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sexta-feira, 27 de outubro de 2017

A Obra Salvífica de Jesus Cristo - 29.10.17

Subsídios Teológicos e Bibliológicos para Estudo sobre:
A Obra Salvífica de Jesus Cristo - 29.10.17
Texto Bíblico: João 4.13-19
Por: Pr. João Barbosa
                                         
O tempo e a hora em que Pilatos apresentou Jesus ao povo – “Era a preparação da Páscoa”, isto é, sexta feira. “Era cerca da hora terceira” (Mc 15.25). Notemos, primeiramente, que quando Pilatos sentou-se na tribuna, a hora terceira estava para terminar, isto é, faltavam alguns minutos para o começo da hora sexta – nove horas da manhã ( Jo 19.14).

Este texto é um parêntese que o Evangelista João abre, à guisa de informação. Tem havido certa dificuldade em harmonizar esse texto com o de Mc 15.25, que diz que o Senhor foi crucificado à hora terceira. A explicação que harmoniza Jo 19.14 com Mc 15.25 se encontra no relato de Calvino. Ela se baseia no fato de que os judeus dividiam as doze horas de seu dia em quatro partes:

A hora terceira que começa as seis e ia até às nove horas; a hora sexta, que começava as nove horas e ia até as doze horas; a hora nona que começava as doze horas e ia até as quinze horas; e a hora duodécima que começava as quinze horas e ia até as dezoito horas.

Estas grandes divisões incluem as horas intermediárias, de modo que qualquer momento das seis às nove da manhã podia ser chamado a hora terceira, e qualquer momento das nove horas até o meio dia, podia ser chamado a hora sexta.

Desse modo não se faz violência a hora de João. Assim, tanto Marcos como João entendem dizer que Jesus foi condenado e crucificado lá pelas nove horas da manhã. Somente um deles chama aquele momento de hora terceira, a qual estava para findar; o outro o chama hora sexta que estava a começar.

Então Pilatos disse aos judeus: “Eis o vosso rei”. Ele já havia ridicularizado Jesus apresentando-o ao povo como um vencido. Agora o apresenta como rei dos judeus. Mas eles clamaram: tira-o, crucifica-o. A servís e o coração dos principais sacerdotes estavam definitivamente empedernidos.

Pilatos perguntou: “Hei de crucificar o vosso rei?” E a resposta capciosa dos judeus foi: “Não temos rei senão Cesar”. Mas uma vez Pilatos quis que a responsabilidade final do crime a ser consumado recaísse pesadamente sobre as autoridades religiosas judaicas, como também sobre o povo e, assim, teria argumentos para inocentar-se perante a lei romana. Mas as autoridades judaicas foram extremamente cautelosas e com falsos argumentos disseram não temos rei senão Cesar.

A trágica e final decisão de Pilatos – “Então lho entregou para ser crucificado” (Jo 19.16). Assim consumou-se o processo mais iniquo e trágico de todos os séculos. O magistrado tombou vergonhosamente, primeiro diante de si mesmo, e, então, diante dos inimigos de Jesus.

Embora tivesse vontade e desejo de soltar a Jesus, contudo, o condenou à morte. Deveras, o homem, em seus delitos e pecados, é um escravo. “E, embora não achasse alguma causa de morte, pediram a Pilatos que ele fosse morto” (At 13.28).

Pilatos personagem de alta classe e posição, representante da mais poderosa nação da terra, homem que devia ser o mais imparcial e defensor da equidade e da justiça, enfim, governador romano, ele oscilante entre dois juízos opostos em uma causa clara como a luz do meio dia. “Ele sabe e conhece onde está o direito, e age em sentido contrário: Diz-lhe a consciência que ele deve soltar o acusado, mas teme desagradar os acusadores e sacrifica, assim a justiça ao capricho dos maus, sanciona um, crime sem par na história, e consente a morte de um justo”.

A tradição diz que Pôncio Pilatos, no ano 36dC., foi acusado pelo governador da Síria, e que foi à Roma par defender-se, porém não conseguiu: Foi exilado para Gália e ali se suicidou.

No caminho da cruz: antes das nove horas da sexta feira (Mc 15.20-33; Mt 27.31-34; Lc 23. 26-33ª; Jo 19.17) – Nosso amado Senhor é revestido em suas próprias vestes ensanguentadas, e, lá fora, no pátio do pretório, uma cruz já estava preparada para ser por ele carregada até o suplício. “Depois de o terem assim escarnecido, despiram-lhe a púrpura e lhes puseram as vestes” (Mc 15.20). “Tomaram, pois, a Jesus; e ele carregando a sua própria cruz, saiu para o lugar chamado Caveira, que em hebraico se chama Gólgota” (Jo 19.17).

Simão Cirineu ajuda a levar a cruz (Lc 23.26) – Não se sabe quem era realmente este homem, se algum judeu que em algum tempo houvesse habitado em Cirene (capital de uma pequena província da Líbia, na África, e corresponde à moderna Trípole), ou se algum gentio relacionado com a colônia judaica daquela capital e que estivesse interessado em saber quem era Jesus, nem podemos saber se ele era crente ou não, a não ser o que nos diz Marcos: “E obrigaram certo Simão, o cirineu, pai de Alexandre e de Rufo, que por ali passava, vindo do campo, a carregar-lhe a cruz” (Mc 15.21).

Considerando este texto, notamos que esse cirineu era conhecido, e, portanto, possivelmente, poderia ser um prosélito que se tornara cristão. Mas, deste incidente, devemos ter em mente três fatos: Primeiro, que Jesus não pediu ao cirineu para levar sua cruz, embora não pudesse impedi-lo de o fazer.

