O
Menino Samuel.2
Texto Bíblico: 1Samuel 1.20-28
Por: Pr. João
Barbosa
Elcana era um levita que vivia nos montes de
Efraim. Embora fosse homem de grande riqueza e influência era um dos que temia
ao Senhor naqueles tempos de decadência espiritual em Israel. Sua esposa, Ana,
era uma mulher piedosa e fervorosa, meiga e humilde. Seu caráter se distinguia
por um grande ardor e fé elevada.
A bênção tão ansiosamente buscada por todo
hebreu era negada a esse bom casal. Seu lar não se alegrava com vozes infantis
e o desejo de perpetuar seu nome levou Elcana assim como já havia levado muitos
outros hebreus a contrair um segundo matrimônio. Mas este passo, motivado pela
falta de fé em Deus, não trouxe a felicidade.
Filhos e filhas foram acrescentados à casa de
Elcana; mas a alegria e a beleza da sagrada instituição matrimonial instituída por
Deus foram manchadas, e a paz na família fora interrompida. Penina, a nova
esposa era ciumenta e dotada de espírito mesquinho, e conduzia-se com orgulho e
intolerância para com aquela que ela considerava sua rival. Para Ana, a
esperança parecia estar destruída, e a vida tornara-se um fardo pesado. Enfrentou,
todavia, a prova com resignada mansidão.
O COSTUME DA POLIGAMIA – A poligamia era um costume social aceito por
todo o Oriente Médio. Também era uma prática comum entre os antigos israelitas.
Embora possa parecer que a poligamia se desvia da concepção original de Deus
para o casamento, (como ilustrado em Gn 2.24), a prática era permitida segundo
a lei de Deus, particularmente nos casos de primeiro casamento sem filhos, ou
em casamentos leviratos (Dt 25.5-10).
No antigo Israel, a ausência de filhos era
considerada uma tragédia na família, por várias razões. Numa cultura agrária,
filhos era o necessário para ajudar no trabalho do dia a dia. Sem eles,o nome
da família não seria preservado. E sem um herdeiro a família não poderia manter
o seu espaço na tribo.
Finalmente, uma mulher sem filhos, jamais seria
mãe ou o ancestral do prometido messias (Gn 3.15). Então Elcana vendo que os anos
passavam e Ana não lhe dava filhos, tomou uma segunda esposa, Penina, por uma
razão que era legítima no mundo antigo: Sua esposa Ana era estéril. Naquele
tempo, a responsabilidade por não haver crianças era atribuída a mulher, e a
esterilidade da mulher, era frequentemente causa de divórcio. Embora a poligamia
fosse um costume aceito, a lei de Deus estabelecia regras contra o casamento com
muitas mulheres (Dt 17.17).
Além disso, as Escrituras registram os
resultados trágicos da poligamia: que eram famílias divididas e turbulentas. Elcana
observava fielmente as ordenanças de Deus. O culto em Siló ainda era mantido apesar
do descaso dos sacerdotes. Por essas irregularidades no ministério, os serviços
de Elcana no tabernáculo não eram exigidos, pois, sendo ele levita, deveria
comparecer ao santuário.
Contudo, anualmente Elcana subia com sua família
para adorar e sacrificar nas reuniões no tabernáculo. Mesmo entre as
solenidades sagradas ligadas ao serviço de Deus havia influência de mal espírito
que infelicitava o lar de Ana e Elcana. Depois de apresentarem as ofertas em ações
de graças, toda família, segundo o costume estabelecido, unia-se em uma festa
solene e prazenteira. Em tais ocasiões Elcana dava à mãe de seus filhos,
(Penina), uma porção, para ela e para cada um dos filhos e filhas; mas em sinal
de atenção para com Ana, dava-lhe uma porção dupla, significando que sua afeição
por ela era a mesma que se ela tivesse um filho.
Então a segunda esposa, ardendo em ciúmes,
reclamava a preferência, como sendo ela altamente favorecida por Deus, e
escarnecia de Ana em sua condição de mulher destituída de filhos, como prova do
desagrado do Senhor.
Isto se repetia de ano em ano, até que Ana não pode mais suportar. Incapaz de
ocultar sua mágoa, chorou sem constrangimento e retirou-se da festa. Elcana,
seu marido procurou consolá-la. “Porque choras? Dizia Elcana. E porque não
comes? E porque está mal teu coração!. E disse ele; Não te sou eu melhor de que
dez filhos”?( 1Sam 1.2-11). Ana não proferiu censura alguma. O fardo que ela não
podia repartir com amigo algum terrestre, lançou sobre Deus. Ansiosamente rogou
que lhe tirasse a ignomínia e lhe concedesse o precioso dom de ter um filho e
educar e o criar para Deus.
