta carta orientado
no AT, é uma metáfora da glória e majestade imutável de Deus, não constitui,
afinal, apenas uma realidade vindoura, porém já está presente desde aquele
tempo quando a obra criadora de Deus na fundação do mundo estava concluída (Ex
31.17).
Depois desse descanso de Deus sua ação
criadora no cosmo foi encerrada, mas sua ação criadora relativa á salvação da
humanidade caída continuou. Essa restauração da parte de Deus, que consiste na
participação das pessoas na glória de Deus (Hb 9.10), é prometida novamente
pelas palavras do (Sl 95.7-11).
Entretanto, quando Deus faz uma promessa aos
homens ele tem o propósito de cumpri-la (Jr 1.12). A geração do deserto não
alcançou a promessa “o descanso” na terra de Canaã como imagem do “repouso”
eterno de Deus.
A desobediência dos homens, no entanto, não
pode anular o plano de Deus e sua
promessa. É bem verdade que, tanto no Antigo como no NT o próprio ser humano
pode excluir-se tanto das promessas de Deus bem como da salvação.
Porém, neste caso, Deus, enfim, chama outras
pessoas, com as quais leva ao alvo o seu plano salvador: Ora, se Josué lhes
houvesse dado descanso não falaria posteriormente a respeito de outro dia.
Mais uma vez o escritor relaciona a promessa
do “descanso” para Israel (Dt 12.9,10; Js 1.15). Com a renovada promessa do
descanso de Deus, que ele encontra anunciada no Sl 95.7-11.
Ao refletir sobre a palavra da Escritura no AT
descortina-se diante do salmista um sentido duplo da Escritura. O “descanso”
assegurado para Israel consistia na posse da terra de Canaã e ao mesmo tempo no
estado de paz prometido ao povo de Deus naquela terra.
Ainda que por culpa própria, por
desconsideração e desobediência, Israel não experimentasse a verdadeira paz (Js
cap.2; Jz cap 2), o escritor sabe muito bem que na ocupação da terra de Canaã
Deus cumpriu a sua promessa perante Israel.
Israel é testemunha de que Deus executou a sua
palavra numa série de acontecimentos históricos. No entanto, o cumprimento
terreno de uma promessa a Israel jamais é a última coisa.
Ele não impõe limites à atuação de Deus, mas é
somente algo penúltimo e aponta para tempos mais distantes: Na igreja, em sua
jornada terrena, bem como em sua consumação da glória, as promessas de Deus
encontrarão um cumprimento muito mais abrangente.
O escritor não está mencionando que também o
povo de Israel, após o seu retorno para Deus no fim dos tempos, participará do
cumprimento pleno das promessas de Deus (Rm 11.26).
Apesar de sua desobediência, Israel continua
sendo povo de Deus no tempo da igreja, “porque Deus não muda de ideia a
respeito de quem ele abençoa” (Rm 8.9 – BLH). Por isso o autor prossegue:
Portanto, resta um repouso para o povo de Deus.
Não apenas a igreja, mas também Israel ainda
aguarda o grande repouso prometido. A igreja da nova aliança recebeu
imensamente mais. Deus nos presenteou com seu filho como Redentor e Senhor.
Israel obteve a promessa do descanso terreno.
A igreja, porém, recebe o anúncio do descanso
eterno da parte de Deus. Esse “descanso”, no entanto, a participação na glória
de Deus, não é uma propriedade imóvel e estática, sobre a qual os fiéis podem
decidir e que possam administrar conforme o seu arbítrio.
O alvo da glória eterna, em contraposição,
demanda da igreja o engajamento de toda sua existência. Justamente o “ingressar
no descanso” requer a concentração de todas as forças no único alvo.
Agora, é o tempo de trabalhar e agir, o tempo
de luta e de peregrinação, a “jornada de
serviço” da igreja, à qual um dia se seguirá a celebração do descanso, o dia de
descanso dos filhos de Deus.
A palavra do AT não somente representa consolo
e promessa para a igreja do NT, mas também, lhe indica como sinal de alerta a
desobediência da geração do deserto. Quem não olha mais para o alvo pode cair
durante a caminhada.
Somente na mais íntima ligação com Jesus
Cristo, podemos ser preservados dessa
trágica queda. Se até agora o escritor aos Hebreus coloca a palavra da promessa
em primeiro plano, ele agora se preocupa em falar, no contexto de sua
exortação, do poder de revelação e juízo da palavra de Deus.
Cinco afirmações específicas sublinham a
importância desta Palavra: viva, eficaz, afiada, penetrante, julgadora. Viva é
a palavra de Deus, porque jorra da fonte de toda vida, que jamais seca (Sl
36.10).
E é capaz de infundir nova vida nos corações
dos salvos em Cristo (Jo 6.63; 1Pe 1.23-25; Is 40.8). Também, em relação a
Cristo, o eterno Filho de Deus, a Bíblia é testemunha que ele traz a vida
dentro de si e como o Filho é capaz de chamar mortos para a vida (Jo 5.24-26;
14.6; Ap 1.18).
Nesse aspecto torna-se claro para nós que
nunca podemos desligar a força geradora de vida da Palavra de Deus e da pessoa
de nosso Senhor Jesus Cristo e da ação do Espírito Santo que convence do pecado
da justiça e do juízo.
A Palavra de Deus é mais cortante do que qualquer espada de dois gumes. Não
estamos sendo lembrados apenas da palavra do escritor de nos armar com a
Palavra de Deus como espada, a fim de resistir à todas hostilidades e tentações
por parte dos poderes terrenos e sobrenaturais (Ef 6.17).