Segundo, que Simão Cirineu foi obrigado pelas autoridades a levar a cruz do Senhor, portanto, Simão não agiu de forma voluntária; e, terceiro, Jesus tragou sozinho o cálice do sacrifício da cruz inteiramente e pagou a dívida dos pecadores totalmente (Mt 26.38-42).

O lugar da crucificação – “Quando chegaram ao lugar chamado Gólgota que quer dizer lugar da Caveira, deram-lhe a beber vinho misturado com fel. Mas ele provando não quis beber” (Mt 27.33-34). Caveira, que em hebraico se chama Gólgota e em português Calvário, era um lugar que ficava fora dos muros de Jerusalém, porém perto da cidade.

Os lugares históricos do Calvário, como também os do sepulcro de Jesus achavam-se situados fora das muralhas da cidade, e não dentro da mesma, como muitos, que observam ensinos tradicionais, até o dia de hoje, acreditam, e, quanto às supostas quedas de Jesus sob o peso da cruz, no trajeto para o Calvário, não existe nenhuma prova bíblica nem histórica. Os evangelhos nada dizem, portanto, não se deve acrescentar nada ao texto bíblico sob pena de perder a sua porção (Ap 22.18,19).


Jesus crucificado: as três primeiras horas na cruz – Das nove às doze horas de sexta feira (Mc 15.24-32; Mt 27.35-44; Lc 23. 33b -48; Jo 19.18-27). O ato da crucificação: Havia três tipos principais de cruzes: A cruz comissa em forma de T maiúsculo; a cruz decussata em forma de X maiúsculo e a cruz imissa + no formato popular a qual conhecemos hoje. O Senhor Jesus foi crucificado numa cruz imissa, porquanto, puseram no topo da cruz uma inscrição que declarava o motivo porque fora crucificado.

Esta pena horrível era oriunda dos cartagineses, e os romanos a usavam para executar os escravos e não os cidadãos romanos. A vítima dessa cruel pena ficava muitas vezes, em agonia durante até quarenta e oito horas ou mais, conforme a resistência do crucificado. Puseram o Senhor estendido sobre o madeiro e cravaram-lhe as mãos e os pés. Quadro sanguinário e estarrecedor.

E nosso salvador sentiu toda dor física na sua realidade perfeita e absoluta, como qualquer corpo humano sentiria. Jesus era perfeitamente homem, em sua natureza física, e perfeitamente Deus em sua natureza espiritual.

A primeira palavra de Jesus na cruz – Cremos que foi nessa hora cruciante que Jesus proferiu a primeira palavra, ou dito na cruz, que é uma oração de profundíssima dor e angústia: “Pai perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34). Uma das maiores e misericordiosas bênçãos que o pecador pode receber de Deus é o perdão de seus pecados.

Nos evangelhos, temos sete expressões proferidas por Jesus na cruz, que são chamadas abreviadamente, as sete palavras da cruz.

A segunda palavra de Jesus na cruz: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23.43). Esta segunda palavra de Jesus na cruz foi palavra de salvação a um grande pecador: o ladrão que estava na cruz a sua direita, que reconheceu que Cristo era Deus.

A terceira palavra de Jesus na cruz: “Ora, Jesus vendo ali sua mãe e ao lado dela o discípulo a quem ela amava disse a sua mãe: Mulher, eis ai o teu filho. Depois disse ao discípulo: eis ai tua mãe” (Jo 19.26,27a).

A quarta palavra de Jesus na cruz: “Eloi, Eloi, lamá sabactani, que traduzido é: Deus meu, Deus meu, porque m e desamparaste?” (Mc 15.34; Sl 22.1). “Foi em meio da natureza enlutada pelas trevas que Jesus proferiu estas palavras de inescrutável mistério, que a habilidade e o conhecimento humano não pode discernir. Essas palavras de suprema expressão de sofrimento moral e espiritual não é porque causa, mas porque fim, porém não se deve insistir na distinção.

A quinta palavra de Jesus na cruz: “Tenho sede” (Jo 19.28,29). O filho eterno de Deus, por quem e para quem todas as coisas foram criadas, agora, limitado à natureza humana, tem sede.

A sexta palavra de Jesus na cruz: “Está consumado” (Jo 19.30). Jesus estava na fase final e aguda de sua gloriosa obra expiatória da redenção do mundo perdido. Este foi o grito triunfal da vitória sob o pecado e Satanás. Nesta hora estava consumada a profecia do sacrifício vicário e redentor da cruz e a dispensação do VT e de todas as exigências da lei.

Os grilhões do pecado foram quebrados e as exigências justas da lei foram superadas pela soberana graça. Graça de Deus manifestada no sacrifício da cruz. Deus exigia justiça perfeita, absoluta ausência de pecado, no sacrifício oferecido para purificação do pecado. Jesus o consumou. Jesus consumou na cruz a obra total da salvação do pecador pela graça de Deus, mediante a fé em Cristo crucificado, de vez e jamais se repetirá (Hb 10).

A sétima palavra de Jesus na cruz: Jesus, clamando com grande voz disse: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito, e, havendo dito isto expirou” (Lc 23.46). Este último clamor do alto da cruz ecoará até à consumação dos séculos. Este último clamor de Jesus proclamou que ele é o unigênito filho de Deus: E foi por ter declarar que era filho de Deus que fora condenado a morte de cruz.
REFLEXÕES:
É do alto da cruz que nos vem a mensagem do amor de Deus para com o mundo perdido (Jo 3.16).