E fez um voto solene de que, se seu pedido
fosse satisfeito, dedicaria o filho a Deus mesmo desde o seu nascimento. Ana
tinha se aproximado da entrada do tabernáculo. E na angústia do seu espírito “orou,
e chorou abundantemente”.
Contudo, mantinha em seu silencia comunhão com
Deus, não proferindo nenhuma palavra. Naqueles tempos de decadência espiritual,
cenas de adoração eram raramente testemunhadas. Festins irreverentes, e mesmo embriagues, era coisas
comuns, mesmo nas festas religiosas. E Eli, o sumo sacerdote, observando Ana,
supôs que estivesse dominada pelo vinho.
Disse com severidade a Ana “Ate quando estarás
tu embriagada? Aparta-te do teu vinho. Surpreendida com a repreensão do sacerdote,
Ana respondeu com brandura: “Não Senhor meu, eu sou uma mulher atribulada de
espírito. Nem vinho nem bebida forte tenho bebido. Porém tenho derramado a
minha alma perante o Senhor. Não tenhas pois, a tua serva por filha de Belial. Porque
da multidão dos meus cuidados e dos meus desgostos tenho falado até agora. Então
o sumo sacerdote ficou profundamente comovido com s resposta de Ana, pois, era
homem de Deus; e em lugar de repreençao proferiu uma benção: Vai em paz: e o
Deus de Israel te conceda a tua petição que lhe pedistes.
A oração de Ana foi atendida; e recebeu a dádiva
que tão fervorosamente havia rogado. Olhando para o filho, chamou-o Samuel – “porque
dizia, a Deus o tenho pedido”. Logo que o pequeno Samuel teve idade suficiente
para separar-se de sua mãe. “Isso só podia acontecer depois que o menino fosse desmamado
entre dois e três anos de idade. Ela cumpriu seu voto.
Amava o filho com toda devoção de um coração
de mãe, dia após dia observando suas faculdades infantis sigia-o estreitamente
em suas afeiçoes. Era seu único filho, uma dádiva especial do céu; mas
recebera-o como um tesouro consagrado a Deus, e não queria privar o doador
daquilo que lhe era próprio.
Mais uma vez Ana viajou com o esposo para Siló
e apresentou ao sacerdote, em nome de Deus, sua preciosa dádiva, dizendo: “por
este menino orava eu”; e o Senhor me concedeu a minha petição que eu lhe tinha
pedido. Pelo que também ao Senhor eu o entreguei por todos os dias em que
viver.
Eli ficou profundamente impressionado com a fé
e devoção daquela mulher de Israel. Ele próprio, pai, por demais condescendente,
ficou atemorizado e humilhado vendo o grande sacrifício de uma mãe,
separando-se do seu único filho, para que o pudesse dedicar ao serviço de Deus.
Sentiu-se reprovado pelo seu amor egoístico e
com humilhação e reverência prostrou-se perante o Senhor e o adorou. O coração
da mãe encheu-se de alegria e louvor, e ela almejava extravasar sua gratidão a
Deus. O espírito de inspiração lhe sobreveio e orou ana e entoou um cântico ao
Senhor (1Sm 2.1-11).
As palavras de Ana em seu cântico eram proféticas,
tanto a respeito de Davi que reinaria como rei de Israel, como do Messias, o
ungido do Senhor. Referindo-se a princípio a jactância de uma mulher insolente
e contenciosa, o seu cântico aponta para a destruição dos inimigos de Deus e o
triunfo final do seu povo remido. De Siló, Ana voltou silenciosamente para o seu
lar em Rama, deixando o menino Samuel para ser educado para o serviço da casa
de Deus sobre a instrução do sumo sacerdote.
Consultas:
ELWELL
Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológico da Igreja Cristã. Editora Vida Nova.
S Paulo 2009
WHITE.
Ellen G. Patriarcas e Profetas. Edit. Casa Publicadora Brasileira, Santo André,
SPaulo, 1976
RADMACHER
Earl D. O Novo Comentário Bíblico – Antigo Testamento com recursos adicionais.
Editora central Gospel. RJaneiro, 2010
WALTON
John H. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia
- Antigo Testamento. Editora Vida Nova. São Paulo, 2018
CHAMPLIN.
Antigo Testamento Interpretado Versículo por versículo. Vl 2. Editora Hagnus. São Paulo, 2012