Pelo contrário, Deus já utilizava no AT a boca
do profeta e a palavra que ele fala por meio do seu profeta, como uma “espada
cortante” (Is 49.2 BJ), a qual ele pode voltar contra o seu povo desobediente.
O Senhor exaltado faz anunciar à sua igreja em
Pérgamo: “Portanto, arrepende-te; e, senão, venho a ti sem demora e contra eles
pelejarei com a espada da minha boca” (Ap 2.16).
A Palavra de Deus, portanto, não deve ser em
primeiro lugar uma arma em nossa mão, com a qual lutamos contra outros, mas ela
continua sobretudo sendo a “espada do Espírito”, que atinge justamente também a
vida dos fiéis.
Ela penetra fundo até a separação da alma e do
espírito, das juntas e medula, e é apta para discernir pensamentos e intenções
do coração.
A função reveladora e julgadora da Palavra é a
única que, nesse ponto, está sendo enfocada pelo escritor (Hb 4.12). A Palavra
de Deus pode trazer consigo morte e julgamento, visto que o julgamento de Deus
também teve um efeito fatal (Gn 3.19; Nm 14.28-33; Jr 22.5; At 5.1-10).
Quando o escritor não fala apenas de uma
separação entre “alma e espírito”, mas também entre “juntas e medula”, ele
seguramente não está falando de ciência natural, da psicologia e da medicina.
Muito antes de ele dirigir nossa atenção para
a realidade de que enquanto poder espiritual, a Palavra de Deus exerce efeito
tanto na esfera espiritual quanto na pessoa que nasceu de novo.
“Alma e espírito”, termos no linguajar bíblico
ocorrem muitas vezes em sentido similar e aparentemente pode ser trocado em
diversas passagens, apesar disso são diferentes entre si.
A Bíblia tem a noção da concomitância dessas
duas esferas dos sentidos humano, do ser corpóreo e da realidade imaterial do
ser humano, da pessoa “exterior” e da “interior” (2Co 4.16), que juntas
perfazem a totalidade da vida humana.
Ao lado da biparticipação na descrição da
natureza humana, porém, encontramos também a visão “tricotômica” que desmembra
o ser humano em três áreas da existência: em corpo, alma e espírito (1Ts 5.23).
O corpo é considerado habitação e sustentação
da alma, sem o qual nenhuma existência terrena é possível. A alma é o que faz
do ser humano uma pessoa, é a sua capacidade de perceber, sentir e querer, é
sua habilidade para dirigir conscientemente as experiências dos impulsos.
O espírito, por sua vez, perfaz o centro da
pessoa, “é o que não é objeto”, com o qual Deus pode se comunicar (Rm 8.16).
Por intermédio do espírito a pessoa tem capacidade para estabelecer uma relação
direta com Deus.
Na linguagem bíblica o coração não somente
constitui o centro e órgão mais importante da vida corporal, mas é considerado
igualmente como a origem do pensar, sentir e querer (Mt 15.18; Mc 7.21-23; Pv 4.23).
Coração, espírito e alma, enquanto conceitos
bíblicos não são usados arbitrariamente. Quando se fala do “coração” como
centro da existência humana, então a alma e o espírito estão incluídos nele.
“No coração ambos tornam-se unificados. Ele é
psíquico mental: é a intimidade central do ser humano, entendido como unidade,
englobando todas as facetas de sua atividade, sob o aspecto da responsabilidade
de obedecer à vontade de Deus”.
A Palavra de Deus – Jesus Cristo, o verbo que
se fez carne, que se revela a nós na palavra escrita transmitida no Antigo e NT
– possui a autoridade de julgar.
O critério último para a sentença de Deus
sobre todas as manifestações vitais da pessoa até nas motivações de seu querer,
no seu pensar e nos movimentos de sua alma é a Palavra de Deus, que também traz
à luz do dia os motivos inconscientes do nosso agir.
Agora somos lembrados de que Deus é o
“conhecedor dos corações” (At 1.24; 15.8). Aquilo que o Senhor fará no dia do
juízo, que ele “também trará à plena luz as coisas ocultas das trevas e
manifestará os desígnios dos corações” (1Co 4.5).
Isso já se realiza hoje preliminarmente no
encontro das pessoas com a Bíblia. A palavra de Deus nos julga; contudo, quando
nos submetemos à sentença de Deus, também somos salvos (1Co 11.31,32).
Ninguém pode se furtar à força penetrante da
palavra divina. E não há criatura que não seja manifesta na sua presença;
pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos seus olhos
(Hb 4.13).
Consultas:
GONÇALVES
José. Comentarista da Lição Bíblica para Adultos EBD CPAD no 1º Trimestre
2018. A Supremacia de Cristo: Fé,
esperança e ânimo na Carta aos Hebreus
GONÇALVES
José. . A Supremacia de Cristo: Fé,
esperança e ânimo na Carta aos Hebreus. Editora CPAD. Rio de Janeiro. Outubro,
2017
HENRICHSEN
Walter A. Depois do Sacrifício – Estudo da carta aos Hebreus. Editora Vida. São
Paulo 1996
LAUBACH
Fritz. Carta aos Hebreus – Comentário Esperança. Editora Esperança. Curitiba,
2013
BOCH Darrell L. e GLASER Mitch. O Servo
Sofredor – Editora Cultura Cristã. São Paulo, 2015
CHAFFER.
Teologia Sistemática. Vl 7 & 8. Editora Hagnus. São Paulo, 2008
Bíblia
Sagrada King James – Tradução Atualizada
Bíblia
do Pregador Pentecostal
CHAMPLIN.
Novo Testamento Interpretado Versículo por versículo. Vl 5. Editora Hagnus. São Paulo, 2012