È do alto da cruz que nos vem a graciosa mensagem do perdão dos pecados: “Pai, perdoa-lhes”

É do alto da cruz que vem o sublime exemplo do sacrifício da vida imaculada do filho de Deus. “E eu”, disse Jesus, “Quando for levantado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12.30).

É do alto da cruz que nos vem a mensagem de que Jesus Cristo, o filho eterno de Deus, consumou completamente a obra redentora da salvação de no alma crente em Cristo: “Está consumado” (Jo 19.30).

É do alto da cruz que è proclamada a imortalidade da alma, que a vida eterna, para a glória eterna do crente em Cristo Jesus, o autor e consumados da fé: “Vou preparar-vos lugar para que onde eu estiver estejais vós também. Amém.



Fonte: Este estudo foi baseado nas Notas e Comentários À Harmonia dos Evangelhos de Egídio Gióia. Editora Juerpe. 2ª edição. Rio de Janeiro, 1981 

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Salvação – O Amor e a Misericórdia de Deus - 22.10.17

Subsídios Teológicos e Bibliológicos para Estudo sobre:
Salvação – O Amor e a Misericórdia de Deus - 22.10.17
Texto Bíblico: 1João 4.13-19
Por: Pr. João Barbosa
                                         
A salvação – A salvação consiste, em essência, no ato ou estado de livramento do dano ou perigo, físico ou espiritual, temporal ou eterno.

A salvação tem três tempos. A salvação de Deus inclui o passado, o presente e o futuro. A libertação passada aponta adiante para a libertação presente e futura, que por sua vez, lembram a libertação passada e se baseia nela.

Conceito bíblico de salvação – A palavra salvação em latim é composta por salvare – tornar seguro e por salus – boa saúde, ajuda.

Salvação, portanto, é um termo muito amplo. Que evoca bem estar físico, mental, social, espiritual, Isto se junta ao que a Bíblia diz com relação à cura divina, redenção, remédio e completude, inteireza e integralidade.

Salvação também significa a ação ou resultado de livramento, ser preservado de algum perigo. A salvação não é uma ideia ou projeto, a salvação é o próprio Cristo (Rm 10.9; At 16.31; Tt 2.11).

A palavra paz é em hebraico shalom. Paz é algo que não foi violado. Tudo tem sua raiz na palavra salvação. “Salvação” tem origem também na palavra grega sóter.

O vocábulo “sotereologia” é um termo teológico composto por duas palavras gregas:
Soteria que significa salvação, cura, recuperação, redenção, remédio e bem estar. E do substantivo logia, cujo significado primário é “estudo tratado ou ensino”.

A salvação é exatamente isso que Jesus disse a mulher do fluxo de sangue que o tocou: “Filha, tua fé te salvou” (Mc 5.34).

Salvação significa que Cristo fez a expiação pelo pecador ocupando seu lugar na cruz (ação passada). Que o crente foi resgatado e santificado (ação presente) e espera sua glorificação (ação futura).

A salvação abrange todas as dimensões da vida; por isso basta aceitar a Cristo como Salvador e Senhor (Rm 10.9,10). A salvação também pode ser negligenciada (Hb 2.3), por isso, devemos nos apropriarmos de todos os seus benefícios.

O Amor de Deus – A atividade do Amor. Esta provém da natureza de Deus, que é amor. “Dizer Deus é amor subentende que toda sua atividade é amorosa. Se ele cria, cria com amor: Se ele governa, governa com amor; se ele julga, julga com amor” (1Jo 4.8,16).

O amor dentro da Deidade – Para que o homem compreenda o amor, deve perceber a atividade dele dentro da Deidade. Muitos versículos falam do amor do Pai pelo filho; somente João 14.31, no entanto, declara explicitamente que Jesus amava o Pai. O amor é demonstrado pela obediência aos mandamentos (Jo 14.31; Jo 14.15, 21,23).

Somente Cristo tem visto o Pai (Jo 3.11,32; 6.46) e o tem conhecido (Mt 11.27; Lc 10.22; Jo 7.29; 8.55; 10.15) estão unidos um ao outro (Jo 10.30,38; 14.10,11,20; 17.21-23). Embora não haja versículos que falem explicitamente pelo amor que o Espírito Santo tem pelas outras duas pessoas da Trindade, ele está aqui subentendido, em Jo 16.13-15, onde Jesus disse que o Espírito não falaria de si mesmo, assim como Jesus não falava de si mesmo (Jo 12.49; 14.10), mas falaria e revelaria aquilo que ouvisse de Cristo e do Pai.

O amor para com os homens – No AT, a expressão do amor de Deus aos homens é indicada de quatro maneiras. Em primeiro lugar, o amor de Deus pelos homens é declarado de modo simples em alguns lugares (Dt 10.18; 33.3; 1Re 10.9; Is43.4; 63.9; Os 14.4; Sf 3.17.2).

Em segundo lugar há o amor efetivo de Deus pela nação de Israel (Dt 4.37; 7.6-8; 10.15; Os 3.1; 11.1,4; Ml 1.21). Em terceiro lugar, há o amor segundo a aliança, que é leal ou inabalável (Ex 20.6; Dt 5.10; 7.9,12; 1 Re 8.23; 2Cr 6.14, etc).

Em terceiro lugar, há o amor segundo a aliança que é leal ou inabalável (Ex 20.6; Dt 5.10; 7.9, 121Re 2.3 etc). Este amor é facilmente percebido no (Sl 106.45). Lembrou-se a favor deles, de sua aliança, e se compadeceu, segundo a multidão de suas misericórdias. A aliança de Deus com Israel é a garantia do seu amor pelo seu povo (Is 54.10).

Finalmente, há umas poucas referências que falam do amor de Deus para com os indivíduos. Salomão em 2Sm 12.24 e Ne 13.26; Esdras em Ed 7.28, Ciro [?] em Is 48.14. Embora no NT as referências ao amor de Deus para com os homens não sejam muitas, há um número suficiente delas, extraídas de várias partes, para confirma-lo adequadamente.

O NT está repleto de referências do amor de Deus pelo homem. Uma passagem-chave que demonstra este fato é 1Jo 4.10. “Nisto consiste o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou, e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados”. A demonstração do amor de Deus é visto em cada uma das pessoas da Trindade. Concluindo, o amor de Deus pelos homens é visto em todas as partes da Bíblia. É um amor abnegado e não merecido

O amor dos homens – Com a entrada do pecado, o homem passou a odiar a Deus e a ser seu inimigo (Rm 1.30; 5.10; Jo 15.18; 24,25). Mas porque Deus tomou a iniciativa do amor, enviando o seu Filho, os crentes são exortados, com base no amor do próprio Deus, a amarem uns aos outros (1Jo 4.10,11,19).

A origem deste amor é Deus (1Jo 4.7-9) e não o homem. Este fato é confirmado em Gl 5.22, onde o amor é visto como fruto do Espírito Santo. As palavras que vem logo após o amor – “alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” – são mais uma descrição adicional do caráter do amor do que outros frutos do Espírito, visto que o “fruto” e o verbo estão no singular, e o contexto diz respeito ao amor. Isto é confirmado ainda mais quando se analisa o capítulo sobre o amor (1Co 13) e se nota que as palavras usadas para descrever o amor são as mesmas, ou semelhantes a elas, usadas em Gl 5.22,23. Nestas palavras o amor é descrito como altruísta e sacrificial, ele não espera o mesmo tratamento em troca.

É o amor que é dado e não merecido. O amor de Deus é assim, e o homem ao experimenta-lO, deve demonstra-lO em duas direções: para com Deus e para com o homem. Isto é ordenado na Bíblia (Mt 22.37-40; Mc 12.29-31; Lc 10.26,27).

O amor a Deus – Deus requer que o homem o ame com a totalidade do seu ser (Dt 6.5; 10.12;13.3; Js 22.5; Sl 31.23); há umas poucas referências explícitas que indicam o amor do homem a Deus (1Re 3.3; Sl 5.11; 18.1; 91.14; 116.1; Is 56.6).

No NT exceto a citação feita por Jesus do mandamento do AT no sentido de amar a Deus (Mt 22.37; Mc 12.30; Lc 10.27), não há mandamentos explícitos exigindo o amor do homem por Deus (possivelmente 1Co 16.22; 2Ts 3.5).

 As referências do amor a Deus da parte do homem são comparativamente poucas, possivelmente porque parecia normal que o homem amasse a Deus, que tanto fez por ele, e porque o homem teve experiência do amor de Deus. Mesmo assim, o mandamento no sentido de amar a Deus é importante porque demonstra que o homem pode se aproximar de Deus, que deseja o relacionamento dinâmico envolvido no amor.

O amor aos homens – Os dois principais mandamentos indicam que o homem deve amar a seu próximo, além de amar a Deus. Embora não haja muitos versículos que falam do amor que o homem tem por Deus, as Escrituras têm uma abundância de declarações acerca do amor que o homem tem por seu próximo. Este fato é visto de quatro maneiras:

1. O amor ao próximo – O mandamento de amar ao próximo é frequentemente declarado – primeiramente em Lv 19.18, citado várias vezes no NT (Mt 5.43; 19.19; 22.39; Mc 12.31,33; Rm 13.9; Gl 5.14; Tg 2.8). Paulo declara que o amor ao próximo é o cumprimento da lei (Rm 13.8,10) Jesus na parábola do bom samaritano deixou claro que nosso próximo não é somente um conhecido ou alguém da mesma nacionalidade (Lc 10.27-37).

2. O amor ao irmão na fé – Em Gl 6.10 Paulo ordena aos crentes que façam o bem a todos, mas principalmente aos da família de fé. O crente deve amar ao seu próximo, seja este quem for, mas também deve ter solicitude e amor sincero e profundo pelos irmãos na fé. Jesus deu um novo mandamento: os crentes deveriam amar uns aos outros como ele os amara (Jo 13.34, 35; 15.12,17). O mandamento do amor mútuo não era novo, mas amar uns aos outros conforme Jesus nos amara era um novo mandamento.

3. O amor à família – As Escrituras têm poucos mandamentos e muitas ilustrações do amor dentro da família. Aos maridos é ordenado que amem suas respectivas esposas (Cl 3.19) assim como Cristo ama a igreja (Ef 5.25-33). O amor do marido à esposa é visto em várias narrativas (Gn 24.67; 29.18,20, 30; 2Cr 11.21; Ct 4.10; 7.6). Apenas uma vez ordena-se que a esposa ame o marido (Tt 2.4) e somente em Cantares este amor é mencionado (Ct 1.7; 3.1-4; 7.12). Sem dúvida a submissão da esposa ao marido é evidência do seu amor por ele (Ef 5.22-24; 1Pe 3.1-6).

Além disso, só uma vez há um mandamento aos pais para que amem seus filhos, especificamente para as jovens esposas amarem seus filhos (Tt 2.4). É interessante que não há nenhum mandamento nem exemplo de filhos amando seus pais. Há no entanto, o mandamento  frequentemente repetido  no sentido de os filhos honrarem e obedecerem a seus pais, que seria evidência do seu amor por eles (Ex 20.12; Dt 5.16; Pv 1.8; Mt 19.19; Mc 10.19).

Embora não muita coisa seja falada a respeito do amor dentro da família natural, pode ser tomado por certo que este amor era esperado; quem não cuida de sua família é considerado como quem negou a fé; e pior do que o descrente (1Tm 5.8).

4. O amor aos inimigos – Jesus ordenou que seus seguidores amassem os seus inimigos (Mt 5.43-48; Lc 6.27-35). Este amor é demonstrado por meio do ato de abençoar aqueles que os maldizem, de orar por aqueles que os perseguem, e de dar a eles com generosidade. As epístolas do NT reiteram que ao invés de procurarem vingança, os crentes devem amar aqueles que os odeiam e perseguem (Rm 12.14, 17-21; 1Ts 5.15; 1Pe 3.9).

Deus na sua própria essência é amor; por isso o amor é demonstrado àqueles que nada merecem. João 3.16 declara este fato de modo inesquecível; embora o homem O tenha repudiado, Deus ama o mundo, e o alcance deste amor foi o sacrifício do seu próprio Filho, Jesus Cristo, que Se dispôs a entregar a sua vida.

Misericórdia – O termo pode designar tanto o caráter quanto as ações que surgem como consequência do caráter. Como parte do caráter, a misericórdia é demonstrada mais claramente por qualidade como compaixão e clemência.

No que diz respeito à ação, um ato de misericórdia provém da compaixão e da clemência, num sentido jurídico, a misericórdia pode envolver atos como o perdão, a absolvição ou a diminuição de penas. Em cada caso a misericórdia é experimentada e exercida por uma pessoa que tem outra sob o seu poder, ou debaixo de sua autoridade, ou de quem nenhuma bondade pode ser reivindicada.

Desta forma, Deus pode mostrar misericórdia para com os seres humanos que estão todos debaixo do Seu poder, em última análise, embora não possam fazer qualquer reivindicação direta, em termos de seu comportamento, de atitudes ou ações de misericórdia. E um ser humano pode ser misericordioso para com outro, a quem nem compaixão nem clemência são devidas, mediante ação ou pensamento gracioso para com aquela pessoa.

No AT a misericórdia no sentido de amorosa bondade, é um tema central; a própria existência da aliança entre Deus e Israel era um exemplo de misericórdia sendo outorgada livremente a Israel e sem obrigação prévia da parte de Deus (Is 63.7; Sl 79.8,9).

Com a nova aliança a misericórdia de Deus é vista na morte de Jesus Cristo; a morte sacrificial é, em si mesma, um ato de misericórdia que demonstra a compaixão divina e possibilita o perdão dos pecados. Segue-se deste evangelho fundamental a exigência de que todos os cristãos, que por serem cristãos foram alvo de misericórdia, exerçam misericórdia para com seu próximo (Mt 5.17; Tg 2.13).
Consultas:
POMMERENING, Claiton Ivan. A Obra da Salvação – Jesus Cristo é o Caminho a Verdade e a Vida. CPAD RJaneiro 2017
ELWELL Walter A. Enciclopédia Histórico-teológica da Igreja Cristã. Ed. Vida Nova. SPaulo, 2009
ALEXANDER, T.Desmond. Novo Dicionário de Teologia Bíblica. Editora Vida. SPaulo, 2009
GIOIA Egídio. Notas e Comentários à harmonia dos Evangelhos. JUERP. RJaneiro, 1981

RADMACHER. Earl D. O Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento. Ed Central Gospel, RJaneiro, 2010

sábado, 14 de outubro de 2017

A Salvação e o Advento do Salvador - 15.10.17

Subsídios Teológicos e Bibliológicos para Estudo sobre:
A Salvação e o Advento do Salvador - 15.10.17
Texto Bíblico: João 1.1-14
Por: Pr. João Barbosa
                                         
Maria a Virgem – Lc 1.26,27. Sendo descendente da tribo real de Judá, Maria, entretanto, era de origem familiar humilde e pobre.

Nasceu em Nazaré da Galileia, província desprezada pelo povo de outras províncias de Israel. “De Nazaré pode sair alguma coisa boa!” (Jo 1.46). Assim exclamara Natanael quando Felipe, seu irmão, lhe anunciara que exatamente daquela pequena Vila era aquele de quem escreveu Moisés, na a Lei, e de quem falaram os profetas – Jesus de Nazaré.

Maria era noiva de José, sendo este, também, da descendência de Davi, o rei de Israel, e honrado carpinteiro em Nazaré. Quando, em Israel, era anunciado um noivado, tal era a força do significado deste ato social, que os nubentes se consideravam e eram considerados pelo povo como se fossem já casados.

Por isso, na terminologia bíblica aparece o termo “marido” referindo-se a José, noivo de Maria. Maria era uma piedosa crente, esperando sempre em Deus, em sua palavra e em suas promessas. Sabia, desde a infância, pelas santas Escrituras, que o Messias, o Salvador, havia de nascer de uma virgem: Eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel, que significa Deus conosco (Is 7.14).

Maria recebe a visita e a mensagem do anjo Gabriel – Lc 1.28-33. Inesperadamente, Maria recebe a visita do anjo Gabriel, enviado por Deus, em seu lar em Nazaré. Cremos plenamente que seu pensamento estava, naquela hora, voltado para o Senhor e meditava nas coisas espirituais e santas. Estava em comunhão com Deus quando o anjo Gabriel disse a Maria: “Salve, agraciada; o Senhor é contigo”; bendita és tu entre as mulheres.

E, vendo-o ela, turbou-se muito com aquelas palavras e considerava que saudação seria esta. Disse-lhe, então o anjo: Maria, não temas porque achaste graça diante de Deus. Eis que em teu ventre conceberás e darás á luz um filho e por-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai, e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.

E disse Maria ao anjo: Como se fará isto visto que não conheço varão? E, respondendo o anjo, disse-lhe: descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Pelo que também o santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus. Disse então Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela (Lc 1.28-35, 38).

O Cristo pré-existente fez-se carne – Jo 1.1-14. Neste prólogo de profunda revelação divina, o apóstolo inspirado apresenta o Cristo histórico do evangelho na sua pré-existência eterna, sua divindade, sua obra criadora, sua relação com o pai, sua encarnação, sua missão redentora, sua revelação, sua graça e sua glória.

“No princípio”, isto é, antes que existissem quaisquer seres celestes, humanos ou animais, o Verbo estava face a face com Deus. No filho unigênito de Deus estava a vida na sua essência e na sua maravilhosa expressão, E a vida que estava no Verbo era a luz dos homens – luz intelectual, luz moral, luz espiritual, luz divina. Jesus Cristo é a revelação plena e perfeita de Deus aos homens. Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens; e a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam (Jo 1.3-6).

Luz é a figura da verdade e do conhecimento. A luz espanta as trevas e permanece brilhando: “Eu, que sou a luz, vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça em trevas” (Jo 12.46). Verdadeiramente, “em ti está a fonte da vida, na tua luz veremos a luz” (Sl 39.9).

A luz divina, que é Jesus Cristo, o Filho de Deus, tem não somente o testemunho da Trindade. Mas até o testemunho humano de que ele é a vida e a luz. Deus mesmo providenciou este testemunho na pessoa de João Batista. Sua missão singular e gloriosa era testemunhar que Jesus Cristo era o Verbo Eterno e o verdadeiro Deus, a luz dos homens para iluminar os corações que jazem nas trevas do pecado e da morte (Jo 1.26-34).

Jesus Cristo, que era a luz, já estava no mundo que ele criou, mas o mundo não o conheceu (Jo 1.10.11). O mundo, na sua incredulidade e depravação, já não podia conhecer o seu criador. Entretanto, havia, na terra, um povo que deveria conhecê-lo: era o povo de Israel, o povo escolhido de Deus, a quem, através de milênios, se havia revelado e lhe havia manifestado seu santo nome, sua personalidade, sua misericórdia e seu amor.

O Messias tinha direito divino de ser escolhido e recebido pelo povo; mas, que fizeram? Este é o “herdeiro; matemo-lo, para que a herança seja nossa” (Lc 20.14). Mas, no meio das trevas da ignorância e do pecado, havia um pequenino “resto” que aguardava o “Oriente do alto” e “a consolação de Israel”, e que  reconheceria e receberia o Messias Prometido, o Salvador o mundo (Lc 1. 1-4). Estes receberiam o poder de se tornarem Filhos de Deus (Jo 1.12).

Todos os seres humanos são criaturas de Deus, mas poucos são filhos de Deus. Somente aquele que crê no nome de Jesus Cristo é que recebe o poder de se tornar filho de Deus. Esta filiação é, pois, espiritual, metafísica e pessoal. Não é por hereditariedade de raça ou de família ou mesmo da vontade do homem, e nem é por hereditariedade religiosa ou espiritual.

A verdadeira filiação divina está no novo nascimento, nascimento espiritual, nascimento do Espírito Santo: “Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem, da vontade do varão, mas de Deus” (Jo 1.13; 3.5,6). E, como crendo no nome de Jesus Cristo, o Verbo Eterno que se fez carne. Crendo que ele é o filho unigênito de Deus e é verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

Crendo que o Verbo se fez carne para que pudesse fazer o sacrifício da cruz, para levar no seu corpo o pecado do mundo e lavar em seu sangue o pecado de todo aquele que nele crê e o recebe, pela fé, como seu Redentor, Senhor e Deus. É deste Cristo histórico que testificam a Santíssima Trindade (Mt 3.13-17) e João Batista (Jo 1.15-34) e, ainda, todos os apóstolos, os evangelistas e os discípulos de Cristo, em todos os tempos. “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheia de graça e verdade” (Jo 1.14).

Somente Jesus Cristo é cheio de graça, porque ele é Deus. Maria, a bendita virgem e mãe de Jesus, não era cheia de graça, Mas, como afirma o texto sagrado: “agraciada”. Maria recebeu a graça de Deus e não é despenseira da graça. A graça pertence a Deus, e somente ele é quem a distribui a quem ele quer.

Cristo é, pois, a revelação da graça divina dada aos homens para redenção deles, e também da verdade divina na sua relação com a graça. Qual vida, a palavra, o Verbo Eterno, é cheio de graça; qual luz, ele é pleno de verdade. Importa notar que este versículo refuta plenamente a heresia sosiniana da simples humanidade de Cristo, segundo a qual Cristo não teria existido antes de ser concebido da virgem Maria.

Também da heresia ariana, a qual nega sua divindade, embora considerando-o como o primeiro e mais nobre de todos os seres criados, e o instrumento com o qual foi criado o universo. Este versículo ainda refuta as muitas outras heresias nascidas na igreja primitiva por não ter compreendido a união da natureza humana e divina da pessoa de Cristo.

Entre estas, notamos a dos docetos, os quais tendo a teoria dos guinósticos de quem se originam que o mal tenha por origem o centro da matéria, fugiam naturalmente da ideia de que o Filho de Deus houvesse tomado um corpo material e negavam a encarnação, sustentando que o corpo de Cristo não era uma realidade, mas uma sombra, uma aparência por ele tomada para satisfazer as funções da vida.

A heresia de Apolinário, que ensinava que Cristo assume somente o corpo humano no qual a divindade estava em lugar da alma. A heresia dos nestorianos, segundo os quais, havia em Cristo, não só duas naturezas, mas duas personalidades, uma divina, outra humana, cada uma das quais cumpria aqueles atos a que elas pertenciam e a teoria de Eutíquio, que ensinava serem as duas naturezas de Jesus tão intimamente unidas que formavam uma só, tendo os atributos de ambas.

Todas estas teorias são refutadas pela declaração do apóstolo: “E o Verbo se fez carne” pois, todos nós recebemos da sua plenitude, e graça sobre graça (Jo 1.16). Conforme assegura o apóstolo Paulo, em Jesus Cristo habita a plenitude de Deus (Cl 2.9). Isto significa que a inteira soma dos divinos atributos de Deus acha-se reunida em Cristo. Cristo é o dispensador da graça porque ele é pleno de graça (Jo 1.17).


Consultas:
POMMERENING, Claiton Ivan. A Obra da Salvação – Jesus Cristo é o Caminho a Verdade e a Vida. CPAD RJaneiro 2017
ALEXANDER, T.Desmond. Novo Dicionário de Teologia Bíblica. Editora Vida. SPaulo, 2009
GIOIA Egídio. Notas e Comentários à harmonia dos Evangelhos. JUERP. RJaneiro, 1981
RADMACHER. Earl D. O Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento. Ed Central Gospel, RJaneiro, 2010


quinta-feira, 5 de outubro de 2017

A Salvação na Páscoa Judaica - 08.10.17

Subsídios Teológicos e Bibliológicos para Estudo sobre:
A Salvação na Páscoa Judaica - 08.10.17
Texto Bíblico: Exodo 12.21-24,29
Por: Pr. João Barbosa
                                         
A Páscoa – O termo “Páscoa” vem da passagem do anjo de Javé sobre seu povo (Ex 12.13-17).

A última praga é a única na qual Israel tem de ser diferenciado dos egípcios; isso sugere que Israel não é intrinsecamente diferente do Egito e que o povo está tão sujeito a ser morto pelo destruidor como os egípcios (Js 24.14; Ez 20.7,8).
 No Antigo Testamento, o termo salvação, frequentemente, diz respeito à libertação da escravidão e à preservação da vida.

Os aspectos chaves do ritual da Páscoa são a morte do “cordeiro ou cabrito”, marcar com “sangue” os umbrais das portas e partilhar da carne.

As instruções especiais sobre o animal indicam que a Páscoa representa um sacrifício de expiação, a marca de sangue com hissopo sugere purificação (Ex 12.22; Lv 14.4-6; Sl 51.7), e os paralelos com as condições dos sacerdotes de Arão e as exigências de “circuncisão”, dão a entender um ato de consagração (Ex 29.20-34; Lv 8.23-32).

A Páscoa santifica todo o Israel para Deus (Ex 19.6).  O fato de os participantes comerem prontos para partirem ressalta a centralidade da Páscoa para a libertação de Israel (Ex 12.11).
É para lembrar esse acontecimento que a Páscoa deveria ser celebrada todo ano (Ex 12.14-20; 13.3-10; Dt 16.1-8).

A ênfase no primogênito é notável (Ex 13.2-15; 22.29b-30; 34.19; Nm 3.12,13,40-45; 18.15). Primeiro, a praga contra os egípcios é uma resposta à tentativa de faraó de destruir o primogênito de Javé, Israel (Ex 4.22).

Em segundo lugar, demonstra que somente Javé é o grande rei que cria e sustenta a vida. De acordo com as exigências de tributo, não só o primogênito de Israel, tanto humano quanto animal, pertencia a Javé, mas Israel é também as primícias da colheita de Javé (Jr 2.3; Gn 4.3,5).

Em terceiro lugar, a ligação com a entrada na terra que simboliza o Éden lembra a Israel que sua herança depende da lealdade a Javé (Ex 13.5, 11-16). Javé, ao deserdar o faraó “cainita” e depois os amorreus, em favor de seu primogênito, Israel, declara que somente como filho fiel Israel herdaria o mundo dele.

O Cordeiro de Deus – Duas vezes, no NT, Jesus é chamado o Cordeiro de Deus e, em cada ocasião, por João Batista (Jo 1.29,35). A palavra amnos (“cordeiro”) é achada também em At 8.32, 1Pe 1.19, e na versão da Lxx de Is 53.7.

Esta última referência sugere Is 53 como o contexto imediato para a declaração de João Batista a respeito de Cristo, o Messias, como o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. A citação que João Batista extraiu de Is 40 no dia anterior demonstra que tais passagens de Isaias estavam na sua mente.

Antes da polêmica dos comentaristas judaicos contra os cristãos, que os levou a procurarem outra explicação, o cordeiro em Is 53 era identificado como o Messias como servo de Deus. Esta identificação de Jesus, o Messias, com o Cordeiro de Deus era algo certo para João Batista (Jo 1.20, 23, 29).

O uso do genitivo de posse – o Cordeiro de Deus – relaciona Cristo com Deus de modo específico no ato de carregar os pecados. Ele é, ao mesmo tempo, a vítima sacrificial apresentada a Deus como também a vítima providenciada por Deus.

Neste relacionamento, Ele carrega o pecado do mundo e remove-o ao tomá-lo sobre Si. Assim como em Is 53, vai “sobre ele a iniquidade de nós todos”, quando “como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha, muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca”.

Alguns estudiosos preferem ver o cordeiro pascal de Ex 12 como o pano de fundo dessas palavras de João Batista, pela razão de não haver implicações expiatórias, ao passo que outros rejeitam a referência pelos mesmos motivos.

Não fica claro, no entanto, que o sacrifício pascal não tenha um caráter expiatório levando-se em consideração a declaração de Ex 12.13: “O sangue vos será por sinal... quando eu vir o sangue, passarei por vós”.

O sacrifício pascal é básico para todo o sistema sacrificial. Há, portanto, bons motivos para aceitar como certa a identificação pascal, visto que, quando João Batista falou, a Páscoa não estava longe (Jo 2.12,13), e nosso Senhor mais tarde foi identificado com ela (Jo 19.36; 1Co 5.7).

As duas figuras, a de Is 53.7 e a de Ex 12, unem-se, por consequência, na designação. Não são contraditórias mas complementares. “Todas as declarações no NT a respeito do cordeiro de Deus são derivadas desta profecia (Is 53.7), em que a figura silenciosa da Páscoa agora encontra expressão” (A.F.Delitzsch).

Todas as ideias da figura do cordeiro que foram sendo acumuladas no decurso da revelação progressiva do AT podem realmente fazer parte do conceito segundo ele ocorre no NT. Em Gênesis há a necessidade do cordeiro – Abel trouxe as primícias do seu rebanho (Hb 9.22); em Êxodo, há a eficácia do cordeiro – as ombreiras das portas aspergidas com sangue (Ap 7.14; 1Pe 1.12).

Em Levítico, a pureza do cordeiro – sem mácula (1Pe 1.19); em Isaias, a personalidade do cordeiro – “Ele”, o Cordeiro, como o Servo do Senhor (Jo 1.29; Ap 5.12,13). Em nenhum lugar portanto, a figura sugere simplesmente a “mansidão e benignidade de Cristo” (2Co 10.1); sempre traz consigo um sentido sacrificial (Ap 5.6;12; 13.8).

No Apocalipse, a simples designação “cordeiro” (amion) ocorre oito vezes numa referência simbólica a Cristo e reúne as ideias de redenção e dignidade real.

De um lado há declarações como: o cordeiro que foi morto (Ap 5.6,12); aqueles que “lavaram suas vestiduras, e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7.14); “eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram” (Ap 12.11).

“Somente os inscritos no livro da vida do Cordeiro” (Ap 21.27). A ênfase aqui recai sobre a obra redentora de Cristo como o Cordeiro de Deus. Por outro lado, está em ligação com este título a ideia de soberania.

É o Cordeiro que foi morto que tem o poder de tomar o livro e abrir os seus selos (Ap 5,6,7); há referência a ira do Cordeiro (Ap 6.16); o Cordeiro é encontrado no meio do trono (Ap 7.17); o trono no céu é o trono de Deus e do Cordeiro (Ap 22.1-3).

Os ímpios pelejam contra o Cordeiro, mas o Cordeiro é vitorioso (Ap 17.14). No termo geral, “cordeiro”, portanto, duas ideias se unem: poder vitorioso e sofrimento vicário. No âmago da soberania de Deus está o amor sacrificial (H. D. McDONALD).

Aspectos sacrificiais do sangue – Levítico 17.11 é a declaração central do AT com respeito ao significado do sangue no sistema sacrificial, e aquilo que está asseverado ali continua sendo verdadeiro em todos os regulamentos para os sacrifícios individuais.

(1) O sangue do sacrifício é uma provisão divina: “Eu vo-lo tenho dado”. Esta declaração contraria qualquer teoria de sacrifício que vê nele uma dádiva humana que tenha o propósito de atrair ou despertar o favor humano.

(2) O uso do sangue no sacrifício é um ato de pagamento: para fazer expiação. O significado do sangue deve ser apropriado à função que realiza. O verbo (kipper) deriva o seu significado do substantivo correlato (koper), preço da redenção (Ex 21.30; 30.12; Jó 33.24).

Significa pagar qualquer preço que se equipara ao delito (e o cancele). Se o sangue paga o preço, logo, o seu significado não é, conforme sustentam muitas pessoas, a vida liberada da carne e tornada disponível para se tornar, de algum modo, uma dádiva de Deus, mas uma vida confiscada ou entregue como pagamento pelo pecado.

“A vida da carne está no sangue” no sentido comum de que a carne e o sangue perfazem um ser vivente ou uma criatura vivente, ao passo que a separação entre a carne e o sangue significa a morte da criatura. Sendo assim no uso bíblico secular, derramar o sangue é matar (Gn 9.6).

(3) O derramamento do sangue do sacrifício é um ato vicário de substituição: a oração final de Lv 17.11 deve ser traduzida ou: o sangue “fará expiação à custa da vida” (vida do animal), ou fará expiação em lugar da vida (a vida do pecador).


Consultas:
POMMERENING, Claiton Ivan. A Obra da Salvação – Jesus Cristo é o Caminho a Verdade e a Vida. CPAD RJaneiro 2017
ALEXANDER, T.Desmond. Novo Dicionário de Teologia Bíblica. Editora Vida. SPaulo, 2009

RADMACHER. Earl D. O Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento. Ed Central Gospel, RJaneiro, 2010